José Paulo Kupfer

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Opinião

Prévia mostra freada do PIB e aciona revisão do crescimento para baixo

Sinais de desaceleração já haviam sido captados desde as surpresas das alta do PIB (Produto Interno Bruto), nos dois primeiros trimestres de 2023. Com a divulgação, nesta sexta-feira (17), do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica, calculado pelo Banco Central), de setembro, vai ficando cada vez mais claro que o ritmo de atividades na economia deu uma esfriada forte na segunda metade do ano.

De acordo com o IBC-Br, uma medida mensal, que tenta aproximar a evolução da atividade, principalmente com base em dados setoriais, a economia ficou estável em setembro (o indicador indicou um ligeiro recuo de 0,1% sobre o mês de agosto). O resultado ficou abaixo das estimativas e configurou queda de 0,6% no trimestre julho-setembro.

Expansão de 3% passou a ser teto

De posse dos números do IBC-Br de setembro, estão sendo promovidas revisões para baixo do PIB em 2023. A consultoria MCM, uma das maiores e mais influentes do mercado, por exemplo, passou a projetar queda de 0,2% no PIB do terceiro trimestre. Essas projeções estão próximas de outras, que também apontam estabilidade no quarto trimestre. Os números da evolução do PIB, entre julho e setembro, devem ser divulgados pelo IBGE no começo de dezembro.

A virtual parada da economia, no segundo semestre de 2023, pode levar a cortes nas projeções de crescimento para o ano, atualmente em torno de 3%. Antes da divulgação do IBC-Br de setembro, O Boletim Focus estava prevendo alta de 2,89% para o PIB em 2023, enquanto o Banco Central estima crescimento de 2,9% e o ministério da Fazenda, 3,2%.

Acelerar corte dos juros volta ao radar

O avanço em 2023 será uma herança do salto na produção agropecuária no primeiro trimestre, e da indústria extrativa, com concentração em petróleo e minério de ferro, no segundo trimestre. A expansão também terá a contribuição do reforço de políticas sociais, como são os casos do Bolsa Família e dos reajustes do salário mínimo, além de outros programas como o Desenrola e o dos "carros populares".

De outro lado, a freada projetada começou a alimentar a ideia de que o Banco Central poderia acelerar os cortes da taxa básica de juros (taxa Selic). O atual passo anunciado de cortes é de as reduções dos juros básicos se mantenham no ritmo de 0,5 ponto percentual, nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), até fechar 2024 com a Selic, conforme projeções, entre 9,25% e 10,75% nominais ao ano. Mas, depois da desaceleração prevista para a atividade, cresceram as opiniões de que a política de juros pode afrouxar mais e mais rápido.

Agro, de herói a vilão

Nas projeções do PIB para o terceiro trimestre, curiosamente, o agro, aquele setor que catapultou a economia no começo do ano, desponta como o vilão do período, seguido pela construção civil. A indústria, com nova contribuição da extrativa mineral, e complemento dos serviços de utilidade pública (água, gás, energia), daria contribuição positiva. Já os serviços teriam, segundo as projeções, ficado no zero a zero.

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O consumo das famílias, segundo previsões confiáveis, registraria avanço positivo em torno de 0,5%, no terceiro trimestre, em relação ao segundo, mas em desaceleração na comparação com o segundo trimestre. Já o investimento se sairá melhor no terceiro trimestre, na comparação com o período abril-junho, mas o destaque, nas mesma comparação, ficaria com as exportações, com expansão de mais de 3%, depois de avançar 2,9%, no segundo trimestre.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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