Mariana Barbosa

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Reportagem

Nubank se alia a Itaú em movimento para limitar concorrência no consignado

Os bancos tradicionais - com apoio do Nubank - estão se articulando para tentar alterar as regras do programa de consignado privado de forma a limitar a portabilidade de dívidas. Segundo fontes do setor, o tema foi tratado em uma reunião on-line realizada por técnicos das instituições nesta sexta-feira e dividiu as instituições financeiras.

Em nota, o Itaú Unibanco negou ter participado de qualquer reunião setorial em que teriam sido discutidas barreiras ao consignado privado. "O banco esclarece que é absolutamente a favor da ampla e livre concorrência, de forma a garantir acesso irrestrito ao consignado privado para a população."

A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) disse que defende "todos os mecanismos de portabilidade de crédito" e que tem colaborado com o governo para implementação do novo crédito consignado privado, visando, sempre, fomentar a concorrência (Íntegra da nota abaixo).

Já o Nubank afirmou que "não defende qualquer tipo de trava na oferta de crédito consignado privado que possa impedir um cliente de substituir uma dívida existente (de crédito pessoal) por uma dívida nova (de crédito consignado, com juros menores)". (íntegra da nota abaixo)

Segundo fontes, o Nubank, que nasceu desafiando os bancões, teria se unido ao Itaú na defesa de uma trava para impedir que outras instituições tenham acesso à informação sobre as dívidas dos clientes e que possam fazer ofertas de substituição de dívidas - trocando um crédito pessoal com taxas da ordem de 8% ao mês por um consignado mais barato, em torno de 3% a 4%.

Lançado há uma semana, o consignado privado já soma cerca de R$ 1,5 bilhão em crédito contratado. Todas as linhas são novas. Apesar de ter sido anunciado como um programa para aliviar o bolso do trabalhador com a substituição de uma dívida cara por uma mais barata, nesta fase do programa as instituições estão proibidas de ofertar crédito para quem já tem linhas ativas de crédito pessoal ou de consignado privado (pelo programa antigo, restrito à trabalhadores de grandes empresas). A instituição até pode oferecer uma simulação para esse cliente no aplicativo, mas não pode efetivamente ofertar uma proposta neste momento.

A disputa que divide incumbentes e Nubank e os bancos digitais é pela segunda fase do programa, quando seria liberada a oferta para quem já tem crédito. As instituições têm quatro meses para enviar para a Dataprev — empresa pública de dados responsável pelo clearing do programa de consignado — a base de clientes com os quais possui linhas de crédito. Hoje a Dataprev consegue saber se a pessoa tem crédito ativo, mas não com qual instituição.

Itaú e Nubank lideram na concessão de crédito pessoal no país. O Itaú também lidera no consignado privado. Na reunião da Febraban, segundo apurou a coluna, as duas instituições defenderam mudanças no programa para que haja uma trava para impedir a portabilidade, impedindo que outros bancos possam fazer ofertas de substituição de dívida. Pela proposta, apenas a instituição que concedeu o crédito poderia fazer ofertas.

Mais de 35 instituições financeiras estão homologadas na plataforma, mas poucas estão efetivamente ativas: entre elas, Agibank, Caixa, Safra, Banco do Brasil, PAN, Sicredi e algumas financeiras como Facta, Parati e Upp e QI Tech.

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O consignado privado oferece juros menores por contar com garantia de 10% do saldo do FGTS do trabalhador. E o dinheiro da multa rescisória em caso de demissão. Se a garantia não for suficiente, o saldo a pagar fica atrelado ao e-social e, quando arrumar um novo emprego, o desconto entra automaticamente no salário.

Para deixar claro o carimbo do governo na criação do programa, até o dia 25 de abril o trabalhador precisa entrar no aplicativo da Carteira Digital de Trabalho para solicitar simulações de propostas. Com as propostas na tela, ele escolhe o banco desejado, baixa o aplicativo e solicita uma proposta efetiva — esta ainda pode ser um pouco diferente da simulação em termos de prazos, valores e taxas. A partir do dia 25, os bancos estão liberados para ofertar crédito pelo consignado diretamente.

Abaixo a íntegra da nota da Febraban e do Nubank:

A Febraban, que não foi consultada para se posicionar, manifesta estranheza e sua enorme contrariedade às fontes irresponsáveis da notícia de que teria havido uma reunião em sua sede, ou de que teria participado de uma reunião virtual, para tentar alterar as regras do programa do consignado privado, de forma a limitar a portabilidade de dívidas, conforme publicado na primeira versão da notícia.

A informação passada pelas fontes da matéria é completamente inverídica e a Febraban desafia qualquer fonte do setor financeiro a mostrar algum mínimo indício de procedência da notícia. Isso porque não ocorreu e não ocorrerá nenhuma reunião na Febraban ou entre seus bancos associados, virtual ou presencial, para buscar restringir a portabilidade de crédito na nova linha de consignado.


A Febraban defende todos os mecanismos de portabilidade de crédito e tem colaborado, inclusive ativamente com o governo, para implementação do novo crédito consignado privado, visando, sempre, fomentar a concorrência para, ao final, levar aos consumidores as melhores experiências e menores taxas de juros, para melhorar o perfil de endividamento das famílias e reduzir o comprometimento da renda dos trabalhadores, especialmente daqueles que atualmente estão acessando linhas de crédito pessoal mais caras e sem a garantia da nova consignação.

Nota do Nubank:

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É falsa a reportagem da jornalista Mariana Barbosa no UOL "Nubank se alia a Itaú em movimento para limitar concorrência no consignado" (28/3/2025).

O Nubank não defende qualquer tipo de trava na oferta de crédito consignado privado que possa impedir um cliente de substituir uma dívida existente (de crédito pessoal) por uma dívida nova (de crédito consignado, com juros menores), nos termos da Medida Provisória editada pelo governo.

Muito pelo contrário: O Nubank defende a portabilidade de dívidas de forma ampla, e já está fornecendo para a Dataprev as informações de sua própria carteira de empréstimos pessoais. Além disso, o Nubank está colaborando com a Dataprev, via associações do setor, na viabilização da portabilidade e do fluxo técnico para "troca da dívida" no programa de crédito consignado privado.

Atualização:

O texto foi corrigido com a informação de que a reunião das instituições foi online e não na sede da Febraban. E atualizado com o posicionamento de Febraban, Itaú e do Nubank.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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