Katherine Rivas

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Reportagem

Petrobras volta à lista das maiores pagadoras de dividendos do mundo

Parece que a Petrobras (PETR4) está de volta ao jogo e se destacando entre as "vacas leiteiras" do mundo.

O ano de 2024 foi muito volátil para o mercado de ações. No Brasil, a alta da Selic no segundo semestre pressionou a rentabilidade das empresas, enquanto nos Estados Unidos os juros demoraram a cair. A inflação persistente criou um cenário desafiador para proventos, mas globalmente o saldo foi positivo. Os dividendos globais atingiram um recorde de US$ 1,75 trilhão em 2024, alta de 5,2% nominal e 6,6% subjacente - que ajusta a distorção causada por dividendos extraordinários, taxa de câmbio e outros fatores técnicos.

Os dados são da 45ª edição do Índice Global de Dividendos da gestora Janus Henderson. O relatório analisa trimestralmente as 1.200 maiores empresas do mundo por capitalização de mercado, que representam 90% dos dividendos distribuídos globalmente. A gestora britânica tem cerca de US$ 379 bilhões em ativos sob gestão.

O crescimento superou as projeções da gestora, que esperava US$ 1,73 trilhão e alta subjacente de 6,4%, impulsionado por surpresas nos EUA e Japão. No Brasil, as notícias foram mistas. Sob Magda Chambriard, a Petrobras voltou ao ranking das 20 maiores pagadoras do mundo, na 14ª posição, após pagar US$ 10,8 bilhões em dividendos. Um feito relevante, diante das dúvidas do mercado sobre a capacidade de Chambriard de manter a estatal rentável.

A presença da Petrobras no ranking global sempre foi instável. Em 2023, ficou no 25º lugar, com dividendos de US$ 8,09 bilhões. Em 2022, brilhou como a segunda maior do mundo (US$ 21,7 bilhões), atrás da BHP. Esse foi inclusive o ano de glória da Petrobras, que no 2° trimestre de 2022, conquistou a coroa da maior pagadora de proventos do mundo.

Antes disso, nunca figurou entre as 20 maiores. Em 2021, os pagamentos foram modestos de US$ 9,1 bilhões. E até 2020 os dividendos eram pífios ou inexistentes.

Agora, a Petrobras parece determinada a recuperar sua atratividade global. Será que Magdinha segura as pontas?

Como foi no Brasil?

Enquanto a Petrobras conseguiu elevar a suas distribuições, a Vale (VALE3) voltou a desapontar. Entre as empresas brasileiras, a mineradora fez o maior corte de proventos e pagou US$ 4,16 bilhão em 2024.

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Em 2023, a Vale remunerou os investidores com US$ 5,78 e ficou no 50° lugar do ranking. Já no ano de 2022, os pagamentos da mineradora foram de US$ 6,86 bilhões, figurando na 34ª colocação do ranking.

Como registrado, cada ano a Vale está pagando menos dividendos aos acionistas. Mas vamos dar um desconto para a empresa, considerando que não é a única mineradora que cortou proventos no mundo. A australiana BHP, por exemplo, teve uma queda de 14% nos dividendos no ano passado.

No geral, no Brasil os dividendos caíram 9% em base subjacente, totalizando pagamentos de US$ 22,4 bilhões. Metade das empresas do país reduziram seus proventos. Na base nominal, o crescimento foi tímido de 3,7%. Veja as empresas brasileiras que integraram as 1200 do ranking global e quanto pagaram:

  1. Petrobras (PETR4) - US$ 10,83 bilhões
  2. Vale (VALE3) - US$ 4,16 bilhões
  3. Banco do Brasil (BBAS3) - US$ 2,71 bilhões
  4. Ambev (ABEV3) - US$ 1,70 bilhão
  5. Bradesco (BBDC4) - US$ 887 milhões
  6. Telefônica Brasil (VIVT3) - US$ 847 milhões
  7. B3 (B3SA3) - US$ 437 milhões
  8. Weg (WEGE3) - US$ 336 milhões
  9. Suzano (SUZB3) - US$ 315 milhões
  10. Eletrobras (ELET6) - US$ 158 milhões

Quais empresas se destacaram no mundo?

Em 2024, 88% das empresas aumentaram ou mantiveram estáveis seus dividendos, com mediana de crescimento de 6,7%.

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O setor financeiro liderou, com os bancos elevando proventos em US$ 36,4 bilhões, impulsionados por distribuições extraordinárias e alta subjacente de 12,5%. O setor de mídia também se destacou, dobrando dividendos com os primeiros pagamentos da Meta (dona do Facebook e Instagram) e Alphabet (dona do Google). No varejo, o crescimento veio da Alibaba, que pagou US$ 5,1 bilhões e se tornou a terceira maior pagadora da China. Juntas, Meta, Alphabet e Alibaba distribuíram US$ 15,1 bilhões, um quinto do crescimento global.

Houve alta expressiva também em empresas de telecomunicações, construção, seguros, bens duráveis e lazer. Em contrapartida, os setores de mineração e transporte cortaram US$ 26 bilhões em proventos em comparação a 2023.

Pelo segundo ano seguido, a Microsoft (MSFT34) liderou como maior pagadora de dividendos, remunerando os acionistas com US$ 22,9 bilhões, superando os US$ 20,74 bilhões de 2023. A big tech é figurinha carimbada no ranking da Janus Henderson, esteve presente todos os anos entre as 10 maiores pagadoras desde 2016.

A Exxon Mobil (EXXO34) ficou em segundo lugar, com US$ 15,6 bilhões, retornando ao topo após a compra da Pioneer Resources. A petroleira não ocupava a segunda posição no ranking desde 2016.

Fechando o pódio, o HSBC Holdings (H1SB34) pagou US$ 15,4 bilhões. Confira as 20 maiores pagadoras de dividendos do mundo em 2024:

  1. Microsoft - EUA - US$ 22,9 bilhões
  2. Exxon Mobil - EUA - US$ 15,6 bilhões
  3. HSBC Holdings- Reino Unido- US$ 15,4 bilhões
  4. Apple - EUA - US$ 15,1 bilhões
  5. China Construction Bank - China- US$ 13,5 bilhões
  6. PetroChina - China- US$ 13,4 bilhões
  7. China Mobile Limited - China- US$ 13,2 bilhões
  8. JPMorgan Chase - EUA - US$ 13,1 bilhões
  9. Chevron - EUA - US$ 11,9 bilhões
  10. Johnson & Johnson - EUA - US$ 11,8 bilhões
  11. Taiwan Semiconductor Manufacturing - Taiwan- US$ 11,3 bilhões
  12. Verizon Communications - EUA - US$ 11,2 bilhões
  13. Abbvie - EUA- US$ 11 bilhões
  14. Petrobras - Brasil - US$ 10,8 bilhões
  15. BHP Group - Austrália- US$ 10,6 bilhões
  16. Broadcom - EUA- US$ 10,1 bilhões
  17. Pfizer - EUA- US$ 9,5 bilhões
  18. Procter & Gamble - EUA- US$ 9,3 bilhões
  19. Home Depot - EUA - US$ 8,9 bilhões
  20. Toyota Motor - Japão - US$ 8,8 bilhões
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Os países e regiões que lideram

Em 2024, Europa, Estados Unidos e Japão lideraram o crescimento dos dividendos, com destaque também para mercados emergentes como Índia, Singapura e Coreia do Sul. Entre os 49 países do ranking global, 17 registraram recordes, incluindo EUA, Canadá, França, Japão e China.

As empresas dos EUA distribuíram US$ 651,6 bilhões, alta subjacente de 8,7%. O avanço foi impulsionado pelos primeiros pagamentos de Alphabet e Meta, que responderam por um quarto do crescimento norte-americano. "Mesmo sem essas empresas, outras companhias dos EUA tiveram forte lucro, sustentando o crescimento", aponta a Janus Henderson.

O crescimento anual nos dividendos norte-americanos foi de US$ 50 bilhões, superior aos dividendos de um ano inteiro das empresas suíças ou quase tanto quanto o pago pelas empresas alemãs.

Na Europa, os dividendos subiram 5,6% em termos subjacentes e alta nominal de 2,4%, puxados pelo setor bancário, que se beneficiou dos juros elevados. Os bancos distribuíram um recorde de US$ 55,4 bilhões, metade do que antes da pandemia. Entre as empresas europeias 88% aumentaram os dividendos ou os mantiveram estáveis, com crescimento mediano do dividendo por ação de 12%.

O Japão registrou uma das maiores altas nos proventos, 15,5%, alcançando US$ 86 bilhões. Toyota e Honda foram as principais contribuintes, com 94% das empresas mantendo ou ampliando os dividendos em 2024.

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Já a China teve crescimento subjacente de 17,8% alcançando um recorde de US$ 62,7 bilhões no ano passado. O avanço foi impulsionado pelo Alibaba, que pagou US$ 5,1 bilhões, terceiro maior pagador do país asiático. Sem Alibaba, o avanço teria sido de 9%. A Tencent também fortaleceu os pagamentos, com 78% das empresas chinesas mantendo ou elevando os dividendos em 2024.

Na América Latina, o México cresceu 4,3%, apesar dos cortes feitos pelas companhias. A maior contribuição para o crescimento veio da empresa de bebidas FEMSA, que tem marcas como Oxxo e Coca-Cola no portfólio, e da mineradora Grupo México.

Colômbia e Chile registraram quedas de 39,1% e 28,7%, devido a cortes na Ecopetrol e na Empresas Copec, respectivamente.

O que esperar dos dividendos globais em 2025?

Mesmo com um cenário desafiador para as ações, a Janus Henderson projeta crescimento nominal de 5% nos dividendos globais e 5,1% em base subjacente, atingindo um recorde de US$ 1,83 trilhão em 2025.

Jane Shoemake, gestora de ações globais da Janus Henderson, destaca que empresas de mídia e tecnologia dos EUA começaram a pagar dividendos, contrariando a visão de que o setor nunca retornaria capital aos investidores. Para ela, isso prova que toda empresa madura tende a seguir o mesmo caminho: pagar provento com o caixa excedente.

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O desafio será manter e ampliar essas distribuições, ainda pouco representativas. "Diante do entusiasmo com Inteligência Artificial, vai ser interessante observar se esse será um fator chave para o crescimento dos dividendos nessas empresas", avalia Shoemake.

A gestora reconhece riscos como tarifas dos EUA, possíveis guerras comerciais e juros elevados, que podem afetar a rentabilidade das empresas. Ainda assim, espera crescimento de lucros acima de 10% e baixa volatilidade nos dividendos. "É por isso que acreditamos em um novo recorde de proventos em 2025", conclui.

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