Como a Margem Equatorial impacta as ações e dividendos da Petrobras?
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O "lenga-lenga" da Margem Equatorial voltou ao radar do mercado nesta semana. Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumindo ativamente a missão de destravar o impasse entre a Petrobras e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), os investidores ficaram esperançosos sobre uma possível prorrogação de vida útil na petroleira estatal. Mas, por que essa Margem Equatorial é tão relevante para a companhia?
Para quem não se lembra, vamos refrescar um pouco a memória. A Margem Equatorial é uma região no Norte do Brasil, entre os estados de Amapá e Rio Grande do Norte, que se destaca pelo seu forte potencial petrolífero. Alguns até chamam a região do "novo pré-sal do Brasil".
Na Margem Equatorial há cinco bacias: Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar. "Para a Petrobras, uma das mais importantes é a Foz do Amazonas porque possui características geológicas muito parecidas com a produção feita mais ao norte, na Guiana", explica Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
A título de comparação, a Guiana foi descoberta e explorada pela petroleira americana Exxon Mobill em 2015. Segundo Vitor Sousa, analista da Genial Investimentos, a reserva de petróleo atual da Guiana seria de em torno a 15 bilhões de barris. Acima das reservas de petróleo da Petrobras que estão em cerca de 11 bilhões de barris.
A gestão da Petrobras já manifestou que quer e está esperançosa com a aprovação da licença ambiental para poder estudar e explorar a região.
Somente no seu plano estratégico 2025-2029, a Petrobras reservou US$ 3 bilhões para perfurar 15 poços nas diferentes bacias da Margem Equatorial. Segundo a petroleira estatal, esta região seria a nova fronteira petrolífera do Brasil.
O desentendimento com o Ibama vem de longa data. Em 2023, o Ibama negou licença a Petrobras para perfurar a Foz do Amazonas, por conta de riscos ambientais e impacto nos animais da região.
Em 2024, a Petrobras apresentou novamente estudos para reconsideração da solicitação, mas 26 técnicos do Ibama rejeitaram a proposta e recomendaram o arquivamento do processo.
Em 2025, o cenário parece mais favorável, por conta de Lula estar se envolvendo na discussão e também pela eleição de Davi Alcolumbre (União-AP) para a presidência do Senado. Ele é do Amapá e a aprovação da exploração de petróleo na Margem Equatorial poderia render recursos, empregos, e tornar a região em uma potência econômica no Brasil.
O Ibama não possui um prazo definido para dar a resposta, mas o mercado está na expectativa de que a partir de março haja novas sinalizações e que estudos para determinar o potencial da região possam ser aprovados ainda no primeiro semestre de 2025. Inclusive um leilão da ANP (Agência Nacional de Petróleo), que deve ocorrer em junho, já conta com 47 áreas na bacia do Foz do Amazonas.
Por que é tão importante para Petrobras?
Vitor Sousa, da Genial, explica que o principal negócio da Petrobras hoje é a exploração e produção de petróleo. A capacidade atual de produção da estatal é de 2,9 milhões de barris por dia. "É onde sai o grosso do lucro dela e onde de fato a Petrobras brilha", comenta.
Ocorre que a produção relacionada ao pré-sal deve começar a ter declínio a partir de 2030. A Petrobras vai precisar repor e aumentar as suas reservas. A companhia tem diversas opções para isso, mas sem dúvida a Margem Equatorial é a melhor das alternativas na mesa.
Sousa exalta o tamanho das reservas da Guiana, de 15 bilhões de barris, mais do que a Petrobras possui hoje, 11 bilhões de barris. "Em 5 ou 6 anos, na Guiana foi encontrado e explorado mais do que o tamanho da reserva atual da Petrobras".
Se não for aprovada a licença para estudos e exploração na Foz do Amazonas, Sousa elenca outros caminhos para a Petrobras encontrar novas reservas. Uma das alternativas seria ir para fora do Brasil, o que implicaria que a petroleira saia da sua zona de conforto e fuja do seu diferencial competitivo.
"A Petrobras poderia fazer incursões consideradas um pouco "exóticas" como ir para África, mas a costa e geologia lá é muito diferente da brasileira", exemplifica Sousa. O receio seria o investidor interpretar esse tipo de movimento como negativo, dado que a Petrobras não domina a exploração e produção nesses países.
"A beleza da Margem Equatorial não é apenas o tamanho da região e sim o fato de ser uma solução caseira, sem precisar sair do Brasil", reforça o analista da Genial.
Arbetman, da Ativa, destaca ainda que além de ter que buscar bacias nas quais não possui expertise, sem a Margem Equatorial, provavelmente a Petrobras teria que se unir a outras companhias para conseguir mais reservas.
Renato Reis, analista da Blue3 Research, reforça a importância da Margem Equatorial para aumentar a vida útil da Petrobras em 30 ou 40 anos pela frente. "Se a Petrobras continuar existindo e o Brasil quiser permanecer um país autossuficiente em termos de petróleo, vai precisar explorar a Margem Equatorial, que promete ser o pré-sal 2.0. Seriam 30 anos de independência de petróleo para o Brasil", avalia.
Sem a Margem Equatorial, segundo Reis, até daria para esticar alguns anos. Mas a partir de 2035, provavelmente o Brasil precisaria importar petróleo para dar conta da demanda.
Impacto na valorização das ações PETR4
Os analistas concordam em um ponto, os benefícios de explorar a Margem Equatorial ainda não estão precificados nas ações PETR3 e PETR4, muito por conta dos problemas entre Petrobras e Ibama.
As ações, contudo, devem sentir os efeitos substanciais de uma eventual aprovação no longo prazo, o que não descarta, contudo, ligeiras valorizações no curto e médio prazo.
Um ponto importante é entender as etapas pelas quais essa aprovação passaria. No curto prazo, por exemplo, caso o Ibama aprovar que a Petrobras faça estudos potenciais da região, até poderia ocorrer um movimento especulativo das ações da estatal, aponta Sousa.
Mas um ganho mais expressivo viria somente com a aprovação da exploração e quando os estudos da Petrobras confirmem o tamanho potencial das reservas na região, destaca o analista. Antes disso, ficaria difícil para o mercado quantificar o que a Margem Equatorial representa para a companhia.
"Se tiver na região metade das reservas da Guiana, algo em torno a 7 bilhões de barris, já seria algo muito comemorado pelo mercado. As ações reagiriam positivamente", comenta.
Os ganhos gordos com a valorização das ações ainda levariam alguns anos para acontecer. Para Sousa, até tirar a primeira gota de petróleo do local, pelo menos uns 5 ou 6 anos.
Arbetman explica que a partir que é aprovada a exploração de petróleo e a ANP (Agência Nacional de Petróleo) é notificada, a companhia tem até 7 anos para declarar comercialidade do óleo. Ou seja, uma história longa para o investidor. Contudo, Arbetman já espera que a licença de exploração ocorra até junho deste ano.
Há alguns otimistas do mercado que já enxergam as ações da Petrobras (PETR4) chegando a R$ 90 nos próximos anos por conta da Margem Equatorial, é o caso de Fabiola Cunha, especialista em finanças e investimentos, que manifestou sua projeção em artigo.
Outros analistas preferem ser mais conservadores, pela falta de dados sobre as reservas para fundamentar projeções. Reis, da Blue3 Research, acredita que pelo menos uma valorização de 50%, chegando a R$ 60 seria viável, com possível aumento da produção. Já para chegar ao patamar de R$ 90, precisaria a Petrobras mudar os seus múltiplos e passar a negociar como petroleiras estrangeiras em 8 vezes lucros, atualmente negocia a 5,68 vezes.
Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, acha a valorização até R$ 90 um exagero, que só poderia acontecer se a reserva da Petrobras chegar a 100 bilhões de barris. Para ele, a possibilidade de exploração da Margem poderia impulsionar as ações entre 40% e 60%.
Queiroz reforça que o mercado ainda está cético e que não quer repetir o caso da OGX, que se vendeu com um grande potencial de reservas de petróleo, capaz de se tornar uma Petrobras privada e no final entregou nada.
Para os analistas do BTG Pactual, a licença de exploração não teria um efeito imediato nas ações da Petrobras. Segundo Luiz Carvalho e equipe, o desenvolvimento comercial da região pode levar anos e exigir investimentos elevados. "A avaliação atual da Petrobras permanece mais intimamente ligada às estratégias existentes de produção e alocação de capital", destacam.
Impacto nos dividendos das ações PETR4
Reis reforça que com a Margem Equatorial e a possibilidade de produzir mais petróleo, o fluxo de caixa da Petrobras aumentaria, o que se traduziria em mais dividendos. Sem contar que a companhia teria uma garantia maior de pagar proventos robustos por mais 30 anos.
Para ele, com a exploração da Margem, um dividend yield de no mínimo 10% seria normalizado para os próximos anos.
Sousa defende, contudo, que a questão dos dividendos também passa por etapas. Caso aprovada a exploração, primeiro a Petrobras vai precisar fazer investimentos na região o que poderia pressionar os dividendos por alguns anos, para então depois colher os frutos e ter remunerações elevadas. "Se tudo der certo, os dividendos tendem a crescer porque a empresa vai produzir mais", defende.
Atualmente sem contar com os efeitos da Margem Equatorial, o dividend yield (retorno em dividendos) projetado pelos analistas consultados para 2025 vai de 11% até 19%. Já eles esperam que os papéis PETR4 valorizem normalmente até o intervalo de R$ 44 até R$ 50.
A maioria dos analistas recomenda a compra das ações, pelos fundamentos atuais que a Petrobras já possui e pelos dividendos. Alguns são neutros e aconselham apenas manter o papel. Contudo, como a Margem Equatorial não está precificada, qualquer novidade positiva pode influenciar nas ações no médio e longo prazo.
Mas e se a licença para explorar a Margem não acontecer? Aparentemente, nada muda nas ações, mas a Petrobras terá um baita desafio para a sustentabilidade da sua receita no longo prazo.
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