Codeshare: tarifa sobe 23% nas rotas em que Azul e Gol deixaram de competir
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O acordo de compartilhamento de voos entre Azul e Gol, conhecido como codeshare, levou a um aumento médio da ordem de 23% nas tarifas das cinco rotas em que as duas empresas não mais competem - com uma ou outra deixando de operar.
O levantamento foi realizado com dados de tarifa da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), expurgando efeitos como sazonalidade e outros fatores que não o codeshare propriamente dito.
Em tratativas para uma possível fusão, Azul e Gol formalizaram um acordo de codeshare em maio do ano passado. Nesse tipo de acordo comercial, comum no setor aéreo, as empresas ficam autorizadas a vender voos da parceira em seu sistema, podendo emitir um único bilhete em caso de voos de conexão envolvendo as duas bandeiras, por exemplo. Na época do acordo, as duas empresas tinham sobreposição de malhas em 41 rotas.
O levantamento compara dados de tarifa do segundo semestre de 2024 com o primeiro semestre de 2024. O estudo utilizou um grupo de controle para avaliar o efeito líquido da redução da competição com a saída de uma empresa. Isso significa excluir causas como sazonalidade ou preço de combustível, que afetam igualmente preços das rotas do codeshare e do grupo de controle. Essa metodologia é amplamente usada na academia e também nas análises do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Foi usado, entre outros, no estudo de impacto da compra da Webjet pela Gol.
Até o mês passado, Gol ou Azul já haviam deixado de operar em cinco das 41 em que elas concorriam quando foi firmado o acordo de codeshare, deixando a parceira sozinha. A partir deste mês, o número de rotas em que uma ou outra deixou de operar subiu para 9 — o que representa mais de 20% das rotas com sobreposição.
Como a coluna mostrou, o acordo levou a uma redução de 11% na oferta de voos nas rotas operadas em codeshare.
A Azul contesta os dados de oferta e diz que apesar da redução de voos em algumas rotas, houve aumento de oferta em pelo menos sete outras rotas. As empresas dizem que relativamente à oferta total, o volume de oferta compartilhada no codeshare teria se mantido inalterado.
Dentre os exemplos de rota em que houve aumento de oferta está Confins (BH)-Galeão (RJ) — respectivamente hubs da Azul e da Gol. A Azul diz que ampliou a oferta em 40% nessa rota. A Gol, em 29%.
A análise da concorrência no setor, contudo, deve avaliar o impacto da saída de um competidor na oferta e nos preços nos diferentes mercados. E em caso de cidades com mais de um aeroporto, toda a 'terminal'.
No segundo semestre, a Gol parou de voar na rota Confins-Maceió, deixando a Azul sozinha, enquanto a Azul saiu de Galeão-Maceió. Excluindo fatores de causalidade, o aumento médio das tarifas nas duas rotas foi da ordem de 15,4% no segundo semestre de 2024, na comparação com o primeiro.
Mas a Gol operou sozinha Maceió-Galeão até o final do ano passado. Este ano passou a enfrentar a competição da Latam. Ainda é cedo para avaliar o impacto da entrada da Latam nas tarifas da rota.
Já na rota Galeão-Confins, mesmo com Azul e Gol aumentando a oferta, os preços subiram 34% no segundo semestre, na comparação com o primeiro. Aqui também caberá avaliar o impacto do incremento da oferta por um prazo mais longo: os preços subiram muito em novembro e dezembro, mas em janeiro a tarifa média da Azul caiu 3%, enquanto a da Gol caiu 2% em fevereiro. Os dados de 2025 são da Anac e não foram 'tratados' para eliminar outros efeitos que possam afetar os preços.
O estudo mostra também que Azul e Gol concorrem em 50 rotas regionais que têm como origem ou destino algum aeroporto que não seja um dos 12 aeroportos considerados não regionais pela reforma tributária (os mais movimentados do país). Em um cenário de fusão, elas serão monopolistas em 26 dessas 50 rotas — que são ligações não operadas pela Latam hoje.
Consulta prévia ao Cade
O acordo de codeshare não foi submetido previamente ao Cade — o que gerou uma discussão sobre a necessidade ou não, uma vez que acordos de codeshare entre empresas brasileiras e estrangeiras costumam dispensar análise prévia. Na semana passada, porém, o Cade publicou uma decisão isentando as empresas de multa por não terem feito consulta prévia, mas determinando que elas formalizem o acordo antes de completar dois anos do início da implementação, caso ainda esteja em vigor. A proposta da fusão também não chegou ao Cade. As empresas anunciaram um memorando não vinculante sobre as negociações e intenção de se unirem. A operação depende ainda da conclusão dos processos de reestruturação das duas empresas. Normalmente, fusões são comunicadas ao Cade após as partes concordarem com os termos da operação. Dada a complexidade do caso, Azul e Gol disseram que iriam comunicar o Cade antes mesmo de fecharem o negócio, mas a formalização ainda não aconteceu.
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