Oferta de ações da Caixa Seguridade: 6 pontos para avaliar antes de comprar
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Com uma proposta protocolar, sem sal e sem impacto para o investidor, a Caixa Seguridade (CXSE3) anunciou seu aguardado follow-on (oferta secundária de ações). O objetivo é vender 82,38 milhões de ações ordinárias e levantar até R$ 1,317 bilhão.
A operação quebra a seca de follow-ons na bolsa desde outubro de 2024, mas não empolgou o mercado, que achou a oferta morna e xexelenta. O principal motivo é que não haverá emissão de novas ações.
A Caixa Econômica Federal, controladora da seguradora, apenas reduzirá sua participação de 82,75% (2,48 bilhões de ações) para 80% (2,4 bilhões de papéis), enquanto o free float (ações em livre circulação de mercado) subirá de 17,25% (517,5 milhões de ações) para 20% (600 milhões de papéis). Ou seja, todo o dinheiro arrecadado vai para a Caixa Econômica Federal, não para a seguradora.
Atualizações da oferta:
- Base atual de ações da Caixa Econômica Federal: 2,48 bilhões de papéis (82,75% de participação na Caixa Seguridade)
- Primeira proposta: venda de 82,5 milhões de ações
- Segunda proposta (final): venda de 82,38 milhões de ações
- Como fica após follow-on: Caixa Econômica Federal fica com 2,4 bilhões de ações (80% de participação na Caixa Seguridade)
O objetivo é cumprir as regras do Novo Mercado, que exige pelo menos 20% das ações em livre circulação. Como não haverá emissão de novas ações, os investidores não terão sua participação diluída na empresa caso não façam parte da oferta.
No entanto, analistas criticam a ausência de prioridade para os atuais acionistas. Isso porque qualquer pessoa, seja investidor de CXSE3 ou não, poderá participar do follow-on sob as mesmas condições.
Outro fator de cautela é que Caixa Seguridade está cara. Analistas apontam que a seguradora negocia a múltiplos muito superiores aos de BB Seguridade (BBSE3) e Porto Seguro (PSSA3), tornando o follow-on pouco atrativo se o preço não for muito competitivo. O preço será definido no dia 19 de março.
A oferta é coordenada por Itaú BBA, Bank of America, BTG Pactual, UBS BB e Caixa. Resta saber: vale investir na oferta ou é melhor comprar ações diretamente no mercado?
Veja 6 pontos a considerar antes de tomar uma decisão:
Vale a pena participar? O que observar?
Podem participar do follow-on investidores pessoa física, qualificados (com pelo menos R$ 1 milhão investido), profissionais (com mais de R$ 10 milhões) e institucionais, além de funcionários de empresas ligadas à Caixa Econômica Federal.
Investidores pessoa física poderão reservar no mínimo R$ 1,00 e no máximo, um investimento de R$ 1 milhão, estabelecendo um teto para este público.
A visão dos analistas é diversa. Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, acredita que a participação vale a pena se o preço ficar até R$ 16, especialmente para quem busca dividend yield (retorno em dividendos) acima de 8%. Mas alerta que é essencial avaliar o motivo da oferta, o preço e se o ativo faz sentido na estratégia do investidor.
Regis Chinchila, head de research da Terra, também vê atratividade, destacando o forte desempenho e os dividendos da Caixa Seguridade. Em 2024, por exemplo, o payout (parcela do lucro destinada a proventos) da empresa foi de 91,6%.
"A companhia tem crescimento robusto e resiliência nos resultados, beneficiando investidores no longo prazo, com valorização e dividendos", diz. Porém, reforça a importância de analisar o preço da oferta e perspectivas da empresa.
A XP mantém visão positiva, afirmando que a oferta já era esperada e não altera sua recomendação de compra para CXSE3. A Caixa Econômica pode levantar R$ 1,32 bilhão, equivalente a 2,8% do valor de mercado da seguradora, segundo a corretora.
Por outro lado, Hugo Cabral, analista da Nord Research, não recomenda a participação, pois vê a ação cara, negociando a 12,60 o indicador preço sobre lucro (P/L), em relação aos concorrentes como BB Seguridade (9,12 P/L) e Porto Seguro (9,48 P/L). "Provavelmente o preço mínimo não compensará essa diferença", argumenta.
Sergio Biz, sócio e analista do GuiaInvest, reconhece a qualidade do ativo para renda passiva, mas considera outras seguradoras mais atrativas no momento. "O mercado precifica um crescimento futuro que não sabemos se vai se concretizar", alerta. Ele sugere esperar uma queda maior no preço antes de decidir entre o follow-on ou a compra direta no mercado.
O Goldman Sachs também adota cautela, citando riscos no financiamento imobiliário e o valuation (avaliação da empresa) elevado. Projetando 2025, a CXSE3 negocia a 10,8 vezes o lucro, um prêmio de 24% sobre o setor de seguros na América Latina e 28% acima da BB Seguridade.
Até que preço seria interessante comprar na oferta?
Conforme o prospecto do follow-on, a precificação oficial das ações ocorrerá no dia 19 de março. No entanto, o período de reserva para investidores pessoa física é nos dias 17 e 18 de março. Desta forma, os investidores não saberão do preço oficial caso reservem as ações. Mas, segundo analistas, ainda haverá a possibilidade de cancelar a reserva, caso o preço do papel não se revele atrativo.
A liquidação das ações reservadas e a cobrança dos valores ocorre no dia 24 de março.
Questionada, a Caixa Seguridade sobre o motivo do investidor pessoa física ter que reservar a oferta dias antes sem saber do preço oficial antecipadamente, o que poderia induzir a um negócio incerto, a seguradora optou por ser burocrática e manifestou que "todas as informações relativas à Oferta e aos procedimentos desta estão descritas nos documentos divulgados pela Companhia, pela Caixa Econômica Federal e pelos Coordenadores da Oferta em 9 de março de 2024". Contudo, não há uma explicação clara sobre isso.
A Caixa Seguridade até chegou a fazer uma simulação ilustrativa, com um cenário em que os papéis custem R$ 15,99, mas dada a queda recente das ações, provavelmente terá que oferecer um preço menor para atrair apetite para a oferta.
O UOL tentou ver com os analistas até qual valor seria coerente comprar as ações no follow-on. Para Oliveira, o máximo a se pagar é R$ 16. "Qualquer valor abaixo disso é bem-vindo porque garante um dividend yield de 8%", aponta.
Cabral já é mais conservador e acredita que a R$ 12 no follow-on CXSE3 já ficaria igual ou mais atrativa do que BB Seguridade. Mas, acredita que dificilmente a Caixa Seguridade ofereça um preço próximo disso.
Chinchila acredita que a melhor opção é se guiar pelo preço-alvo (até quanto o papel pode subir) da ação para 2025, que no caso dele é R$ 18. Quanto mais barato comprar, mais espaço para valorizar.
Observando o preço-alvo do Goldman Sachs, a tendência é a ação cair em 2025. Eles esperam que CXSE3 feche o ano em R$ 15. Desta forma, um preço ideal de compra seria abaixo disso.
Por que as ações CXSE3 podem cair?
Segundo Biz, a queda de CXSE3 na bolsa é natural e não indica, necessariamente, uma reação negativa ao follow-on. O mercado geralmente exige um desconto para comprar na oferta secundária em vez de diretamente no pregão, o que explica a baixa.
Chinchila acrescenta que a pressão do aluguel de ações e ajustes na percepção dos investidores sobre a oferta ou a empresa podem influenciar o preço.
Quando evitar a oferta?
Como não há diluição, não participar também é uma opção válida, sem prejuízo ao investidor.
Chinchila sugere se abster caso o investidor não veja potencial de valorização e dividendos no médio e longo prazo ou se o preço da oferta for alto demais, sendo mais vantajoso esperar uma oportunidade no mercado secundário.
Para o Goldman Sachs, CXSE3 já está bem precificada, com um P/L projetado de 10,8 para 2025, quando o ideal seria 10,1.
Qual o impacto do follow-on no investidor?
O impacto do follow-on para o investidor pessoa física é mínimo no curto prazo, sem grandes efeitos na valorização ou nos dividendos, já que os recursos vão para o caixa do controlador.
Cabral vê benefícios como maior liquidez das ações e manutenção da Caixa Seguridade no Novo Mercado. O Goldman projeta um aumento no volume médio diário de negociações, hoje em US$ 11 milhões, abaixo da mediana do setor financeiro na América Latina (US$ 42 milhões).
"Com mais ações em circulação, a companhia ganha visibilidade, o que pode favorecer sua valorização no médio prazo", destaca Chinchila.
Muda alguma coisa para os dividendos?
Cabral ressalta que, por se tratar de uma oferta secundária, a transferência de ações do controlador aos investidores não altera os dividendos esperados por ação.
Na Nord, a recomendação para CXSE3, com foco em dividendos, é neutra. A preferência é pela BB Seguridade, enquanto a expectativa para a Caixa Seguridade é de um dividend yield próximo de 9% este ano. Já a Terra projeta distribuição acima de 90% do lucro em 2025, mas sem estimativa de dividend yield.
Oliveira recomenda, numa análise restrita ao valor do ativo, a compra da ação e espera dividendos por ação líquido de R$ 1,28 para CXSE3 em 2025, equivalente a um dividend yield de 8,3% e distribuições de 90% do lucro.
Vale lembrar que a companhia remunera os acionistas trimestralmente e que a decisão de aporte envolve outros fatores tão importantes quanto o preço, completa o analista.
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