Katherine Rivas

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Reportagem

Ações que pagam dividendos acima da Selic de 12,25%; quem sobrevive a 2025?

Surpreendendo uma parte do mercado financeiro, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central teve uma postura mais agressiva no combate à inflação e elevou a taxa básica de juros para 12,25% ao ano nesta quarta-feira (11).

Se lidar com juros nesse patamar e um dólar alto já é difícil, a situação macroeconômica pode ficar ainda mais complicada, dado que o Comitê já manifestou a possibilidade de novos aumentos, fazendo com que a Selic chegue a 14,25% ao ano até março de 2025.

No nível atual da Selic, apenas 12 ações conseguem ter um retorno em dividendos (dividend yield) superior à taxa básica de juros, revela levantamento feito por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria. Foram consideradas ações presentes nos índices Ibovespa, IBRX100, IDIV e Small Caps. São, portanto, papéis com boa liquidez de negociação.

Mas nem todas essas ações terão capacidade de sustentar esse patamar de dividendos em 2025. Apenas empresas pouco endividadas, com receitas dolarizadas ou protegidas da inflação conseguirão remunerar satisfatoriamente os seus investidores. Mas aquelas ligadas a setores dependentes da economia como construção civil e varejo podem deixar a desejar.

Pelo levantamento de Rivero, somente 8 ações devem apresentar um dividend yield superior a 12,25% nos próximos 12 meses. A projeção considera que as empresas devem manter a mesma política de distribuição de dividendos dos últimos 12 meses e ter um lucro igual ou maior ao registrado no último ano. Mas vale lembrar que o lucro das companhias pode ficar pressionado diante de um cenário macroeconômico desafiador, inviabilizando as rentabilidades projetadas.

É nessa hora que o histórico de remuneração aos acionistas conta muito. Afinal, empresas que têm o hábito de pagar bem os seus investidores, podem acabar mantendo a tradição. Já quando um pagamento não é recorrente ou extraordinário, fica difícil de entender se voltará a se repetir.

Rivero aconselha observar a mediana de dividend yield dos últimos cinco anos das ações, para uma visão mais realista. Em companhias com menor tempo de Bolsa, foi calculada a mediana desde a abertura de capital. Veja abaixo!

Quem sobrevive a 2025 pagando dividendos elevados?

Com juros tão altos, nem toda empresa terá fôlego para manter distribuições de dividendos elevadas. Um seleto grupo vai sobreviver sem preocupações, enquanto outros podem apresentar queda nos proventos.

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Entre os nomes citados pelos analistas, vão continuar pagando bem os seus acionistas: Petrobras (PETR4), Cemig (CMIG4), Copasa (CSMG3), JBS (JBSS3) e Petrorecôncavo (RECV3).

Na Petrobras favorece que a receita da companhia é dolarizada. Como a expectativa é de que a moeda americana chegue ao patamar de R$ 5,77 até o final de 2025, é esperado um ano de forte lucratividade para a empresa, avalia Gabriel Duarte, analista da Ticker Research. Claro que tudo dependerá também se o preço do petróleo se mantiver elevado.

Além disso, ele destaca que o endividamento da petroleira é controlado, atualmente no patamar de 1,06 vezes o indicador dívida liquida sobre ebitda. Duarte cita ainda que a Petrobras tem uma política de distribuições bem estruturada. Vale lembrar que no seu plano de negócios 2025-2029, a Petrobras se compromete a pagar no mínimo US$ 45 bilhões em dividendos regulares nos próximos cinco anos e até US$ 10 bilhões em proventos extraordinários.

"A Petrobras tem uma geração de caixa muito robusta, então não vejo por que o cenário econômico ou político deveria afetar a companhia em 2025. Muito pelo contrário, a Petrobras tende ajudar o governo", observa Duarte.

A expectativa do analista da Ticker é que os dividendos da Petrobras sigam superando a Selic. Para 2025, a projeção é de um dividend yield entre 15% e 18%.

Outro que enxerga a Petrobras com todo esse otimismo é Régis Chinchila, head de Research da Terra Investimentos, que vê a companhia pagando dividendos acima de 12% em 2025.

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"A alta do preço do petróleo e a desvalorização do real frente ao dólar tornam a Petrobras altamente rentável, o que garante uma sólida geração de caixa. Com isso, a empresa deve manter elevados dividendos, independente dos juros altos, dada sua estabilidade financeira", avalia Chinchila. E para ele, a petroleira também é alternativa para investir pensando no longo prazo, com potencial de ter renda passiva consistente.

Pegando carona na receita dolarizada, a Petrorecôncavo (RECV3) também deve se beneficiar e manter seus dividendos robustos. Nos últimos 12 meses, a petroleira teve um dividend yield de 13,20%. "O cenário é positivo por se tratar de uma exportadora, mas o grande ponto é entender para onde vai o preço do petróleo", comenta Bruno Oliveira, analista CNPI do Projeto Vida de Acionista.

Fechando o leque das empresas com receita dolarizada está a JBS (JBSS3) que nos últimos 12 meses entregou um dividend yield de 12,56%.

Chinchila, do Terra, explica que a companhia se beneficia diretamente do dólar forte, porque grande parte da sua receita vem das exportações. "Isso aumenta sua margem de lucro, gerando fluxo de caixa robusto que sustenta os dividendos, independentemente da pressão dos juros elevados", afirma.

Apesar do cenário favorável no câmbio, o dividend yield deve recuar um pouco, para o patamar de entre 5% e 6%, de acordo com as projeções de Chinchila.

Em utilities, uma fortaleza

Não apenas empresas com receita dolarizada sobrevivem ao desafiador 2025. Em segmentos de utilities, como energia elétrica e saneamento, também é possível encontrar alternativas resilientes, com destaque para Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3).

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Um detalhe importante é que ambas as companhias têm contratos reajustados pela inflação, um ponto que favorece a previsibilidade das receitas.

Na Cemig, a vantagem é o endividamento baixo, que livra a companhia do impacto dos juros elevados. Atualmente a dívida líquida sobre ebitda está no patamar de 0,64 vezes.

Além disso, a empresa possui uma estrutura de capital confortável e apesar dos planos de investimento para os próximos anos, a Cemig continuará gerando um fluxo de caixa consistente que permita boas distribuições de proventos, defende Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest.

Biz enxerga a Cemig como alternativa para o longo prazo, para quem busca dividendos recorrentes. Para 2025, contudo, faz a ressalva que os dividendos serão menores, no patamar de 8%. "Não é um dividend yield de dois dígitos, mas é um retorno interessante considerando as características defensivas da Cemig", justifica.

Nos últimos 12 meses, a Cemig (CMIG4) chegou a apresentar um dividend yield de 18,99%. Duarte, da Ticker, também enxerga queda nos proventos, com o dividend yield da Cemig em 10% em 2025.

Para a Copasa (CSMG3) as projeções são mais otimistas. Duarte espera um dividend yield de 15% no próximo ano.

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Ele destaca que a companhia tem contratos previsíveis, geração de caixa muito robusta, e embora seu endividamento seja um pouco maior, ainda está controlado. Atualmente, a relação dívida líquida sobre ebitda da Copasa é de 1,79.

"É uma empresa para manter em carteira para o longo prazo e o dividend yield elevado reforça isso", comenta Duarte. A Copasa costuma remunerar os seus acionistas trimestralmente.

Auren (AURE3) vai dar problema

Os analistas enumeram também as companhias que podem dar dor de cabeça ao investidor em 2025 e que devem decepcionar no quesito dividendos.

Eleita por unanimidade, a Auren (AURE3) não deve ser uma boa pagadora de proventos no próximo ano.

Bruno Oliveira, do Projeto Vida de Acionista, explica que após incorporar a AES Brasil, a dívida da Auren pode ficar muito elevada. O mercado espera uma relação dívida liquida sobre ebitda de 4,9 vezes até 5 vezes nos próximos meses.

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Mas não é apenas isso. Empresas muito endividadas tendem a sofrer mais com os juros elevados, com mais dificuldades para renegociar e fazer rolagem de dívida. Segundo Oliveira, pela "rolagem" uma empresa pode negociar prazos maiores de pagamento, com parcelas mais cômodas, mesmo que o desembolso final seja maior. O conflito é que diante de juros tão altos, empresas podem acabar trocado suas dívidas por outras extremamente caras, que vão atrapalhar a sua saúde financeira no médio e longo prazo.

Oliveira sinaliza também que os ativos herdados da AES Brasil não são eficientes, considerando que a companhia passou 9 meses em prejuízo. "A incorporação da AES Brasil foi inteligente do ponto de vista operacional, mas financeiramente e de timing foi péssimo", opina ele.

Ainda entre os riscos, Oliveira cita os cortes de geração (curtailment), principalmente para fontes eólicas e solares que acabam atrapalhando em alguns momentos na geração de valor da companhia.

Por estes três motivos, Oliveira acredita que os dividendos não serão prioridade para Auren em 2025.

Outras que desapontam

Além da Auren, os analistas enxergam dificuldades para empresas que integram setores dependentes da economia, como construtoras e varejo.

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É o caso das incorporadoras Even (EVEN3) e Lavvi (LAVV3) para as quais as expectativas não são promissoras. Para Duarte, da Ticker, são empresas que não vão entregar um dividend yield tão alto em 2025 por conta dos juros elevados, que tiram o incentivo da compra de imóveis.

Outra que está no olho do furacão é a Vulcabras (VULC3), fabricante de sapatos esportivos e dona das marcas Olympikus, Mizuno e Under Armour. Apesar de ser um varejo mais nichado, juros e inflação subindo podem se traduzir em menos vendas para a empresa e em consequência dividendos mais baixos em 2025.

A Vulcabras tinha testado um pagamento de dividendos mensais neste ano, mas até o momento não houve indícios de que esta remuneração recorrente possa se repetir em 2025.

Reportagem

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