Mariana Barbosa

Mariana Barbosa

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Trump muda rotina - e os investimentos - até dos brasileiros ricos em Miami

As políticas erráticas do presidente americano Donald Trump estão alterando não só a rotina das comunidades de imigrantes brasileiros de classe média e baixa renda, mas também dos endinheirados com casa na Flórida e investimentos em dólar.

Mesmo aqueles que já garantiram o green card após anos vivendo nos EUA já pensam em emigrar para Portugal, enquanto na carteira a ordem é diversificar e reduzir a exposição aos EUA.

Henrique Pinheiro, líder de gestão de patrimônio Brasil da Bolton Global Capital, maior administradora de recursos independente de Miami, com US$ 17 bilhões sob gestão, diz que mesmo com o dólar desvalorizado, Miami está se tornando proibitiva. Ele diz ver um movimento de brasileiros vendendo suas casas para aproveitar a forte valorização, ou então alugando apartamentos para viver na Europa com a renda do aluguel.

Desde a covid, quando detentores de grandes fortunas em Nova York se mudaram para a Flórida em busca de sol e menor tributação, os preços dos imóveis passaram por forte valorização. Muitas empresas de lideranças trumpistas também se mudaram para a Flórida para ficar próximas de Mar-a-Lago, o resort de Trump, ajudando a inflacionar o mercado imobiliário e os serviços em geral. Quando o Citadel, hedge fund do mega investidor Kenneth Griffin, amigo de Trump, anunciou a mudança de sua sede para Miami, o prefeito mandou construir um anexo em uma das melhores escolas da cidade para abrigar 200 alunos de filhos de funcionários do headfund.

"Miami virou Beverly Hills, está tudo caríssimo. E com a política de imigração, agora também falta mão de obra para trabalhar nas casas", diz Pinheiro. "Se você aluga um apartamento por US$ 10 mil ou US$ 15 mil em Miami, você vive como rei em Portugal."

O regime especial de tributação de Portugal para imigrantes de alta renda garante isenção de tributos de fontes estrangeiras — e, portanto, alugueis nos EUA chegam sem tributos. "É um dinheiro que entra líquido e permite viver como milionário", diz Pinheiro. E diferentemente dos EUA, na Europa os imigrantes de baixa renda seguem na labuta. Não faltam faxineiras e babá para aqueles que não abrem mão do padrão brasileiro.

DIVERSIFICAÇÃO DAS CARTEIRAS

De acordo com assessores de investimento ouvidos pela coluna, os brasileiros com recursos em dólar estão ansiosos e em busca de informações sobre como lidar com a volatilidade nos mercados provocada pelas políticas e declarações do presidente americano.

"Estamos vendo muita procura e muito receio por parte dos clientes. E o trabalho do advisor financeiro, sobretudo em momentos de alta volatilidade, é ser um pouco coach emocional. Existe um valor agregado em ajudar o cliente a ter um controle emocional, para não agir no afã do momento e não incorrer em perdas", diz William Castro Alves, estrategista chefe da Avenue.

Continua após a publicidade

E o conselho neste momento é manter a calma, pois apesar de todos os problemas autoinfligidos por Trump, que caminha para provocar uma recessão nos EUA e por consequência global, o país não vai falir. "O índice dólar - que mede a relação do dólar com outras moedas - já caiu 10%, mas será que vai cair tanto mais? No primeiro mandato do Trump, depois que ele assumiu, o índice caiu 15%, mas depois o dólar se valorizou na pandemia", diz Alves. "Precisamos trazer tranquilidade para o debate e contrapor argumentos de que haverá falência dos EUA, do dólar. Mas se o investidor não está preparado para a volatilidade das Bolsas, é melhor ter menos exposição e mais renda fixa."

Depois da guerra das tarifas com a China, Trump voltou a causar turbulência nos últimos dias desferindo ataques ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, demandando queda "imediata de juros" e levando a questionamentos sobre uma possível perda de independência da autoridade monetária. Antes de Trump voltar atrás e dizer que não é bem assim, o dólar acentuou a sua desvalorização — alcançando na segunda-feira o menor valor frente ao euro e ao franco suíço nos últimos 3 anos.

"Os clientes que antes só pensavam em comprar ações das "Magnificent Seven" — as sete maiores empresas de tecnologia americanas — migraram para os títulos do Tesouro americano, que estão pagando juros de 4,5%", diz Pinheiro, da Bolton Global Capital.

O gestor de grandes fortunas de um banco brasileiro com presença em Nova York e Miami relata ainda um movimento de clientes adquirindo notas estruturadas — investimento que combina renda fixa e variável, como os COEs (Certificados de Operações Estruturadas) — em franco suíço, como proteção contra a desvalorização do dólar.

Outro gestor de um banco suíço em Genebra diz que nas últimas semanas aumentou a consulta de brasileiros com recursos nos EUA querendo abrir conta no país europeu, em busca de uma estratégia mais diversificada. No entanto, com a perspectiva dos juros, que já estão a 0,25% na Suíça, caírem a zero, a diversificação na carteira inclui investimentos em renda variável, como ações de empresas da Europa, Japão e Ásia.

A diversificação também é motivada pelo temor de que possa haver alguma medida de controle de capital para estrangeiros não residentes com recursos no país.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.