Josette Goulart

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Reportagem

SXSW - O cérebro do Elon Musk vai fritar em Marte

Alguém viu o Araketu em Austin? Certeza que eles estão aqui porque eu ando pulando feito pipoca de palestra em palestra. Estou na SXSW, Brasew! (Mas a Tixa segue subindo as paredes no Brasil com o Marcelo Chello.)

Como tem dez milhões de conferências, atividades, palestras e afins, ao mesmo tempo aqui nesse megaevento, você começa a achar que justamente aquela que você escolheu não é assim tão boa. Pronto, aí você pipoca. E fatalmente cai em outra que também não é assim nenhuma Brastemp.

(Vim aqui, diretamente do futuro do meu texto, pra dizer que a parte do Elon Musk está só lá no final).

Eu atribuo a culpa desse meu comportamento pipoquês ao Fernando Yunes, o chefão do Mercado Livre no Brasil. Eu e ele nunca tínhamos vindo pra SXSW antes, e propus de a gente passar o primeiro dia de palestras juntos. Ele topou na hora. A palestra de abertura com a história de que não é só Mental Health, agora tem o Social Health foi impactante. Achei que ficaríamos bem, afinal estávamos eu e ele fazendo o social.

Mas na segunda palestra, ele quis pipocar e eu incentivei. A cara da cag* (ops, pode falar assim aqui?) Saímos os dois da sala na metade da palestra e descobrimos que não tínhamos pra onde ir (você tem que pipocar em 5 min e não em 30. E ainda assim saber pra onde vai depois, porque tudo pode ser longe). O que fizemos? Voltamos pra sala.

Ficamos lá olhando as dez tendências de tecnologia para 2025 do MIT que, honestamente, era só pegar a lista e ler depois. Não precisava acompanhar ao vivo. Não que a lista não fosse interessante. Remédios para vacas soltarem menos pum, digo, metano. Célula tronco finalmente funcionando. Robotaxi (aliás, tem robotaxi em Austin. Ainda tentando experimentar. Conto pra vocês como foi se eu conseguir).

Depois, descobri que os astronautas da NASA que vão para a lua estavam dando uma palestra incrível e a gente perdeu. Só sei que o Yunes me abandonou na pipoca. Nunca mais o vi. Mas eu segui pipocando.

A pior pipoca

O Cléber Paradela, VP da DM9, é mestre no futurismo (ele foi meu professor de futurismo na Miami Ad School). Então, quando ele falou que ia ver uma palestra sobre a relação dos humanos com a IA, pensei: essa daí é quente. Mas fui assistir outra coisa. E, claro, não conseguia parar de pensar que eu deveria ter ido na do Cléber. O que eu fiz? Pipoquei. Cheguei lá na do Cléber, já com 20 minutos de atraso e o que aconteceu? O palestrante, um tal de Michael White, que já foi da Disney e agora tem empresa de mobilidade, terminou a palestra. Juro. Ele ficou 25 minutos fazendo propaganda da empresa dele. E foi embora. Sequer abriu para perguntas. As pessoas ficaram todas sentadas esperando e nada. Infomercial que chama. E vou te dizer: SXSW está cheia de infomercial da pior qualidade.

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O bom é que descobri a esquina do café (café ruim e caro, diga-se. Cinco dólares ou 30 reais por água quente. Café bom só na Casa SP. Mas falo deles outro dia). Voltando para a esquina, você fica lá e encontra todos os chefes de marketing das empresas, donos das agências, os brasileiros todos. Ok, nem todos porque são milhares e não conheço assim tanta gente.

Mas a lição mais importante: se até o Clebinho erra nas escolhas, imagina eu.

Perdi a nova rede social pipoca

A SXSW acontece em um centro de convenções gigante e em diversos hotéis próximos. Então, durante a pipoca, você precisa caminhar uns 10km por dia. Eis que eu passava pela rua, vindo de uma pipoca, e um cartaz escrito The News me parou. Sabe como é, tinha um monte de gente parada na frente de um QR Code. O código me mandou para a loja de aplicativos para baixar um tal de Mozi. Até tentei, mas só está disponível para iPhone 17 (quem tem isso, gente? Bem que o Renato falou que ia pedir pro UOL me comprar um telefone novo). Saí andando. Nem dei bola para uma mulher na frente da porta que parecia dar explicações.

Depois descobri que o tal Mozi é a nova rede social de um dos fundadores do Twitter. (E eu perdi?) Mas é uma rede diferentona em que você se conecta só com os contatos que estão na sua agenda e a ideia é a de ser uma mídia social para se conectar no mundo real (todo mundo querendo acabar com a pandemia da solidão). Ah, gente, não sei direito. Quando eu tiver um iPhone 17 (lá por 2050 quando estiver em promoção), eu venho aqui contar para vocês.

Sei que eu voltei lá na rua quando descobri o que era o Mozi e a mulher não estava mais. Mas tinha um cartaz com algum game para encontrar o chapéu da Taylor Swift na cidade. (Sim, totalmente aleatório).

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A propósito, desencanei de encontrar celebrities por Austin (para quem não sabe nada da SXSW, este é um grande evento de inovação, marketing, tecnologia, filmes, música, comédia e otrascositasmas. E aí, aparecem umas celebs. O Ben Affleck apareceu um dia. A Blake Lively em outro. Teve Ben Stiller. Teve Kevin Bacon. E eu fiquei só no bacon mesmo).

E tem BREAKING NEWS apurado diretamente de Austin

Mais uma montadora chinesa fazendo a festa das agências de publicidade (daqui a pouco teremos mais chinês que bet no mercado). A iD\TBWA levou a conta da Omoda&Jaecoo, derrubando RGA, Talent e UM (IPG). Não, eu também não conhecia essa tal Omoda. Mas parece que é da Chery (essa é daquele tempo que ninguém queria comprar carro chinês e eles davam cinco anos de garantia). Os carros vão chegar em abril e daquele jeitinho novo chinês: cheio de tecnologia.

E cadê os chineses aqui em Austin?

Um evento que quer falar do futuro sem os chineses parece meio desconectado do futuro. Just saying. Não vi nenhum palestrante chinês até agora (E nem tem. Quem conseguiria visto para chinês falar em evento americano?). DeepSeek (o ChatGPT dos chinos e que chegou chegando)? Também não vi muita gente falar (mas ainda é cedo para afirmar). A badalada Amy Webb só citou.

Em uma palestra sobre cibersegurança com um ex-chefe de segurança do Tiktok, foi mencionado en passant que o DeepSeek está usando técnicas avançadas de identificação por impressão digital (fingerprinting) para identificar os usuários. Mas foi isso. A velha questão de que os chineses estão pegando os dados de todo mundo.

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O ex-chefe de segurança do TikTok, Roland Cloutier, disse que o TikTok não está nem entre os dez maiores coletores de dados. Aff. Mas aí eu pipoquei. Juro. (Tenho que parar com isso).

Só sei que os marqueteiros vão morrer se ninguém mais coletar dados. Mentira. Não vão porque o Daniel Guinezi tem a solução, mas eu só vou contar o que é se ele passar um dia comigo aqui em Austin pipocando em palestras de computação quântica. (Não sei porque eu acho que ele entende de computação quântica). Mas quero muito passar o dia com o Guinezi porque ele vai render o melhor título da temporada. Vocês vão entender.

E a poderosa do Signal?

E se tem alguém que é contra coleta de dados, esse alguém é a presidente do Signal. Ela jura que o Signal (um tipo de WhatsApp) não coleta dado nenhum. O Signal é uma organização sem fins lucrativos com o propósito firme de manter a privacidade. (Sabe como é, se você não tem acionista, não precisa ter lucro). Você conversa com alguém e a conversa morre ali.

Será que nem o Xandão consegue ter acesso? Fui tomar um café com o vice-presidente de relações governamentais da Unico, Luís Felipe Monteiro, e pelo que ele me explicou só dá para ter acesso se pegar o celular da pessoa e a conversa ainda estiver lá.

Quero dizer que foi uma das melhores conferências até agora. Meredith Whittaker, que mulher é você? Sharp, como disse o Yunes. (Mas ele já tinha me abandonado. Mandou o comentário pelo Signal. Mentira que ele nem sabia que o Signal existia. Foi pelo Zap mesmo). Traduzindo o sharp: afiada.

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E como a propaganda é a alma do negócio, eis como a Meredith vende a ideia do Signal:

"Você quer uma empresa centralizada que está claramente disposta a balançar nos ventos políticos para tomar uma decisão sobre seus dados daqui a 10 anos? Quando tivermos um regime diferente e um mundo diferente, mas eles ainda tiverem seus dados? (Ou você quer o Signal?) Quase sinto que não preciso fazer esse discurso, porque é tão óbvio, mas esse é o mundo em que vivo."

Chegou a vez do Elon

Por falar em ventos políticos, chegamos finalmente ao Elon Musk. Eu sei, o título falava de Elon e só agora cheguei nele. (Até vou voltar lá no início do texto para avisar os perdidos).

Como eu mencionei, o SXSW tem uma trilha de shows de comédia. E a estreia foi de ninguém mais, ninguém menos do que ele: Elon Musk. (Ainda bem que o ator avisa que não é o Elon de verdade porque alguém bem que poderia se confundir).

As caricaturas estavam todas lá: o X com os traços puxadinhos da suástica, o seu time de alemães com braçadeira da suástica, Trump como coadjuvante, os projetos de botar a SpaceX no lugar da NASA, Robert Kennedy Jr. querendo curar todas as doenças com óleo de rícino. (Tinha tudo mesmo. Dava pra ter reduzido pela metade o show). E quem estava lá também? O marciano representante de Elon em Marte falando da Doge Coin do sexo oral. Yes, humor escrachado mesmo. No fim, Musk se transforma no imperador romano Marcus Aurelius. Um show de horrores da vida real?

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(A propósito, chovem críticas ao governo Trump aqui no South by Southwest e um monte de democratas foi convidado para o evento. Incluindo a Michelle.)

Mas por que o cérebro do Musk vai fritar em Marte?

Enfim, chegamos ao ponto. Uma das palestras em que eu não pipoquei e até fiz pergunta foi a da neurocientista Heather Collins, da universidade da Carolina do Sul. Ela queria saber o que acontecia ao cérebro dos astronautas depois das viagens espaciais. E adivinha???? O cérebro muda e ainda não se sabe se um dia volta ao normal.

Aqui o que ela contou, tecnicamente falando.

Morte celular no hipocampo e outras regiões cerebrais. Estudos de imagem mostram disrupção nas redes neurais, com algumas áreas ficando menos ativas e outras mais ativas, possivelmente devido à compressão causada pela microgravidade.

Redução da atividade em áreas do cérebro envolvidas no movimento e controle motor. Isso está relacionado às perdas de massa muscular e densidade óssea observadas em astronautas.

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Impactos na memória, atenção e outras funções cognitivas. Isso pode ocorrer devido às alterações estruturais e funcionais observadas no cérebro.

- Potencial para perda de acesso a memórias, embora os pesquisadores acreditem que as memórias em si não deixem o cérebro, a menos que haja morte celular.

Detalhe. Esses estudos foram feitos com astronautas profissionais, que se preparam para ir ao espaço (e que ficaram por lá dias ou até ano inteiro). Imagina com quem for lá só de aventureiro?

Então, em resumo, o cérebro do Elon Musk pode fritar se ele for morar em Marte.

PósPost: eu optaria por essas viagens que ficam dois segundos no extremo da esfera terrestre porque daí não dá tempo de acontecer nada.

Amanhã eu conto mais da pipoca. Agora vou ali ver o Bluesky.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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