José Paulo Kupfer

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Opinião

Copom começa a acenar com fim do atual ciclo de alta dos juros

Ao mesmo tempo em que confirmou a alta de um ponto percentual, que levou a taxa básica de juros (taxa Selic) a 14,25% nominais ao ano, na reunião desta quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária) deu os primeiros sinais de que começa a preparar o fim do atual ciclo de alta dos juros.

Trata-se do maior nível de juros básicos desde a crise de 2016, que resultou no impeachment da presidente Dilma Rousseff, como todos destacaram. É também, no nível de 8,5%, a quarta taxa de juros real, na comparação global, superada apenas pelos juros básicos de Turquia, Argentina e Rússia.

Mas a Selic atual não é maior do que os 19,75% e os 26,5%, de 2005 e 2003, muito menos dos 45% de março de 1999, depois da explosão do regime de taxa de câmbio fixa, que ajudou a segurar a inflação na sequência do Plano Real, e quando foi adotado o sistema de metas. Circunstâncias históricas diferentes não deveriam dar valor a analogias sem as devidas contextualizações.

No comunicado que resume os pontos determinantes da decisão, os diretores do Banco Central ressaltaram "as defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso", para indicar a possibilidade de reduzirem a magnitude da alta da Selic na próxima reunião do colegiado, em maio.

Não houve indicações da visão do Copom para as reuniões depois de maio, mas a referência ao intervalo de tempo que as decisões sobre juros demoram para produzir seu máximo efeito é uma sinalização de que o ciclo de altas pode se encerrar em junho, com a Selic em 15% — mais 0,5 ponto em maio e 0,25 ponto em junho —, ritmo, por sinal, imaginado agora pela maioria do mercado. Esta é a avaliação do economista José Francisco Lima Gonçalves, um dos mais experientes interpretes dos comunicados e atas do Copom.

Os efeitos da política de juros para frear a economia e reduzir pressões de demanda, contribuindo para o arrefecimento da inflação, na economia brasileira, segundo estudos de diversas fontes, se concretizam entre três meses e um ano da retomada das altas de juros básicos.

Já são cinco altas desde o início do atual ciclo, em setembro de 2024, três na magnitude pouco usual de um ponto percentual. Os efeitos restritivos da política de juros sobre a expansão da economia começam a aparecer. Ainda que o primeiro trimestre de 2025 possa registrar crescimento econômico mais forte, impulsionado pela agropecuária, esse avanço se dará a partir de uma base mais fraca, com origem na desaceleração da atividade, no último trimestre do ano passado.

Para este ano, sob os efeitos da política de juros, as expectativas são de redução no ritmo de crescimento. No comunicado da reunião de maio, o Copom ainda reconheça que a economia apresenta dinamismo, mas já vê sinais de "incipiente moderação" no crescimento econômico.

No setor privado, as projeções de alta do PIB (Produto Interno Bruto) para 2025 variam de 1,7% a 2% ante avanço de 3,4%, no ano passado, talvez até com recuo no segundo semestre. O próprio governo espera expansão anual menor, de 2,3%.

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Assim, é possível que o serviço que a política de juros poderia fazer para conter a inflação, neste momento, já esteja praticamente concluído.

Tanto parece ser este o pensamento dominante no Copom que as projeções do colegiado para a inflação, no terceiro trimestre de 2026, considerado o horizonte relevante para que a politica de juros produza seus efeitos, se reduziram agora de 4% para 3,9%, já dentro do intervalo de tolerância do sistema de metas, e sinalizando tendência mais benigna de alta de preços.

Em meio a incertezas maiores no cenário externo, com origem principalmente no governo errático e disruptivo de Donald Trump, no Estados Unidos, as perspectivas de dois cortes pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano) nos juros de referência na economia americana, até o fim do ano, dá mais conforto a uma eventual preparação para encerrar, no Brasil, o atual ciclo de alta da Selic. Nesta quarta-feira, alegando aumento das incertezas, o Fed manteve os juros de referência estacionados no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano.

Os previstos cortes de juros nos EUA ajudam a engrossar a perspectiva de que as elevações dos juros básicos no Brasil estejam perto do teto, na medida em que dão suporte a reduções nas cotações do dólar ante o real, e, em consequência, a alívio da inflação. Apesar da dúvidas sobre a política fiscal, nas projeções do Copom para a decisão dos juros básicos em maio, a taxa de câmbio em 2025 recuou de R$ 6 para R$ 5,8.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.