Copom reconheceu não saber para onde vai a Selic em junho, e mercado gostou
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Os mercados financeiros operavam, nesta quinta-feira (8), com forte reação positiva à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de elevar a taxa básica de juros (taxa Selic) em 0,5 ponto porcentual, para 14,75% nominais ao ano, na reunião desta quarta-feira (7).
No fim da manhã, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, avançava mais de 2%, acima de 130 mil pontos. No mercado cambial, a cotação do dólar recuava mais de 1%, abaixo de R$ 5,70. Também a curva de juros futuros, nos seus ramos de médio e longo prazos, recuava, em movimento consistente.
A conclusão é que, pelo menos num primeiro momento, os analistas do mercado financeiro gostaram do tom e das indicações do comunicado no qual o Copom descreveu as razões para a decisão de elevar a Selic ao maior nível em quase 20 anos.
Altas mais moderadas nos mercados ao redor do mundo, animadas por novas declarações em favor de negociações de tarifas do presidente americano Donald Trump, davam a entender que o movimento nos mercados brasileiros se apoiava em fatores locais. O mesmo ocorria com as cotações do dólar, que caíam no Brasil, mas subiam em outros mercados.
Ciclo de altas perto do fim
Nessa comunicação, o colegiado que reúne presidente e diretores do Banco Central sinalizou não saber para onde vai levar a taxa básica na reunião de junho. Daí por que deixou em aberto se encerrará o ciclo de altas da Selic em junho ou se ainda decidirá por uma elevação residual de 0,25 ponto, fechando o ciclo com juros em 15%.
Na última divulgação do Boletim Focus, publicado semanalmente pelo Banco Central, os analistas do mercado financeiro indicaram apostar no fim do atual ciclo de altas com a Selic a 14,75%, e também abriram espaço para o início de um período de cortes antes do fim do ano. O comunicado de 7 de maio, contudo, apontou para a manutenção dos juros de referência na economia brasileira em 14,75% ou 15% por mais tempo. Cortes só começariam em 2026.
Os termos do comunicado parecem ter contribuído para sua avaliação positiva pelo mercado. O Copom abusou desta vez das expressões do "coponês" — o idioma cifrado com que o colegiado se comunica com a praça financeira. Menções à "cautela adicional" e a "se manter vigilante" na perseguição da meta de inflação, expressões só entendidas pelo mercado, pipocaram no texto.
Na interpretação dos tradutores do "coponês", mais cautela significa que o Copom preferirá errar por excesso, na calibragem dos juros básicos, a antecipar cortes e ser ver obrigado a retomar altas em seguida.
Custos da decisão
Na lógica do sistema de metas, de fato, é menos custoso — para a credibilidade do Copom e em geral para a economia — aplicar um alta residual, e recuar se a elevação, na frente, se mostrar desnecessária. Ao contrário, antecipar cortes de juros, mas, em seguida, ser obrigado a retomar as altas, traz consequências mais negativas para a ação do Copom e para as expectativas de inflação.
A decisão de deixar em aberto o caminho a ser trilhado até a reunião do Copom em junho se apoia também numa das mais relevantes alterações no texto do comunicado, na comparação com o documento de março. Na decisão anterior, o comitê considerava que o balanço dos riscos para a inflação pendia para o lado altista. Agora em maio os riscos de alta ou de baixa da inflação foram descritos como equilibrados.
Fator Trump
Na avaliação do Copom, os sinais de desaquecimento da economia continuam "incipientes", mas são agora mais evidentes. Essa perspectiva de que a atividade desacelere, favorecendo alívio da inflação, contudo, ainda não é suficiente para abrir espaços mais abertos ao fim do ciclo de altas. Afinal, a política fiscal continua expansionista e as cotações do dólar, que influenciam fortemente os movimentos de preços, estão mais voláteis.
Se fosse só isso, porém, é possível que as indicações do Copom para frente pudessem ser mais afirmativas. A questão central para a sinalização em aberto sobre os passos futuros da política de juros se concentram no cenário externo, no qual predominam as idas e vindas da errática política econômica de Trump. A biruta imprevisível do presidente americano desaconselha apostas tantos em processos desinflacionários quanto em aumento de pressões inflacionárias.
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