José Paulo Kupfer

José Paulo Kupfer

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Alívio da inflação em novembro é passageiro; ano terminará com 5% de alta

A inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), recuou em novembro, na comparação com outubro. Mas menos do que se esperava. A média das projeções sinalizava alta de 0,36% (contra 0,56% no mês anterior), veio 0,39%.

Esse alívio não fez com a curva mais relevante, a da inflação acumulada em 12 meses, também mostrasse alívio. Em 12 meses, o IPCA avançou 4,84%, acima dos 4,6% de outubro.

Alívio passageiro

É provável também que tenha sido um alívio passageiro. Para dezembro, as previsões são de alta nas vizinhanças de 0,7%, o que, se confirmadas, levariam a inflação de 2024 a fechar em 5%.

Altas fortes, acima de 20%, em um item muito volátil — passagens aéreas — ajudaram a fazer a inflação em novembro subir alguns pontinhos. Sem essa influência, o IPCA do mês passado teria subido 0,28%, menos 11 pontos percentuais do que o registrado. Ainda assim, o acumulado em 12 meses avançaria no mesmo ritmo de outubro, a 4,6%.

A inflação de novembro foi ainda impactada, negativamente, pelo aumento da alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) incidente sobre cigarros. Os preços do cigarro subiram de 0,7% em outubro para 1,43%, em novembro.

Alimentos ainda em alta

Mas o que conta é que a alta dos preços dos alimentos, que já vinha ocorrendo, deu uma esticada em novembro. Se o grupo Alimentação tinha avançado 1,06% em outubro, o ritmo de alta chegou a 1,55%, em novembro. No caso das carnes, cujos preços subiram 8% em novembro, e de alguns alimentos industrializados, a alta do dólar é parte da explicação.

Perspectivas são de novas altas em alimentos, no mês de dezembro. Nas projeções de Fábio Romão, economista responsável pelo acompanhamento de preços na LCA Consultores, a expectativa de alta para os preços dos alimentos no domicílio em dezembro é de 1,7%. Trata-se de elevação em ritmo quase o dobro da registrada na mediana dos últimos dez anos, de 2014 a 2023.

Pressão em serviços

Serviços também subiram de modo relevante. No conjunto, a alta foi de 0,83%, acelerando bem em relação a outubro, quando se conteve numa subida de 0,35%. Na contabilização do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, 59 dos 68 subitens do grupo dos serviços, na cesta do IPCA, tiveram alta em novembro, com disseminação inclusive entre os serviços subjacentes, aqueles menos influenciados por movimentos sazonais.

Continua após a publicidade

É um reflexo do mercado de trabalho aquecido, e da economia também aquecida, já com a capacidade instalada de produção ocupada, que impediria o aumento da oferta diante das pressões de demanda.

No geral, embora tenha desacelerado em relação ao mês anterior, a inflação de novembro sinaliza pressões inflacionárias ainda por um tempo à frente.

Um dos fatores que justificam a afirmativa pode ser localizado na média da marcha dos núcleos de inflação. No acumulado em 12 meses, a média dos núcleos subiu 4,2%. Na variação trimestral anualizada, a alta a média dos núcleos escalou para alta de 5,4%. um ponto percentual acima da alta de outubro, nesta mesma métrica. Romão, da LCA, projeta alta da média dos núcleos acima dos mesmos meses dos anos anteriores em dezembro de 2024, janeiro e fevereiro de 2025. Os núcleos medem a variação de preços sem a influência de itens com variações sazonais, de alta ou baixa, mais fortes e de fatores inesperados e pontuais.

Descompressão em 2025

De acordo com as projeções do economista, a inflação registrará pequena descompressão em 2025. Depois da elevação perto de 0,7% em dezembro, o novo ano deve começar com deflação em janeiro, mas logo a variação de preços dará um salto, com alta próxima a 1,5% em fevereiro.

Terreno bem adubado para uma alta de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (taxa Selic) nesta quarta-feira (11), encerrando 2024 com juros em 12% ao ano, e para uma extensão do ciclo de altas dos juros, no primeiro semestre de 2025.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.