José Paulo Kupfer

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Opinião

Após remarcações em outubro, Black Friday pode aliviar inflação em novembro

Com variação mensal de 0,62% em novembro, o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado entre os dias 16 do mês anterior e 15 do mês em curso, registrou alta bem acima das expectativas, que giravam em torno de uma elevação de 0,5%.

No ano, o IPCA-15 avançou 4,35%, chegando a 4,8%, no acumulado em 12 meses, acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas de inflação, que é de 4,5%.

Uma das principais causas do desvio foi a alta das passagens aéreas no período. Item volátil e que não entra nas medidas estruturais de inflação, as passagens aéreas subiram 22,6% no IPCA-15 de novembro, quando as expectativas eram de que não avançassem mais de 5%.

Alimentação em alta

Isso não quer dizer que a inflação, em novembro, ficou bem comportada, quando excluído o forte desvio de passagens aéreas.

Essa alta é maior do que a registrada em novembro de 2023, tendo sido impulsionada também por variações de preços de produtos e serviços com peso alto no coração da estrutura de preços do IPCA.

É o caso da alimentação, cujos preços subiram 1,34%, com destaque para a alimentação no domicílio, com alta de 1,65%, puxados por carnes (mais 7,6% no período).

Mesmo com passagens aéreas representando 14 pontos dos 62 pontos de avanço do IPCA-15 em novembro, alimentação no domicílio e serviços responderam para mais de 80% da alta geral do índice.

Black Friday

O IPCA cheio de novembro, que agregará a evolução dos preços na segunda quinzena do mês, deve vir bem abaixo da "prévia" indicada pelo IPCA-15. As projeções avançaram de 0,2%, antes dos resultados do IPCA-15 de novembro, para um pouco acima de 0,3%.

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Parte do recuo se deverá, de acordo com as projeções, a descontos da Black Friday, que são concedidos ao longo do mês de novembro, mas com intensificação na sua segunda metade.

Levantamentos de Fábio Romão mostram que desde 2010, com maior disseminação a partir de 2014, a variação de preços, principal no grupo de artigos de residência, mas também em vestuário e higiene pessoal, apresenta queda em novembro, na comparação com outubro.

Artigos de residência, não por coincidência é o grupo que engloba eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, mobiliário, som, TV e informática. Com algumas poucas exceções, os preços de produtos desses itens caem em novembro, depois de subir em outubro, em relação a setembro.

As curvas das variações de preços desses itens ao longo dos anos não permitem concluir que a Black Friday possa ser classificada como "black fraude". Não se pode, à luz dos dados, inferir que, na pesada promoção comercial de novembro, pratica-se, no comércio, "o dobro pela metade do preço". Mas, sim, são frequentes as remarcações em outubro, antecedendo descontos em novembro.

No caso de eletrodomésticos, segmento em que há proliferação de ofertas Black Friday, por exemplo, a mediana da variação de preços entre 2014 e 2023, aponta alta de 0,13% em setembro, saltando para 0,88% em outubro e recuando para 0,16% em novembro.

Projeções para dezembro

Projeções para a inflação de dezembro se situam entre 0,5% e 0,6%. Com a perspectiva de que em novembro o IPCA cheio fique nas vizinhanças de 0,3%, o ano de 2024 terminaria, caso estas previsões se confirmem, com inflação em 4,8%, exigindo nova carta pública do Banco Central explicando as razões do estouro do teto do sistema de metas.

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Os sinais da marcha da inflação na virada do ano são de pressões inflacionárias em grupos sensíveis e com forte peso no IPCA, caso dos alimentos, e de alguns serviços.

Por isso, entrou no radar dos analistas a expectativa de que o Copom (Comitê de Política Monetária) avance, na reunião de dezembro, de elevação de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (taxa Selic), como indicado depois da decisão de novembro, para 0,75 ponto.

Se o Copom acelerar o passo, a taxa básica pode terminar 2024 em 12% ao ano, acima da atual previsão de alta 11,75%, e quase certamente com extensão do ciclo de alta em 2025, talvez até 13% ou mesmo 13,5%, contra a atual estimativa de Selic de 12,25% no fim do ano que vem.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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