Diretor diz que BB é 'muito melhor que Itaú'; o que o mercado acha?

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Na coletiva de imprensa do Banco do Brasil (BBAS3) sobre o balanço do quarto trimestre de 2024, realizada na manhã desta quinta-feira (20), sobrou até para o Itaú (ITUB4). A orelha do Milton Maluhy Filho, presidente do banco privado, queimou logo cedo.
Ao ser questionado sobre o fato de alguns analistas preferirem as ações do Itaú no lugar das do BB diante da inadimplência do agro e outras incertezas, Geovanne Tobias, vice-presidente de gestão financeira e de relações com investidores do BB, respondeu: "Eu não sou Itaú. Eu sou muito melhor do que o Itaú", afirmou o executivo.
É claro que a frase se espalhou pelo mercado rapidamente. Tobias poderia ter ficado sem essa, mas decidiu defender o trabalho que consolidou o BB como um dos bancos queridinhos dos investidores pessoa física. Ele disse que, se o investidor observar as recomendações de todos os analistas no mercado, o Banco do Brasil é 'top pick' (ação preferida) para a maioria deles, com recomendação de compra.
O vice-presidente do BB manifestou também que não tem a intenção de agradar 100% dos analistas, porque uns tendem a olhar o copo meio cheio e outros olham o copo meio vazio. "Eu não preciso convencer o analista, ele tem a tese dele", apontou.
Tobias destacou ainda que a melhor forma de o banco conquistar a confiança do mercado é mostrando a sua capacidade de execução. "Há dois anos, os analistas falam que o Banco do Brasil atingiu seu pico de lucro. Trouxemos um crescimento do lucro de 6,6% em 2024, em relação a 2023, e conseguimos pagar mais dividendos", disse.
Ainda na visão do executivo, o BB é a ação preferida entre os bancos que mais pagam dividendos e figura entre as empresas com melhor dividend yield da Bolsa de Valores. Em 2024, o banco estatal figurou entre as 20 empresas abertas que são as maiores pagadoras de dividendos da Bolsa, com dividend yield de 9,43%.
Tobias mencionou ainda o diferencial que o BB tem no agronegócio diante de concorrentes privados. "Queria saber o que os bancos privados fariam se tivessem um terço da carteira de crédito deles no agro e atuando como o BB atua na cadeia de valor", observou.
O executivo disse que o BB tem mais de 200 anos de história e já conseguiu entregar rentabilidades muito semelhantes às dos pares privados, com uma estrutura de balanço "extremamente sólida" e trabalhando em mercados e segmentos em que os concorrentes privados não trabalham. "Nas feiras agropecuárias, vai ver os bancos privados querendo crescer, porque eles perceberam que o agro é pop. Mas, para nós, o agro é pop há muitos anos", comentou.
É mesmo melhor que o Itaú?
É claro que a gente não poderia ficar com a dúvida, então o UOL decidiu consultar o consenso de mercado para entender quem é realmente o favorito do setor bancário.
Segundo levantamento exclusivo do TradeMap para o UOL, com recomendações de bancos, corretoras e casas de análise, atualmente dez instituições têm recomendação para as ações do Itaú (ITUB4), sendo nove recomendações de compra e uma de manutenção ou neutra. Ninguém recomenda venda. As dez instituições que acompanham o Itaú são: XP, BTG, BB Investimentos, UBS, Santander, Ágora, Ativa Investimentos, Terra, Genial e PagBank.
No caso do BB (BBAS3), oito instituições têm recomendações, sendo sete de compra e uma de manter ou neutra. Também não há nenhuma indicação de venda. A cobertura é feita por: XP, BTG, Santander, Ágora, Ativa Investimentos, Terra, Genial e PagBank.
Quando observado o preço-alvo médio para 2025, que indica até quanto a ação pode valorizar neste ano, BBAS3 chega a R$ 35,95, um potencial de alta de 24,57%, enquanto para ITUB4 o preço-alvo médio é de R$ 41,82, o que significa um salto potencial, um pouco maior, de 27,14%. Dessa forma, o Itaú oferece maior potencial de valorização das ações neste ano para os investidores.
Já no quesito dividendos, o Banco do Brasil se destaca com um dividend yield (retorno em dividendos) médio de 10,82% em 2025, superior aos 8,67% que o Itaú pode entregar em proventos neste ano. Em remuneração do acionista, o BB ganha.
Portanto, Tobias não estava falando apenas de cabeça quente quando afirmou que o BB é melhor que o Itaú. Mas convenhamos que ainda precisa trabalhar muito em algumas questões para deixar no chinelo o concorrente privado.
BB está barato por "preconceito"
Questionado também sobre por que a ação BBAS3 segue barata mesmo se tratando do banco mais eficiente da Bolsa — teve um índice de eficiência de 25,6% em 2024 —, Tobias alegou que esse desconto da ação pode ser fruto do "preconceito" pelo fato de o BB ter uma estrutura mista, com 50% de participação do governo.
Ele explicou que, mesmo com todos os esforços para tirar esse "preconceito" da cabeça do investidor minoritário, aparentemente nada surtiu efeito. Apesar de a atual gestão se esforçar para mostrar a capacidade de geração de resultados do BB e a execução de estratégias de forma disciplinada, muitos investidores ainda acreditam que o banco sofre muita influência política.
"Concordamos que o Banco do Brasil está extremamente barato, seja no preço da ação ou no valor patrimonial. Estamos negociando abaixo desse valor patrimonial, mesmo tendo o maior dividend yield do setor", disse.
Segundo Tobias, o mercado segue descontando o risco político, mesmo com governança corporativa robusta, plano estratégico definido para os próximos cinco anos, comitês de risco, entre outros. "Na minha visão, o desconto se chama preconceito", afirmou.
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