Katherine Rivas

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Opinião

Petrobras e investidores: quando a relação esfria, mas ninguém vai embora

E, mais uma vez, a Petrobras entregou um balanço equilibrado: bons fundamentos, mas também alertas. Quando penso na Petrobras, lembro daquele relacionamento morno que virou costume. Foi intenso e bom no passado, mas hoje não está ruim o suficiente para terminar. Ainda resta um pouco de amor.

É assim a relação dos investidores com a petroleira. Os tempos de dividend yield (retorno em dividendos) acima de 20% ou 30% ficaram para trás. Agora, são as turbulências de sempre: risco político, troca de comando, preço dos combustíveis e o petróleo brent em queda. Um combo que ameaça a relação com os investidores, colocando a Petrobras na DR.

A gestão sabe que, se os dividendos despencarem, o relacionamento acaba, e se esforça para equilibrar os pratinhos. Como disse a CEO Magda Chambriard: "quando o preço do petróleo desce, é hora de apertar os cintos. Fiquem tranquilos." Junto a isso, vieram promessas de dividendos regulares e uma leve esperança de extraordinários.

Mas a realidade é que, mesmo com um dividend yield de até 15% e incertezas no horizonte, ainda não dá para largar as ações da Petrobras. Alguns analistas, no entanto, já adotam uma postura mais cautelosa.

O petróleo brent, negociando perto de US$ 66, já indica que o curto prazo será puxado. No longo prazo, o mercado ainda nutre esperanças: manter Petrobras na carteira para viver de renda e, quem sabe, até se aposentar com ela.

O amor não acabou. Mas será que a Petrobras vai reacender a paixão? Ou perderá espaço para petroleiras menores, como a Petroreconcavo? Nesta coluna, te conto o que esperar de verdade dos dividendos da Petrobras.

Com petróleo em queda, dividendos vão minguar?

Segundo a Elos Ayta Consultoria, o lucro de R$ 35,2 bilhões foi o maior da Petrobras nos últimos dois anos, desde o 1º trimestre de 2023, quando a petroleira lucrou R$ 38,16 bilhões. O estudo considera todos os trimestres.

Mas há um alerta: todo esse desempenho veio com o petróleo ainda negociado a US$ 74 em março. O cenário agora é outro, com o brent por volta dos US$ 66, o que acende a dúvida no mercado: os dividendos serão pressionados? Além disso, apesar do custo de produção competitivo e da forte geração de caixa, o aumento dos investimentos pode reduzir o fluxo disponível para proventos.

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Alguns analistas acreditam que, com o brent entre US$ 50 e US$ 60, ainda há geração de caixa e espaço para dividendos. É o caso de Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, que alerta que preços baixos por muito tempo tiram atratividade do dividendo e exigem ajustes nas projeções.

Lucas Lima, analista-chefe da VG Research, reforça que o equilíbrio ideal está em torno de US$ 45, incluindo investimentos. E lembra que com barril acima de US$ 40, a Petrobras ainda garante um dividendo mínimo de US$ 4 bilhões, o que renderia um yield de 5,5% no pior cenário.

Há quem enxerga outros fatores além do petróleo. Mônica Araújo, estrategista da InvestSmart XP, também projeta impacto negativo no 2TRI25, destacando que câmbio, produção e investimentos influenciam os proventos.

A dívida da Petrobras (US$ 64,5 bi) precisa ser monitorada. O teto para manter dividendos regulares é de US$ 75 bilhões. Por isso, Lima vê o aumento dos investimentos como risco: "Se o endividamento se aproximar do teto, os dividendos podem cair de 14% para entre 8% a 10%", estima. Por outro lado, Araújo, considera a estrutura da dívida equilibrada, coerente com o perfil de risco da petroleira e o setor, e sem preocupação no curto prazo.

A gestão da Petrobras já indicou que vai revisar o plano de negócios 2026-2030, priorizando caixa, redução de custos e disciplina de capital, mas mantém os investimentos de US$ 18,5 bilhões para 2025. O plano costuma ser divulgado em novembro.

Extraordinários? Só com milagre ou petróleo a US$ 70

A Petrobras ainda não descarta os dividendos extraordinários, mas tudo depende do caixa e do preço do petróleo. Fernando Malgarejo, diretor financeiro da companhia, afirmou que isso só seria possível em 2025 com geração de caixa robusta e evolução do preço do petróleo. Em 2026, a decisão passa a depender dos ajustes do novo plano de negócios.

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Há divergências. Alguns analistas acham que o petróleo a US$ 70 já permite o extraordinário, outros só esperam isso com o brent em US$ 100. Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, "se houver caixa acima do mínimo e visibilidade, é possível distribuir um extraordinário", diz. Mas ele vê essa possibilidade apenas após novembro, quando sai o plano.

Já Filipe Ferreira, sócio da ComDinheiro/ Nelógica, acredita que, embora não no nível de antes, há espaço para um dividendo extraordinário em 2025, possivelmente impulsionado por uma motivação política e necessidade de recursos do governo.

Tem os que duvidam mais, como Julio Vieira, contribuidor do TC. Para ele, o pagamento extra exige três fatores: alta do brent, controle da alavancagem (hoje em 1,45x ebitda) e geração de caixa após investimentos e despesas.

"Com os investimentos subindo e o brent pressionado, a tendência no curto prazo é de menor propensão a dividendos extraordinários, a não ser que ocorra uma reversão no cenário internacional", afirma.

Talvez seja melhor, por ora, se contentar com os dividendos regulares.

Hora de comprar Petrobras?

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Apesar de um cenário desafiador, as recomendações para compra de PETR4 seguem predominando. O retorno esperado em dividendos vai de 10,5% a 15%, embora o risco-retorno da ação não seja tão atrativo para todos os analistas.

E as rivais?

Enquanto a Petrobras tenta reacender a chama de um relacionamento morno com seus investidores, concorrentes como Petroreconcavo (RECV3) estão avançando no quesito dividendos.

Sem uma política estabelecida, a Petroreconcavo já entregou um dividend yield de 12,63% nos últimos 12 meses e tem um retorno em dividendos projetado de 18,35% para os próximos 12 meses, desde que mantenha o lucro e a política de remuneração, segundo estudo da Elos Ayta. Ou seja, pode pagar mais que a Petrobras.

Já as nanicas, Brava (BRAV3) e Prio (PRIO3), não pagaram nada nos últimos 12 meses e seguem sem sinal de dividendos.

Amor antigo, com contrato novo

Fica nítido que a relação com Petrobras não acabou, mas não é mais aquele romance. Hoje virou conveniência. Enquanto o caixa continuar forte e o dividend yield acima de 10%, ainda há motivos para ficar.

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Para quem quer mais previsibilidade e menos DR, talvez seja a hora de flertar com novas alternativas, como a Petroreconcavo ou outras ações perenes. A Petrobras ainda tem muito a oferecer, mas não é a mesma do passado. Não adianta idealizar paixões antigas, é o caminho mais curto para a frustração.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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