Dá para pagar o aluguel com Petrobras? Fizemos a conta com dividendos

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Nos últimos dias surgiram muitos questionamentos sobre a capacidade de a Petrobras manter os seus dividendos extraordinários no futuro. Os regulares estão garantidos, por ora, mas até o governo recebeu menos proventos neste 1° trimestre de 2025.
Dos R$ 16,7 bilhões efetivamente desembolsados de janeiro até março deste ano — ou seja com pagamentos realizados, não apenas anúncios de proventos — R$ 4,86 bilhões foram destinados ao governo federal, pela participação da União na empresa, de 29,02%. Foi o menor valor para um primeiro trimestre desde 2023. Os dados são da Elos Ayta Consultoria.
É inegável que o investidor vive uma relação morna com a Petrobras, onde remunerações atrativas de 20% ou mais parecem ter ficado no passado. Para 2025, as projeções de retorno em dividendos (o tal do dividend yield) estão mais modestas, entre 10,5% e 15%. Ainda assim, convenhamos, é um bom retorno, acima de média da Bolsa que costuma ser 6%.
Enquanto a petroleira vive um cenário de "controle de custos e apertos de cintos", o investidor pode aproveitar dos dividendos regulares para gerar um fluxo de renda mensal que facilite um pouco a sua vida. Os investimentos são uma ferramenta poderosa para nos ajudar a conquistar sonhos, uma aposentadoria, mas também podem nos ajudar a "viver melhor" nessa jornada.
Nestes dias, estava acompanhando um canal de investimentos, quando me deparei com um comentário de um investidor que chamou a minha atenção: "Já estou conseguindo pagar meu aluguel com dividendos da Petrobras", afirmava o internauta.
Foi quando me questionei, será que isso é mesmo possível? A empresa teria previsibilidade e um histórico de dividendos elevado o suficiente para esse objetivo?
Com ajuda do Fábio Sobreira, analista e sócio da gestora Rocha Opções de Investimentos, decidimos colocar na ponta do lápis e simulamos quanto seria necessário investir nas ações da Petrobras (PETR4) para pagar seu aluguel com dividendos da petroleira e quanto tempo isso levaria com aportes mensais de R$ 500 e R$ 1000 na empresa, reinvestindo todos os proventos recebidos.
Importante destacar que nos últimos 5 anos, a mediana de dividend yield (retorno em dividendos) da Petrobras (PETR4) foi de 25,73%. Utilizamos esta métrica para o cálculo, afinal o indicador representa o histórico mais fiel e conservador de como uma companhia remunera os seus acionistas.
Tem alguns pontos que precisam ser levados em conta. A Petrobras remunera os seus acionistas cerca de 8 vezes ao ano, pelo menos esta é a prática vista nos últimos anos, embora não exista uma periodicidade estabelecida em estatuto, a companhia faz anúncios trimestrais.
Desta forma, a dica de Sobreira - se tratando de uma companhia que oscila bastante por depender do preço do petróleo - é guardar os dividendos pagos do primeiro ano em uma reserva de renda fixa com liquidez diária, que pode ser um Tesouro Selic ou um CDB (Certificado de Depósito Bancário) que renda 100% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário e principal indexador da renda fixa), facilitando o resgate dos recursos.
Com esse dinheiro dos dividendos guardado, fica mais fácil ter uma previsibilidade e dividir os valores do aluguel dos próximos 12 meses, em um fluxo mensal consistente. A ideia é repetir este exercício todo ano, de forma com que os dividendos da Petrobras do ano anterior paguem o aluguel do ano seguinte.
Outra dica de Sobreira é estabelecer uma meta anual de renda para os aluguéis, de forma que se a Petrobras pagar dividendos extraordinários em um ano, este valor pode ficar na reserva, para compensar eventuais ciclos em que a companhia reduza seus dividendos, afetada por alguma variável como petróleo ou investimentos.
"Apesar estar atrelada a uma commodity como o petróleo, a Petrobras é uma boa empresa para receber dividendos. Mas só quando o governo não intervém nela", aponta Sobreira.
Bora fazer as contas
Para a simulação utilizamos o último dado disponível do estudo de locação residencial do Índice FipeZAP. Nele informa que o preço do metro quadrado (m²) para um imóvel de 1 dormitório é de R$ 64,48. Para dois e três dormitórios, o preço do m² seria de R$ 45,07 e R$ 41, respectivamente.
Em relação à metragem para cada tipo de imóvel, tomamos como base valores informados em plataformas como Quinto Andar. Desta forma, para 1 dormitório optamos pelo tamanho de 40 m², para 2 dormitórios de 70 m² e 3 dormitórios com 90 m². Os valores ficaram da seguinte forma:
- Aluguel mensal médio no Brasil de imóvel de 40 m² com 1 dormitório: R$ 2579,2
- Aluguel mensal médio no Brasil de imóvel de 70 m² com 2 dormitórios: R$ 3154,9
- Aluguel mensal médio no Brasil de imóvel de 90 m² com 3 dormitórios: R$ 3690
Com base nisso fizemos as contas:
Aluguel de imóvel de 1 dormitório com dividendos da PETR4
- Patrimônio necessário para aluguel mensal de R$ 2579,20: R$ 120.289
- Tempo para conquistar renda do aluguel com aportes mensais de R$ 500 e reinvestimento dos dividendos: 7 anos e 7 meses
- Tempo para conquistar renda do aluguel com aportes mensais de R$ 1000 e reinvestimento dos dividendos: 5 anos e 3 meses
Aluguel de imóvel de 2 dormitórios com dividendos da PETR4
- Patrimônio necessário para aluguel mensal de R$ 3154,90: R$ 147.139
- Tempo para conquistar renda do aluguel com aportes mensais de R$ 500 e reinvestimento dos dividendos: 8 anos e 3 meses
- Tempo para conquistar renda do aluguel com aportes mensais de R$ 1000 e reinvestimento dos dividendos: 5 anos e 10 meses
Aluguel de imóvel de 3 dormitórios com dividendos da PETR4
- Patrimônio necessário para aluguel mensal de R$ 3690: R$ 172.095
- Tempo para conquistar renda do aluguel com aportes mensais de R$ 500 e reinvestimento dos dividendos: 8 anos e 11 meses
- Tempo para conquistar renda do aluguel com aportes mensais de R$ 1000 e reinvestimento dos dividendos: 6 anos e 5 meses
Desta forma, com disciplina, aportes consistentes e poder do reinvestimento, a partir de 5 anos já é possível pagar seu aluguel com proventos da Petrobras.
O governo passou vontade
Como citamos no começo desta coluna, o governo federal recebeu o menor valor em dividendos para um 1° trimestre desde 2023, o que também acaba enfraquecendo a gordura dos cofres públicos.
A Petrobras é fonte recorrente de receitas extraordinárias do governo federal, principalmente nos anos em que a companhia tem maior geração de caixa.
Segundo o estudo da Elos Ayta, com nove trimestres analisados desde 2023, os maiores pagamentos da Petrobras ao governo ocorreram no 2° trimestre de 2024, quando a estatal desembolsou R$ 37,6 bilhões e pingou para a União R$ 10,77 bilhões, recorde do período.
Na segunda posição está o 4° trimestre de 2024, com R$ 32,95 bilhões pagos pela empresa e R$ 9,45 bilhões destinados ao governo.
Segundo Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta, a queda de repasses da Petrobras para o governo em um ano marcado por incertezas fiscais e pressão sobre as contas públicas e prestes a iniciar um ano eleitoral, acendem um alerta para a União que historicamente depende muito desses recursos para reforçar seu caixa.
Por outro lado, há alguns analistas ainda otimistas, que acreditam que a geração de caixa dos próximos anos vai favorecer mais o governo do que o próprio investidor. É o que defende Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital.
Queiroz cita o ponto de equilíbrio da Petrobras para continuar operando de forma saudável, com petróleo em US$ 28. E ainda defende que esse preço de equilíbrio vai cair nos próximos anos com a entrada de novos poços do pré-sal. "Com o desinvestimento, pode chegar a um valor de um dígito", diz. Com petróleo acima de US$ 60, parece que ainda há esperança.
Será que a relação entre a Petrobras e o governo também está ficando morna e rotineira? Se você quer saber o que esperar dos dividendos regulares e extraordinários da Petrobras, contei tudo nesta coluna. Petrobras e investidores: quando a relação esfria, mas ninguém vai embora.
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