José Paulo Kupfer

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Opinião

Alta forte do PIB em 2024 cobrará preço sob forma de desaceleração em 2025

Depois de crescer 3,2% em 2023, a economia brasileira engatou alta ainda mais forte em 2024, com expansão do PIB (Produto Interno Bruto) de 3,4% sobre o ano anterior, conforme divulgou o IBGE nesta sexta-feira. Esse avanço se deveu ao bom desempenho da indústria e dos serviços, refletindo o também bom desempenho do consumo das famílias e do investimento.

Foi um ano em que a agropecuária sofreu com os efeitos de uma seca prolongada e abrangente e acabou registrando recuo ante o ano anterior, tirando alguns pontos do PIB de 2024. Mas o mercado de trabalho aquecido, juntamente com programas sociais, produziu massa de renda suficiente, para, com apoio da expansão do crédito, impulsionar a atividade.

Baseado em impulsos fiscais, numa economia que carrega um acúmulo de dívidas públicas e enfrenta surtos de valorização do dólar ante o real, esse crescimento alto cobrou um preço também elevado sob a forma de pressões inflacionárias.

O combate a essas pressões, com o Banco Central iniciando um ciclo forte de alta de juros básicos e o governo moderando a política fiscal, se refletiu em freios à atividade, com redução no ritmo de expansão da economia já partir do segundo semestre. O resultado contratado será uma redução do ritmo de crescimento em 2025, quando o governo espera expansão de 2,5% e os economistas do mercado não mais do que 2%.

Freada no fim do ano

Depois de crescer 0,9%, no terceiro trimestre de 2024, já uma redução ante a expansão de 1,4%, no segundo trimestre, a economia avançou apenas 0,2%, nos últimos três meses do ano. Projeções são de uma retomada, no primeiro trimestre de 2025, com crescimento em torno de 1% sobre o último trimestre do ano passado, em razão da boa safra agrícola que está sendo colhida. Mas, daí em diante, a marcha da atividade seria descendente, com risco de recuo, na comparação trimestral, na segunda metade do ano.

Se houve erro feio nas previsões do setor privado, no início de cada ano, em relação à variação do PIB em 2023 e 2024 — de 0,8% para 3,2%, no primeiro, e de 1,5% para 3,4%, no segundo —, não são esperadas novas surpresas positivas em 2025.

Expansão acumulada forte

Confirmado um crescimento de 2% neste ano — o viés é de baixa entre os analistas do mercado —, a economia terá mostrado uma força que não se esperava, nos três primeiros anos deste atual governo Lula. A expansão acumulada, no período, chegaria perto de 9%, média anual de 3%, coisa meio rara na economia mundial.

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Efeitos defasados da política de juros e constrangimentos, inclusive políticos, na política fiscal cuidarão de conter a atividade, com o objetivo de aliviar a inflação. Estímulos com origem em medidas de expansão da demanda podem operar para mitigar a freada.

A lista dessas medidas inclui, além do reajuste real do salário mínimo, a isenção do Imposto de Renda até R$ 5.000 mensais, se aprovada no Congresso, assim como a possibilidade de resgate do Fundo de Garantia, para quem optou pelo "saque-aniversário", e, principalmente, a ampliação do crédito consignado para todos trabalhadores formais do setor privado podem operar para mitigar a freada.

Consumo e investimento mais fracos

Da mesma forma que puxou o crescimento em 2024, o investimento murchará em 2025. A atividade aquecida e o crédito, só negativamente impactado com reversão para cima do ciclo de estabilidade dos juros básicos, estimularam a construção civil e o mercado de máquinas, tanto o doméstico quanto o de importados. Com esses motores, o investimento avançou 7,3% em 2024, mas as previsões é que, embora se mantenha em terreno positivo, não cresça mais de 0,5%. Mesmo com crescimento robusto do investimento, representada pela formação bruta de capital fixo (FBCF), a taxa de investimento, relação entre a FBCF em relação ao PIB, não passou de 17%, em 2024, pouco acima dos 16,4% de 2023, e ainda insuficiente para repor até mesmo a depreciação do capital existente.

Assim como o investimento, o consumo das famílias não deverá repetir, em 2025, o embalo do ano anterior. Com alta de 4,8% em 2024, o consumo desabou no último trimestre do ano, recuando 1%. Em 2025, avançaria, segundo projeções, não mais de 3% ou 3,5%, constrangido por inflação elevada, crédito mais difícil e algum recuo no mercado de trabalho — e, em consequência, na massa de renda.

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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