Josette Goulart

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Reportagem

Boletos atrasados na Cidade Matarazzo: nem transfer de Anish Kapoor escapou

O francês Alex Allard virou o empresário mais badalado da Paulista por conta da sua ultraluxuosa Cidade Matarazzo, que abriga o Hotel Rosewood (o mais chique ever), a Soho House (o clube mais privé ever), a Casa Bradesco (o centro cultural mais luxuoso ever). Mas, agora, Allard parece ter virado um empresário badalado também no Serasa e em processos de execução de dívidas na Justiça.

A mais nova cobrança judicial resvala até na imagem do Bradescão. Uma das empresas de Allard estava inadimplente desde setembro, até ontem (dia 17), no pagamento do serviço de transporte e armazenagem das obras de Anish Kapoor — um dos artistas plásticos mais badalados do mundo (sim, é todo mundo badalado por lá). A exposição inaugurou a Casa Bradesco, lançada em novembro do ano passado (em outro evento badalado, com direito a mulheres de longo e tudo o mais. Sim, eu estava lá, sem longo).

O boleto pendente

A dívida com Eriko dos Santos Transportes e Armazenagem, já contabilizados multa, juros e honorários advocatícios, chega a R$ 153 mil, segundo consta do processo de execução extrajudicial que corre na Justiça de São Paulo. Vale notar que o valor se refere somente ao transporte e armazenagem e não inclui o seguro contra riscos no transporte das obras.

A BM Varejo Empreendimentos, a tal empresa de Allard, me informou, por uma notinha enviada pela assessoria de imprensa, que tem uma relação de longo prazo com o fornecedor que está lhe cobrando na Justiça e que vai pagar o que deve nesta terça-feira (18).

O Eriko, por certo, vai ficar feliz (se a empresa de fato pagar). Uma série de e-mails anexados ao processo judicial mostra que as advogadas de Eriko estão desde as festas do fim do ano passado tentando negociar o pagamento e a confissão da dívida por parte da BM Varejo Empreendimentos. Os prazos prometidos para os pagamentos foram sistematicamente descumpridos. (Mas o diretor da Cidade Matarazzo teve a gentileza de pelo menos chamar as advogadas para irem à exposição, como convidadas).

Rolou até uma LGPD

A vida de jornalista sempre surpreende. Ao procurar as advogadas do caso, do escritório Dornelles & Biondo Advogados, uma delas me disse que não faria nenhum comentário sobre o caso (mesmo o processo sendo público) por conta da LGPD. LGPD???? Já pensou se a moda pega?

A crise

Já tem umas semanas que a crise de imagem ronda a Cidade Matarazzo (haja trabalho para as assessorias de imprensa). A revista "piauí", por exemplo, contou na sua última edição sobre o "piscinão do Rosewood". A chiquérrima piscina do hotel 6 estrelas foi tomada pelos sem-piscina da Soho House, como escreveu o repórter João Batista Jr. Além da infraestrutura falha, o pessoal reclama da superlotação e até da qualidade dos drinks.

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(Não quero dizer nada, mas já vi empresário ser interrompido no meio de uma mordida lá no Soho House para pagar a conta na hora em que o garçom queria. Sim, o mundo chique também surpreende. Mas, por conta da LGPD, não vou revelar o nome do empresário.)

A colunista Mariana Barbosa, de "O Globo", contou há algumas semanas que as obras (não as do Anish, as obras de rua mesmo, porque o complexo terá um acesso direto para a Avenida Paulista) estão causando um grande transtorno na vizinhança e estão completamente paradas desde o ano passado. Sem contar os 187 títulos protestados no Serasa.

Mas, segundo a assessoria, as obras pararam por conta das "festas de fim de ano". (Vai ver o Carnaval entrou para o calendário do fim de ano e o Papai Noel esqueceu de me avisar.) E também informou que outras obras do Complexo seguem normalmente.

3 bilhões de dinheiros

A assessoria também lembra que já foram investidos R$ 3 bilhões no Complexo da Cidade Matarazzo (o que nos leva a crer que o fluxo de caixa parece mesmo estar complicado com dívidas tão pequenas sendo protestadas). A assessoria também diz que a Cidade Matarazzo é "considerada o maior projeto privado de regeneração urbana e restauro de patrimônio histórico do país".

"Mesmo trabalhando em escalas monumentais, nenhuma empresa parceira deixou de ser paga ao longo de mais de uma década de trabalho." (Só faltou mencionar que algumas com atraso).

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A assessoria também diz, na nota, que as obras do entorno vão beneficiar os moradores da região com uma nova pavimentação, nova iluminação e mais segurança (o que é verdade também).

E o Bradesco?

Bradesco não me disse nada, só está observando.

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