Mariana Barbosa

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Reportagem

Exportadores antecipam embarque para escapar de tarifaço de Trump

Fabricantes de peças automotivas estão antecipando exportações para os EUA, aproveitando uma janela dada pelo presidente americano Donald Trump para o setor.

Por pressão da indústria nos EUA, o setor de autopeças ficou de fora da tarifa de 25% anunciada por Trump para o automóvel importado — mas só até 1º de maio. Não se sabe ainda qual vai ser a alíquota a ser adotada a partir do mês que vem nem se haverá escalonamento.

O transporte de navio dura 21 dias — e as fabricantes correm contra o tempo. — Até a última hora, ainda vamos ver empresas mandando mercadoria de avião — estima Bruno Russo, fundador e vice-presidente da Timbro, empresa de trading que movimentou R$ 18 bilhões no comércio exterior no ano passado.

Na semana passada, outros setores, como farmacêutico e de partes e peças eletrônicas, que são produtos mais leves, também anteciparam embarques, por via aérea.

— As empresas estão antecipando o que podem. Criou-se uma instabilidade gigantesca — diz Welber Barral, consultor e ex-secretário de Comércio Exterior.

A tentativa de reduzir o déficit americano e promover a reindustrialização do país por meio da imposição de tarifas contra seus principais parceiros comerciais está detonando uma guerra tarifária global, com consequências incertas.

— Cada setor está tentando entender os impactos. Nem todos os setores exportadores brasileiros vão sofrer. Petróleo e derivados, que são itens importantes da nossa pauta de exportação, ficaram de fora — diz Barral. - Mas os EUA vão seguir importando. O quanto, vai depender da queda do consumo interno e certamente essas medidas vão afetar os mais pobres —.

Ele explica que a participação do Brasil no comércio internacional está concentrada no início das cadeias produtivas, com insumos petroquímicos, químicos, metais, aço, alumínio e cobre. — Nas commodities industriais, a margem é muito pequena e qualquer tarifa faz muita diferença — diz.

Um dos temores é que se repita o que aconteceu no primeiro mandato de Trump, com a primeira rodada de tarifas sobre produtos chineses: o mercado foi inundado por esses insumos vindos da Ásia, com preços abaixo do valor de produção - prática conhecida como dumping.

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— Há risco desses produtos chegarem com dumping e a gente tenha que adotar medidas antidumping. Aconteceu em 2017 e 2018 e agora vai acontecer mais — diz Barral, citando o exemplo do aço.

AGRONEGÓCIO

Na guerra comercial planetária, o agronegócio brasileiro é dos poucos que conseguem vislumbrar um cenário de crescimento caso as medidas não sejam revertidas. Como os EUA são um dos nossos maiores competidores na venda para a China, a escalada tarifária entre os dois países torna os grãos brasileiros relativamente mais baratos.

Com 60% dos negócios concentrados na importação, exportação e distribuição de commodities, a Timbro está revendo para cima sua projeção inicial de crescimento do faturamento, para R$ 25 bilhões este ano. — Esse valor não inclui o impacto das medidas de Trump. Mas é possível que a gente colha frutos dessa política agressiva — diz Russo, que ainda tem esperanças de que os EUA possam voltar atrás em algumas tarifas. - Esse é um jogo sem vencedor. Estamos torcendo para que o diálogo seja restabelecido. Há sinais de conversas com o Japão —.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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