Prévia da inflação assusta; o que esperar para o resto do ano?
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Seguindo uma antiga lenda brasileira, assim como o ano efetivamente só começa depois do Carnaval, a inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em 2025, só deve seguir um curso "normal" depois da folia a partir de março.
O resultado do IPCA-15 de fevereiro, divulgado pelo IBGE nesta terça-feira (25), ainda está contaminado por fatores não recorrentes e pontuais. O índice, que em geral antecipa a inflação cheia do mês, apurado do dia 16 do mês anterior ao dia 15 do mês corrente, avançou em fevereiro robustos 1,23%, em comparação com janeiro, quando a inflação mensal, medida pelo IPCA cheio, ficou em 0,16%, a menor para o mês desde 1995, já sob o Plano Real. Mas não há no horizonte novos eventos do tipo.
Previsões para o IPCA cheio de fevereiro estão um pouco acima da variação registrada no IPCA-15. A tendência é de alta de 1,3% no mês.
A alta modesta de janeiro se deveu, em parte a um bônus de Itaipu, transferido a 75 milhões de contas de energia elétrica. A alta forte de fevereiro se explica pela reversão das tarifas de energia muito baixas de janeiro. Também pesaram no IPCA-15 de fevereiro as altas de preços em Educação, uma pressão sazonal, típica de fevereiro, e perfeitamente previsível.
Não se deve esperar, contudo, alívio muito expressivo na marcha da inflação, depois que a trajetória de alta dos preços entrar numa etapa de "normalidade".
Mesmo com a variação mensal do IPCA rodando, de março a dezembro, em torno de 0,5%, as perspectivas são de que a inflação feche 2025 com alta nas vizinhanças de 5,5%, acima dos 4,83% de 2024, e superando novamente o teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, que é de 4,5%, para um centro de 3%.
Já estão consideradas, nestas estimativas, a possibilidade de o governo procurar reverter a tendência de desaceleração da atividade com medidas de estímulo ao consumo. Este é o caso, por exemplo, da ampliação do crédito consignado para todos os trabalhadores do setor privado.
Gangorra no preço dos alimentos
Má notícia é que, no caso dos alimentos, as projeções estão apontando que os preços, em seu conjunto, cederão pouco em 2025, em relação à alta de 2024. Apesar das boas safras previstas, se, no ano passado, os preços dos alimentos no domicílio subiram 8%, previsões são de alta de 7,5%, em 2025.
Nas estimativas de Fábio Romão, economista da LCA 4 intelligence com grande experiência em acompanhamento de preços, a inflação de alimentos no domicílio, na medição do IPCA, poderá atingir um pico próximo de 10% no acumulado em 12 meses, justamente quando as variações mensais serão mais baixas, por volta de 0,2%, em julho e agosto.
"Destacamos a ligeira desaceleração projetada para Alimentação no domicílio (de +8,2% para +7,3%), por conta de boas safras em algumas commodities, bem como descompressão em in natura, o que aponta algum alívio no atacado agropecuário que poderá desaguar no varejo". Fábio Romão, economista da LCA 4intelligence, em relatório a clientes
Efeitos defasados da desvalorização do real ante o dólar no ano passado, estão agora aparecendo nos preços de bens industriais. Já em fevereiro, os preços de veículos, tanto novos quanto usados, subiram, assim como os de aparelhos eletrônicos.
Altas em preços de bens industriais também são explicadas pelos impulsos na demanda ainda resultado do aquecimento da economia até o terceiro trimestre de 2024 e a consequência baixa taxa de desemprego. Embora a tendência seja de alguma descompressão, com atividade menos acelerada e crédito mais escasso, afetados pelas taxas de juros mantidas elevadas, serviços continuarão com preços pressionados, pelo menos no primeiro semestre de 2025.
Em fevereiro, mais uma vez afetados pelos preços voláteis de passagens aéreas (desta vez, para baixo), preços de serviços avançaram 0,68%, abaixo de 0,85%, em janeiro. Também a média dos núcleos de inflação — medida mais estrutural da variação de preços — recuou ligeiramente no IPCA-15 de fevereiro sobre janeiro, com alta de 0,61%.