Inflação baixa em janeiro é ponto fora da curva e esconde preços em alta
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A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em janeiro, confirmou o que sinalizava a prévia do IPCA-15 do mês. A variação dos preços entre janeiro e dezembro registrou forte redução, mas esse fato se deveu a fatores pontuais. É esperado repique, igualmente forte, em fevereiro.
Com avanço de 0,16%, o IPCA de janeiro foi o mais baixo para o mês desde a implantação do Plano Real, em 1994. Um desconto nas tarifas de energia, em razão de um bônus de resultado da usina de Itaipu, distribuído a 80 milhões de consumidores, explica a redução no ritmo da inflação, no primeiro mês de 2025.
No acumulado em 12 meses, a inflação recuou de alta de 4,83%, em dezembro, para 4,56%, em janeiro, no limite do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas. Porém, estimativas apontam alta próxima de 1,5% na inflação de fevereiro, com o acumulado em 12 meses superando 5%. Devolução do bônus de Itaipu e aumentos de preços sazonais em Educação devem puxar o índice para cima.
Embora seja esperado alívio na inflação mensal, a partir de março, com o IPCA subindo abaixo de 0,5%, nos demais meses de 2025, a composição do acumulado em 12 meses aponta altas acima de 5,5% até o fim do ano.
A expectativa é de que, em junho, a inflação em 12 meses se mantenha acima do teto de tolerância do novo sistema de meta contínua, com centro em 3% e limite em 4,5%, obrigando então o Banco Central a divulgar carta aberta ao ministro da Fazenda, explicando as razões do estouro e apontando caminhos para conter a alta de preços.
Projeções apontam que a inflação, em junho, estaria rondando 6%, mantendo-se apenas um pouco abaixo desse nível, a cada mês, até o fim do ano.
Grupos sensíveis de preços no IPCA, caso da alimentação e dos serviços, continuam pressionados. Em alimentação, o menor ritmo de alta nos preços da carne e de grãos não conseguiu compensar as altas nos produtos "in natura", cujos preços costumam subir no começo do ano, por causa das chuvas.
A alta da alimentação no domicílio, em relação a dezembro, passou de 1%. A tendência, com a boa safra de grãos, é de algum alívio na inflação de alimentos, mas não em magnitude expressiva. De mais de 8% de alta em 2024, preços de alimentos devem subir em torno de 6%, em 2025.
Nas projeções do economista Fábio Romão, especialista em acompanhamento de preços da consultora LCA 4intelligence, que costumam se aproximar do que ocorre na realidade, a inflação de alimentos em 2025 apresentará três fases:, para fechar o ano com alta de 6,5%
Uma primeira, de fevereiro a abril, deverá registrar altas mensais de preço em torno de 0,7%;
A segunda, vai da estabilidade na inflação mensal (prevista para junho) a 0,3%, entre maio e a setembro;
No último trimestre do ano, os preços dos alimentos em domicílio voltariam a subir entre 0,5% e 0,8% ao mês.
Nos serviços, a pressão revelada pelo IPCA de janeiro foi ainda mais forte. Especificamente nos chamados "serviços subjacentes", o núcleo que não leva em consideração aqueles itens mais voláteis, inesperados ou sazonais, a inflação em janeiro registrou alta de 0,86%, acelerando em relação a dezembro.
Os núcleos de inflação — medidas que não incorporam variações sazonais ou inesperadas de preços — confirmam a manutenção de pressões de alta sobre o IPCA. A média dos núcleos subiu 0,53% em janeiro e 4,51%, em 12 meses.
A média trimestral dessazonalizada e anualizada, métrica muito usada por analistas para medir a temperatura da inflação, subiu 6,1%, em janeiro, acima da alta de dezembro. Na mesma métrica, o núcleo dos serviços avançou para mais de 7,5%, em janeiro.
No conjunto, as pressões inflacionárias têm origem em três fatores principais: choque de alimentos, depreciação cambial, e atividade econômica aquecida, esta influenciando mais diretamente os preços dos serviços.
O IPCA de janeiro traz indicação firme de que a marcha das altas das taxas básicas de juros, definidas pelo Copom (Comitê de Política Monetária), prosseguirá na reunião de março, com chances agora maiores de se estender por pelo menos até fins do primeiro semestre.