QuintoAndar fecha subsidiária com onda de calotes de fiadores
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A plataforma de imóveis QuintoAndar encerrou as operações do QuintoCred — uma garantidora de alugueis que prestava serviço para outras imobiliárias. A empresa tinha 45 mil contratos de locação vigentes com 3.000 imobiliárias e comunicou ontem ao mercado que só irá garantir contratos por mais 60 dias - após a data de aniversário do contrato - ou no máximo até 2 de outubro de 2025 - deixando imobiliárias e locadores apreensivos.
O encerramento das operações da QuintoCred acontece em um momento de instabilidade no setor de garantidoras digitais de alugueis, com uma alta de reclamações em sites de defesa do consumidor contra diversas empresas novatas nesse segmento e que não estão sujeitas a qualquer tipo de regulamentação, como Onda Segura, ImovPago, Avalyst — e a própria QuintoCred.
O QuintoCred empregava 250 pessoas: 43 foram desligadas e as demais foram absorvidas por outros departamentos. A plataforma imobiliária soma 3.500 funcionários. Procurado, o QuintoAndar diz que a decisão de encerrar o produto de garantia foi "de negócio" e não tem relação com problemas de saúde financeira de alguns players do mercado. A empresa acumula mais de mil reclamações na plataforma do QuintoAndar nos últimos 12 meses.
O segmento de fiança de aluguel é operado tanto por seguradoras como Porto Seguro e Tokio Marine, que são reguladas pela Susep, como por garantidoras locatícias que são empresas não reguladas. Nos últimos anos, o mercado atraiu empresas aventureiras que vendem a garantia de aluguel sem uma análise de risco mais meticulosa. Essas empresas crescem de forma rápida e depois desaparecem do mercado sem aviso prévio.
Segundo estimativas do setor, as empresas alvo de reclamações somam alguns milhares de contratos. Grande parte das reclamações diz respeito a atrasos nos repasses do valor do aluguel quando há atraso.
O serviço dos avalistas é oferecido pelas imobiliárias para o locador, mas quem paga é inquilino: geralmente o equivalente a 10% do aluguel. A contratação do serviço não é obrigatória, mas ela vem cada vez mais ganhando mercado por dispensar a apresentação de fiador ou um depósito caução. Hoje o fiador e a caução ainda estão presentes em cerca de 50% do mercado de alugueis.
Na contratação do fiador digital, quando o inquilino não paga o aluguel, a imobiliária abre o sinistro e cobra da garantidora. No Reclame Aqui, só a Onda Segura soma 80 reclamações nos últimos 12 meses e reputação "não recomendada", com clientes reclamando de atrasos nos repasses e dificuldade de estabelecer contato. A Avalyst soma 170 reclamações, mas tem nota "bom". A ImovPago tem 26 reclamações, todas respondidas, mas a empresa não é verificada pela plataforma de defesa do consumidor.
A imobiliária Príncipe Imóveis, de Santa Catarina, contabiliza um prejuízo de R$ 170 mil com atrasos em 140 contratos garantidos pela Onda Segura desde janeiro. O proprietário Reginaldo Eccel diz que depois de dezenas de tentativas de acordo, não consegue mais contato com a empresa. "Para piorar, eles seguem cobrando do locatário os pagamentos mensais do seguro", diz Eccel, que está tentando levantar um empréstimo para ressarcir clientes, enquanto planeja ações na Justiça para ser ressarcido pela garantidora.
O Quinto Andar entrou nesse segmento por meio da aquisição da garantidora Velo em dezembro de 2021. Rebatizado que QuintoCred, o produto de garantia de aluguel fazia parte de um pacote de serviços oferecidos para imobiliárias. O QuintoAndar segue garantindo o aluguel dos imóveis alugados pela sua própria plataforma.
A Loft também entrou nesse mercado com a compra da CredPago. Já as algumas seguradoras venderam carteiras ou, como a FairFax, deixaram de atuar nesse segmento.
Procurada antes da publicação, a Onda Segura disse que não iria se pronunciar e alegou "incompatibilidade de agenda". Dias depois, a empresa contratou uma assessoria de imprensa e enviou uma nota à coluna dizendo "atuar em conformidade com os parâmetros vigentes na legislação e que segue rigidamente as normas de atuação do mercado". Diz ainda reconhecer "entraves" junto a "alguns contratos firmados", mas que "os mesmos já estão sendo solucionados e com negociações avançadas".
O CEO da Avalyst, Rogério Tavares, afirmou em nota que a empresa "opera há mais de seis anos no mercado de garantias locatícias, atuando em estrita conformidade com a Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91) e com o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), assegurando os direitos de inquilinos, proprietários e imobiliárias parceiras em todas as etapas da locação. Atualmente, mantemos parcerias sólidas com mais de 3.600 imobiliárias em todo o Brasil, sempre pautadas pela legalidade, eficiência e confiança mútua. Rejeitamos qualquer tentativa de associação a práticas aventureiras — nosso modelo é estruturado, transparente e voltado à estabilidade do setor."
A ImovPago diz que todos os pagamentos em casos de inadimplência de inquilino estão dentro dos prazos contratuais. Diz ainda que quando eventualmente acontece algum atraso, as imobiliárias são comunicadas.
Correção: Diferentemente do que escrito anteriormente, a ImovPago tem 26 reclamações no ReclameAqui (e não 36) e todas foram respondidas.
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