Consignado privado evita que o trabalhador caia no rotativo do cartão
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Um levantamento dos ministérios do Trabalho e Emprego e da Fazenda com dados do Banco Central mostra que o uso do rotativo do cartão de crédito encolheu quase R$ 3 bilhões em abril — mês em que as concessões no crédito do trabalhador somaram R$ 3,3 bilhões. É a maior queda no rotativo do cartão da série histórica.
O levantamento sugere que o novo crédito consignado privado pode estar ajudando a evitar que o trabalhador caia no rotativo por falta de dinheiro para pagar a fatura do cartão em dia. O consignado privado é um crédito mais barato por contar com desconto na folha e garantia de 10% do saldo do FGTS — e 100% da multa rescisória em caso de demissão.
O programa foi lançado em 21 de março e, no primeiro mês, as instituições só estavam autorizadas a oferecer o crédito para quem ainda não tinha nenhuma outra dívida contratada - seja crédito pessoal ou cheque especial. Era, portanto, uma dívida nova — mas que evitou que o trabalhador se enrolasse com uma dívida muito mais cara. Em abril, a taxa no rotativo do cartão ficou em 15,1%, enquanto o crédito do trabalhador teve média de 3,9%, segundo dados divulgados pelo BC esta semana.
A taxa do consignado privado no primeiro mês cheio do programa ficou 1 ponto percentual acima do consignado privado da modalidade antiga (2,9%), limitada a trabalhadores de grandes empresas por meio de convênios com bancos. No entanto, a taxa já começou a cair. Segundo o MTE, em maio ela foi de 3,28%.
A Associação Brasileira dos Bancos (ABBC) estima que as tarifas devem cair mais acentuadamente a partir do terceiro trimestre e podem chegar a menos de 2,9%.
"E natural que as taxas ainda estejam mais altas que na modalidade antiga. O mercado ainda está entendendo os riscos e desenhando os produtos. Mas acreditamos que com o tempo, com os bancos entrando com mais força, a tarifa poderá ficar abaixo de 2,9%", diz Leandro Vilain, presidente da ABBC.
Apesar da garantia do FGTS, o consignado privado é mais complexo de ser modelado pelos bancos dada a variedade do perfil do cliente e do empregador, que pode ser desde micro a grandes empresas.
Desde o lançamento até esta sexta-feira, já foram concedidos R$ 13,3 bilhões em empréstimos pelas regras do Crédito do Trabalhador, beneficiando 2,3 milhões de pessoas. A ABBC acredita que o volume de crédito pode chegar a R$ 150 bilhões em um ano. Cerca de R$ 70 bilhões, segundo Vilain, deve vir de legado do crédito pessoal sem garantia.
Neste início do programa, os bancos públicos, em especial o Banco do Brasil, estão mais agressivos na concessão, juntamente com algumas fintechs ou bancos digitais. A expectativa é de que os volumes dos grandes bancos aumentem na medida em que os primeiros pagamentos começarem a ser feitos e algumas questões operacionais sejam solucionadas, como a portabilidade de folha de pagamento quando o trabalhador muda de emprego.
"Começamos cautelosos, testando modelos com dez tipos de públicos diferentes. Quando os modelos estiverem afinados, vamos escalar", diz o CEO do Neon, Fernando Miranda.
O programa vem sendo implementado em fases. Foi só a partir de 25 de abril que passou a ser possível a substituição de dívida cara por uma barata dentro da mesma instituição, quando o canal próprio dos bancos foi liberado. No início, as simulações só podiam ser feitas dentro do aplicativo da carteira digital de trabalho.
Já a portabilidade de dívidas entre instituições começou no dia 6 de maio, permitindo que um cliente com um empréstimo pessoal pudesse converter a dívida para um consignado privado de outra instituição de forma automática. A partir de junho, será liberada a portabilidade entre créditos consignados privados de diferentes instituições. A partir de julho, as garantias do FGTS passam a ser liberadas.
"A substituição de dívida cara por mais barata é parte da regra do programa. Mas na medida em que ele vai abrindo, não se pode descartar que vá haver também acúmulo de dívida, considerando que os volumes que se vislumbram são 10 vezes maiores do que o atual", diz Lauro Gonzalez, professor e coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.
Gonzalez vê espaço para uma redução mais agressiva das taxas de juros do programa a partir de julho, com a liberação das garantias do FGTS. "A implementação é complexa, mas se funcionar bem, o risco se altera. Tem muita instituição atuando de forma mais agressiva. Acredito que temos um cenário para uma queda mais expressiva. Uma taxa de 2,8% não chega a ser tão baixa. Equivale a 39% ao ano", diz.
Em nota, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, diz que monitora os juros diariamente. "Queremos baixar ainda mais as taxas de juros, mas entendemos que os bancos ainda estão em fase de implantação", diz Marinho, que acredita a portabilidade e a liberação das garantias vão levar a uma queda nas taxas.
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