Expansão do emprego formal impulsiona renda e o próprio mercado de trabalho
A inflação está correndo acima do teto da meta, com preços de alimentos nas nuvens. A situação das contas públicas continua complicada, dívida pública e juros nas alturas. A economia global está em tumulto, com incertezas por todos os lados e tendência a espalhar recessões pelo planeta.
Mas, pelo menos no Brasil, e por enquanto, a economia real, aquela que funciona no dia a dia das fábricas, lojas e escritórios — atualmente ampliada para as plataformas online —, está mostrando resistência surpreendente. A melhor prova disso vem do mercado de trabalho, o setor mais sensível dessa economia cotidiana.
Efeitos sazonais
A taxa de desemprego, medida pela Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Contínua), no primeiro trimestre de 2025, subiu de 6,2%, no último trimestre de 2024, para 7%, conforme divulgação do IBGE nesta quarta-feira (30). Com os devidos ajustes sazonais, o desemprego caiu de 6,6% para 6,4% %. Esta é a menor taxa de desocupação, para primeiros trimestres, desde que a atual série histórica da Pnad Contínua foi iniciada, há 13 anos, em 2012.
Quando se observa o mercado de trabalho, descontando as ocorrências típicas de determinados períodos, que não se repetem nos demais, verifica-se que a alta do desemprego no período janeiro a março é explicada justamente por efeitos sazonais. No começo do ano, por exemplo, costumam ocorrer demissões de parte do pessoal absorvido pelo mercado em fins de ano, para fazer frente ao aumento da atividade do comércio com o Natal. Retirados os efeitos sazonais, o ambiente no mercado de trabalho se mantém aquecido.
Empregos com carteira
Os números de março do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que apontam a situação do mercado com base nas informações de admissão e demissão das empresas, também divulgados nesta quarta-feira, poderia dar a entender discrepâncias em relação à Pnad Contínua do período.
No primeiro trimestre, foram criadas 650 mil vagas, pouco menos de 10% abaixo do resultado do primeiro trimestre de 2024. Em março, novos postos somaram apenas 71 mil, numa queda de mais de 70% em relação a março do ano passado.
O resultado reflete o fato de que, em 2025, o feriado prolongado de carnaval ocorreu em março — e não em fevereiro, como é mais comum. Com isso, m em fevereiro de 2025 foram criados 440 mil novos empregos com carteira, mais de 40% acima do número de fevereiro de 2024, que teve menos dias úteis por causa do carnaval.
Renda em alta
A tendência, apontada por todas as projeções, mesmo com a atividade econômica sinalizando diminuição de ritmo, a partir do segundo trimestre, é de novas reduções na taxa de desemprego, ao longo do ano. O economista Bruno Imaizumi, especialista da LCA 4intelligence em mercado de trabalho, projeta taxa de desemprego, no encerramento de 2025, de 6%, com média do ano, pouco acima desse número.
O que mais chamou a atenção, na divulgação da Pnad Contínua do primeiro trimestre, foi a elevação do rendimento real habitual. A explicação para mais um novo aumento nas médias salariais pode ser encontrada nas alterações que estão ocorrendo na composição do mercado de trabalho.
Nas últimas cinco divulgações da Pnad Continua, as ocupações formais vêm avançando em relação às informais. Entre janeiro e março, por exemplo, o nível de empregos informais caiu a 38% da população ocupada, percentual mais baixo da série histórica, excetuado o período da pandemia.
Segundo o economista Imaizumi, essa mudança na composição da população ocupada se deve, de início, à atividade relativamente aquecida dos últimos anos, mas também a outros fatores, alguns estruturais.
"Além dos reajustes do salário mínimo acima da inflação e da ampliação do conceito de emprego formal, introduzida na reforma trabalhista do governo Temer, os processos de desburocratização e digitalização na economia, que facilitam a formalização, têm contribuído para a expansão dos empregos com carteira assinada e de empreendimentos cadastrados de pessoas jurídicas do Imposto de Renda". Bruno Imaizumi, economista da LCA 4intelligence.
Empregos formais, por princípio, são mais estáveis e propiciam melhores salários do que os informais. Com o aquecimento econômico, as negociações salariais têm resultado em reajustes acima da inflação para os trabalhadores. Levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), aponta que, de um ano para cá, entre 80% e 90% dos reajustes de salário negociados ficaram acima da inflação.
Massa de salários
É notável a escalada da massa de rendimentos salariais na economia, a partir de 2022. Em valores de março de 2025, a elevação, até março de 2025, superou 30%. O ingresso desses recursos na economia deve contribuir para que a população ocupava avance pelo menos 1,5% neste ano, alcançando novo recorde de 105 milhões de trabalhadores.
Contribuirá também para manter o consumo das famílias, ainda que abaixo da alta de quase 5% registrada em 2024, mas ainda assim evoluindo pelo menos em mais 3%. O que, na volta do parafuso, também manterá níveis altos de ocupação no mercado de trabalho.
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