Queda de braço Itaú vs Itaúsa: quem ganha em valorização e dividendos?
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Duas ações populares entre investidores seguem resilientes em um cenário macroeconômico desafiador. No passado, Itaú (ITUB4; ITUB3) e Itaúsa (ITSA4) enfrentaram dificuldades, chegando a reduzir dividendos, mas recuperaram atratividade mesmo com juros em alta, tornando-se boas opções para valorização e proventos.
A disputa entre Itaú e Itaúsa sempre chamou atenção do mercado, mas, diante dos fundamentos atuais, a escolha está mais interessante. Quer saber qual delas tem mais potencial para ganho de capital e dividendos em 2025? Confira nesta reportagem!
2025 será um bom ano para estas ações
O Itaú registrou um sólido lucro de R$ 41,40 bilhões em 2024 e, para 2025, a expectativa do mercado é positiva, com projeções de lucro líquido chegando a R$ 45 bilhões. No entanto, o banco adotou uma postura mais cautelosa, prevendo um crescimento menor na carteira de crédito, entre 4,5% e 8,5%, bem abaixo dos 15,5% registrados no ano anterior.
Essa desaceleração no crédito pode abrir espaço para um pagamento maior de dividendos, já que o banco precisará de menos provisões para inadimplência e acumulará mais caixa. Em 2024, o payout (parcela do lucro destinada a proventos) foi de 69,4%, e para 2025, os analistas projetam entre 60% e 70%, acima do mínimo obrigatório de 25% adotado entre 2020 e 2022.
Pedro Ávila, analista da Varos Research, destaca que, com a Selic em 14,25% ao ano, o Itaú pode distribuir mais juros sobre capital próprio (JCP), porque o instrumento de remuneração acompanha a taxa de juros. Os JCP também ajudam a reduzir a carga tributária do banco. "O Itaú vai distribuir o máximo de JCP possível", afirma. Para ele, os dividendos do Itaú devem crescer mais do que o lucro líquido, já que o banco não precisa reter caixa. "Enxergo mais oportunidades na tese de dividendos do que na valorização", pontua o analista.
Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research, concorda e vê os dividendos como o principal atrativo do Itaú, já que boa parte da valorização das ações já foi capturada no começo do ano- ITUB4 subiu 20,48% até 20 de março. "Ainda há potencial de alta no longo prazo, mas mais limitado no médio prazo", avalia ele, que esperava uma valorização de 15% em 2025, semelhante ao possível crescimento do lucro do banco.
Entre os riscos, Ávila aponta a inadimplência elevada devido aos juros altos e à inflação persistente, que podem pressionar a carteira de crédito. Bueno também cita a necessidade de manter a gestão eficiente, mas acredita que o banco seguirá remunerando bem os acionistas.
A Itaúsa surpreendeu positivamente
Os fortes resultados do Itaú em 2024 impulsionaram a Itaúsa, que registrou lucro líquido recorrente de R$ 14,8 bilhões, o maior de sua história. A holding possui sete empresas no portfólio: Itaú (ITUB3), Alpargatas (ALPA4), Dexco (DXCO3), CCR (CCRO3), Aegea, Copa Energia e NTS - estas três últimas de capital fechado, dos segmentos de saneamento, energia e infraestrutura.
No entanto, a Itaúsa continua extremamente dependente do Itaú, que respondeu por 96,2% de seu lucro no ano passado.
Segundo Milton Rabelo, analista do setor financeiro da VG Research, essa dependência deve seguir em 2025 e 2026, pois as subsidiárias não financeiras ainda pagam apenas o dividendo mínimo de 25%, devido a desafios operacionais e altos investimentos.
Já Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, acredita que essa realidade pode persistir por uma década, sem resultados expressivos das subsidiárias: "Seja em valor de mercado, resultado operacional ou participação na Itaúsa, a holding ainda dependerá muito do banco nos próximos anos", aponta.
Bueno acredita que a dependência pode diminuir com a queda dos juros, beneficiando empresas como Alpargatas e Dexco. No entanto, a mudança seria gradual, sem grandes impactos no curto prazo. "Elas não terão uma representatividade de 10% ou 15%, no máximo entre 5% e 7% nos próximos anos", afirma.
É por este motivo, que para o investidor estudar sobre investir na Itaúsa, deve se focar principalmente no Itaú, porque se o banco vai bem, em consequência a holding também. O oposto também é verdadeiro.
Muitos analistas veem o portfólio da Itaúsa com ressalvas, considerando suas investidas pouco atrativas ou com dividendos pífios. Ávila destaca que algumas delas prejudicam a rentabilidade da holding. "Alpargatas já patinou muito tentando crescer seu resultado", diz. Para ele, seria mais vantajoso investir diretamente no Itaú e em empresas relevantes dos setores de saneamento, infraestrutura e varejo. "Se a Itaúsa fosse 100% Itaú, seria a melhor escolha possível, porque o investidor compraria o banco com desconto", comenta.
Bueno lembra que em 2024 muitas subsidiárias da Itaúsa tiveram resultados ruins ou andaram de lado, sem melhorias, como Aegea e Dexco. "A Itaúsa está se tornando cada vez mais Itaú".
Além disso, Oliveira ressalta a dificuldade que investidores iniciantes podem ter ao analisar as empresas de capital fechado da holding, como Aegea, Copa Energia e NTS. "Por ser uma holding, há poucos detalhes sobre essas companhias", observa.
Apesar dessas críticas, o desconto para investir na Itaúsa é muito atrativo. Até 28 de fevereiro, esse desconto era de 24,5% em relação ao valor de mercado das empresas do portfólio. Pelo múltiplo preço sobre valor patrimonial (P/VP), a Itaúsa também se destaca, com 1,16 vezes, abaixo de ITUB3 (1,39) e ITUB4 (1,58).
Outro ponto positivo é a gestão de dívida da holding. Oliveira elogia a estratégia de amortizar dívidas até 2028, deixando apenas os juros em aberto. A empresa já quitou os valores principais da dívida. "Foi uma decisão inteligente, dando fôlego para Itaúsa controlar sua alavancagem e estrutura de capital nos próximos anos", avalia.
A melhor alternativa para dividendos
Os analistas divergem sobre qual ação garante o melhor dividend yield (retorno em dividendos) em 2025, equilibrando fundamentos e desconto.
Renato Reis, analista da Blue3 Research, prefere investir diretamente no Itaú para evitar riscos da holding, caso a Itaúsa faça um mau investimento. Como boa parte dos resultados da Itaúsa vem do Itaú, ele opta pelas ações ordinárias (ITUB3), que pagam os mesmos dividendos das preferenciais (ITUB4), mas costumam ser 10% a 15% mais baratas. "Para dividendos, minha escala de preferência é ITUB3, ITSA4 e ITUB4", afirma. Essa escolha de ITUB3 também é compartilhada por analistas da Nord Research e do Vida de Acionista.
Já Rabelo, da VG, prefere Itaúsa (ITSA4) devido ao desconto, que deve elevar o dividend yield. "Pelo desafio macroeconômico, a gestão tem sido cautelosa em novos investimentos e reduziu o endividamento, favorecendo o pagamento de proventos", explica. Na Varos Research, apesar das críticas ao portfólio da holding, a preferência também recai sobre Itaúsa pelo desconto atrativo.
Entre os analistas consultados pelo UOL, o Itaú (ITUB3) levou a melhor na disputa pelos dividendos. Confira abaixo as recomendações e projeções.
A melhor alternativa para valorização
Para valorização, a maioria dos analistas também prefere o Itaú, especialmente ITUB3, embora sem expectativa de grandes saltos, já que a ação subiu consideravelmente.
"Como Itaú e Itaúsa estão em um cenário parecido, as ações tendem a andar juntas. Mas, como não gosto dos investimentos da holding, prefiro o Itaú", justifica Reis.
Ávila destaca que a escolha depende do preço sobre valor patrimonial (P/VP). "Se o P/VP de ambos estiver próximo, Itaúsa seria a melhor opção. Mas, como o Itaú valorizou mais nos últimos meses e o P/VP se distanciou, hoje prefiro o Itaú para ganho de capital", afirma.
Já Rabelo é o único que aposta na Itaúsa para valorização, por ser mais barata e ter potencial de destravar valor com mudanças na reforma tributária, que podem reduzir ineficiências da holding nos próximos anos.
Consenso de mercado
Além da visão dos analistas, consultamos o consenso de mercado, conforme levantamento do TradeMap para o UOL.
Entre 10 instituições que acompanham o Itaú (ITUB4), 9 recomendam compra e 1 sugere manter. O preço-alvo médio para 2025, que indica até onde a ação pode valorizar, é de R$ 41,82, indicando potencial de alta de 30,35% frente ao fechamento de 20 de março. O dividend yield médio projetado para 2025 é de 8,74%.
Para Itaúsa (ITSA4), todas as 6 recomendações são de compra. O preço-alvo médio é de R$ 12,65, com valorização estimada em 32,15%, e o dividend yield médio esperado é de 8,25%.
No Itaú, foram consideradas as opiniões de XP, BTG, BB Investimentos, UBS, Santander, Ágora, Ativa, Terra, Genial e PagBank. Apenas a Ativa indica manter o papel.
Na Itaúsa, as recomendações são de UBS, Santander, Ágora, Terra, Genial e PagBank.