Mariana Barbosa

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Reportagem

É mais barato ir de São Paulo para o Rio de ônibus do que para o interior

Viajar de ônibus de São Paulo para o Rio de Janeiro, percorrendo 430 quilômetros, pode custar o mesmo que ir de São Paulo para Campinas, distante 92 quilômetros, para quem se planejar com antecedência.

Já para cidades como São José do Rio Preto, do convencional ao leito-cama, as passagens são mais caras do que para o Rio — apesar de ser tão distante quanto da capital paulista (440 km).

A falta de concorrência e uma política de preços controlados está levando a queda na oferta de serviços dentro do estado de São Paulo. O número de linhas e de empresas prestando serviço caiu 30% na última década — enquanto o volume de passageiros caiu à metade. Os passageiros estão migrando para aplicativos de carona ou fretados irregulares — ou para o carro individual, sobrecarregando a infraestrutura nas estradas.

A ligação com Campinas conta com apenas duas empresas ligando as principais rodoviárias: Cometa e Santa Cruz. VB e LiraBus também oferecem o serviço, mas com embarques ou desembarque nos aeroportos das duas cidades.

As passagens para Campinas custam R$ 53,30, independentemente da data ou antecedência de compra. (A ligação com os aeroportos, tem paradas, é mais demorada, e custa R$ 49,05)

Já as passagens para o Rio variam conforme a antecedência de compra — e nos últimos anos os preços vêm caindo devido à concorrência. A ligação é a maior em faturamento dentre as linhas interestaduais. Esse mercado, conhecido como TRIP (Transporte Rodoviário Interestadual de Passageiros), também tem pouca concorrência e restrições à entrada de novas empresas. A exceção fica para as linhas de maior demanda, como Rio-São Paulo, que representam cerca de 10% do total.

Uma passagem de SP-Rio para o dia seguinte tem preços que começam em R$ 64 no ônibus comum. E a partir de R$ 189,99 no leito cama. Já para compras com um ou dois meses de antecedência, os valores começam em R$ 53,83 (Adamantina, partida em 15 de agosto) no semi-leito — R$ 0,54 a mais do que uma passagem para Campinas no mesmo dia. Uma passagem de leito com partida 18 de julho começa em R$ 152,99.

A ligação São Paulo-São José do Rio Preto começa em R$ 165,39 no ônibus convencional. Na categoria cama, em R$ 240,54. Mais recentemente, foi lançado um serviço com paradas alternativas à rodoviária e preços mais acessíveis, começando em R$ 75,31 para o convencional (WeMobi), ainda acima do preço mais barato para o Rio de Janeiro. A WeMobi é uma marca 'jovem' do grupo JCA, dono da Cometa e 1001, criada para fazer frente à concorrência de empresas como a FlixBus. A empresa pratica uma política de preços agressivos nos horários de baixa demanda e em ligações menos convencionais, com paradas em pontos alternativos.

Judicialização

Tentativas de abertura do mercado esbarram na resistência das empresas tradicionais e frequentemente vão parar na Justiça. Na quarta-feira, a Justiça do DF negou um pedido do Grupo JCA em uma ação que tentava suspender autorizações dadas pela ANTT (Agência Nacional do Transportes Terrestres) à concorrente Expresso Adamantina em mercados que fazem parte do seu campo de atuação. Na sentença, o juiz Alaôr Piacini, da 17ª Vara Federal Cível do DF, justifica a negativa afirmando que o Grupo JCA "pretende manter seu mercado fechado em evidente prejuízo à concorrência, sendo certo que haverá a diminuição do seu lucro, contudo não há provas de que haverá prejuízo econômico capaz de inviabilizar a atividade das empresas autoras (Grupo JCA)".

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A decisão foi celebrada pela Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia), que fez parte da ação como amicus curiae. "A sentença reconhece, de forma clara, a necessidade de ampliação da concorrência no setor para ampliação dos benefícios ao consumidor, como mais acesso ao serviço, redução de preço, melhoria da qualidade e garantia de segurança", diz Ana Luisa Ferreira Pinto, sócia do Xavier Vasconcelos Advogados, que representa a Amobitec.

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