MCMV chega a mais famílias: quais construtoras podem pagar mais dividendos?

Ler resumo da notícia
O mês de maio chega com uma alternativa que vai acelerar a venda de imóveis, a geração de caixa das construtoras e o retorno aos acionistas delas. A nova Faixa 4 do Minha Casa, Minha Vida, que oferece financiamentos para famílias com renda mensal entre R$ 8.600 e R$ 12 mil, será ofertada pelos bancos desde o começo do mês.
Por meio desta nova faixa, as famílias conseguirão financiar imóveis de até R$ 500 mil - tanto novos, quanto usados - com taxas de juros efetivas de no máximo 10,5% ao ano, bem abaixo das taxas atuais de mercado que chegam a 11,49%. O público desta nova faixa 4 é quem ganha até R$ 12 mil. Serão R$ 30 bilhões em recursos para financiamento habitacional. Segundo estimativas, inicialmente 120 mil famílias serão beneficiadas. Além da faixa 4, as outras três faixas existentes de financiamento tiveram seus limites reajustados.
E o que isso tem a ver com a Bolsa de Valores?
Juros elevados e construtoras são uma péssima combinação. A Selic alta limita o poder de compra da população, restringe o crédito e encarece os financiamentos. No começo do ano, instituições como o Santander já tinham projetado que 2025 seria um ano lento para o mercado imobiliário - a Selic deve fechar 2025 em 15% e cair para 12,50% em 2026. Mesmo as empresas do segmento de baixa renda com Minha Casa, Minha Vida tinham ganhos limitados.
Porém, com a Faixa 4 do programa, as construtoras são beneficiadas, principalmente as que atuam no segmento de baixa renda como Direcional, Cury, Plano&Plano, Tenda, MRV e RNI, entre outras. O motivo é que a nova faixa abre o programa a pessoas com renda maior, avalia Rodrigo Medeiros, analista e fundador do Desmistificando Research. "Vai facilitar a venda dos imóveis que estavam em uma faixa na qual as pessoas não estavam conseguindo financiar de forma adequada", avalia.
Algumas companhias que trabalham com o Minha Casa, Minha Vida já tinham negócios direcionados ao médio padrão, diz Renato Reis, analista da Blue3 Research. A Direcional tem a subsidiária Riva, a MRV tem a Urba.
Esta nova faixa vai se traduzir em um resultado e lucro maior para as companhias. Isso leva a uma valorização maior das ações e maior pagamento de dividendos. Os analistas consultados divergem sobre quando sentiremos os resultados da faixa 4 nos balanços e receitas, mas a maioria aponta que a partir do segundo trimestre devem aparecer alguns sinais tímidos, se tornando mais nítidos no segundo semestre e no começo de 2026.
Como ficam os dividendos das construtoras
Dividendos podem chegar mais gordos no curto e médio prazo, favorecidos por esse impulso da nova Faixa 4, mas alguns analistas são céticos sobre a bonança dos pagamentos no longo prazo. Fernando Marx, contribuidor do TC, é um dos que duvida, por acreditar que os subsídios estão inflados neste momento diante do período pré-eleitoral. Após 2026, ele tem dúvidas da continuidade de benefícios tão atrativos nos financiamentos.
Já outros analistas acreditam que o efeito veio para ficar e trazer resiliência para a receita das construtoras no longo prazo. A visão é de Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest.
Mas um ponto importante é que nem todas as companhias são candidatas a pagar bons dividendos, neste e nos próximos anos, impulsionadas pela faixa 4. Segundo analistas consultados pelo UOL, apenas quatro se destacam. Entre as mais indicadas estão: Direcional (DIRR3) e Cury (CURY3).
Veja as mais indicadas para dividendos na tabela:
Direcional (DIRR3)
A Direcional é uma das cinco maiores construtoras do Brasil e atua em todas as faixas dentro do Minha Casa Minha Vida. "A Direcional opera praticamente em todo o Brasil, é bem diversificada. Atua com Minha Casa, Minha Vida onde o risco de inadimplência é baixo", avalia o analista Gabriel Duarte, da Ticker Research.
A companhia chegou à Bolsa em 2009 e desde então vem pagando dividendos de forma consistente, o que agrada o mercado, diz o analista. Outra fonte de dividendos é a venda de uma fatia minoritária da Riva no final de 2024. Além disso, por meio da subsidiária Riva, está expandindo para um público de renda alta, segundo Duarte. Entre as desvantagens estão os juros altos, que afetam todas as empresas, mas analistas elogiam a gestão da empresa e a capacidade de geração de caixa.
Analistas projetam um dividend yield (retorno em dividendos) recorrente entre 6,3% e 10%. Já com o efeito não recorrente, da venda da Riva, os dividendos podem chegar a 20% neste ano, segundo estimativas, mas regularizar no patamar de 10% nos próximos anos. Em 2024, Direcional já surpreendeu positivamente, figurando entre as 20 maiores pagadoras da Bolsa, com DY de 9,2% e pagando R$ 2,06 por ação.
Cury (CURY3)
Já a Cury pode ser considerada barata, segundo os analistas. E atua nas regiões de São Paulo e Rio de Janeiro. A companhia tem forte capacidade de lançamentos, segundo Reis, da Blue3 Research.
"São mais de 60 anos de mercado, altíssima rentabilidade e um portfólio completo para a nova faixa do Minha Casa, Minha Vida", comenta Saravalle. Mas, como todas as construtoras de baixa renda, é mais sensível ao cenário macroeconômico.
A expectativa de Saravalle é que com a nova faixa 4, a Cury acelere suas receitas pelo menos durante os próximos dois anos. O dividend yield esperado pelos analistas chega a 9%.
E a valorização?
Todas as ações citadas nesta coluna também servem para quem tem uma estratégia voltada para a valorização de ações. O setor é mais cíclico e acaba focando muito em crescimento. Mas será que ainda tem espaço para avançar? Na tabela abaixo você confere quanto as ações valorizaram desde o anúncio da faixa 4 do Minha Casa, Minha Vida, no dia 15 de abril. O levantamento é da Elos Ayta Consultoria.
Ação fora da curva
Tem ainda uma ação em reestruturação que pode surpreender positivamente diante da faixa 4 e valorizar 100%. Se trata da RNI (RDNI3), que atualmente custa R$ 2,82 na Bolsa de valores.
A companhia viveu um período conturbado em 2019, quando decidiu ir atrás de um novo plano empresarial passando a focar em vendas no Minha Casa, Minha Vida, lembra Guilherme La Vega, analista independente da Arkad Invest. "De 2019 até 2022, conseguiu crescer e ser rentável nessa unidade, mas ainda tinha impacto das operações antigas o que deixava o balanço poluído", diz. Já desde 2023 o foco foi terminar as obras em construção e vender as que ficaram de legado. Agora o foco é retomar os lançamentos com melhorias perceptíveis nos resultados até 2026.
É por isso que a faixa 4 caiu como uma luva para RNI, que trabalha em regiões próximas do agronegócio. Em algumas áreas rurais, o Minha Casa, Minha Vida facilita ainda mais as condições de financiamento. RNI não paga dividendos ainda obviamente, pela sua reestruturação, mas o analista acredita que no médio prazo a ação pode chegar a custar R$ 12.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.