Mariana Grilli

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Opinião

Dos lares ao McDonald's, o preço da carne se torna vilão novamente

Seja nos lares ou no fast food, no Brasil ou nos Estados Unidos, o preço da carne tem se tornado um assunto indigesto. Por aqui, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta a maior alta nos preços da carne bovina desde dezembro de 2020. Já no país norte-americano, o McDonald's processa os maiores produtores da proteína animal no mundo, alegando que estariam agindo em conluio para elevar o preço.

No Brasil, dados do IBGE sobre o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) mostram que, no mês de setembro, as carnes — incluindo frango e suína — ficaram cerca de 2,97% mais caras, muito diferente da realidade vista no primeiro trimestre do ano. O contrafilé foi o corte que apresentou maior elevação de agosto para setembro, com alta de 3,79%.

O motivo começa lá no campo, e na seca que acomete as regiões produtoras. A falta de chuva e a incidência de queimadas prejudicam diretamente a criação dos animais. Enquanto no primeiro trimestre houve aumento no número de abates, no segundo semestre já era esperada uma redução, mas a estiagem prejudicou ainda mais a engorda do rebanho.

Diante da redução da oferta de animais, as cotações vêm subindo. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, no fim de agosto, a arroba do boi gordo era negociada a R$ 238,33. Um mês depois, no fim de setembro, a média era de R$ 268, o que significa aumento de 12%.

Na avaliação do ItaúBBA, em São Paulo, o mercado físico vem rompendo os R$ 280 por arroba, em meio à dificuldade da indústria em preencher as escalas de abates. "Além das exportações renovando recordes, o mercado interno aquecido impulsionou o preço da carne, porém, nos últimos dias, o spread da indústria no mercado interno caiu bastante dada a alta mais forte do boi", explica o banco.

Se no Brasil o clima é fator relevante para o comportamento de preços do boi, nos Estados Unidos, o McDonald's alega que os frigoríficos estão concordando em pagar menos pelo animal a fim de manter as respectivas margens mais favoráveis.

Na última sexta-feira, 4, a McDonald's Corporation apresentou queixa em um Tribunal Federal de Nova York contra Cargill, JBS, Tyson, Swift e National Beef, que, juntos, correspondem a mais de 80% da carne bovina fornecida no mercado dos EUA.

Ao longo das 100 páginas do processo, o McDonald's aponta que estes fornecedores estariam violando a lei antitruste do país, inclusive em conversas frequentes em feiras e reuniões.

"Eles implementaram sua conspiração coordenando, manipulando ou concordando em pagar preços menores do que competitivos pelo insumo principal ou primário na produção de carne bovina, ou seja, gado pronto para abate, com o propósito e o efeito de fixar, aumentar, estabilizar ou manter acima dos níveis competitivos suas margens e o preço da carne bovina vendida", aponta a alegação da rede de fast foods, segundo o site norte-americano Farm Futures.

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O episódio, na realidade, não é inédito. Em 2020, o então secretário de Agricultura, Sonny Perdue, anunciou que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estava investigando preços suspeitos de carne bovina. Na época, ele disse que a diferença de preço entre o gado vivo e a carne bovina no atacado era "historicamente alta".

Já em 2021, 26 senadores dos EUA enviaram uma carta ao Departamento de Justiça, indicando que os grandes frigoríficos haviam violado os princípios da concorrência leal. Em 2022, a operação americana da JBS pagou US$ 52,5 milhões para encerrar um processo sobre fixação de preços.

Em maio de 2024, o McDonald's publicou uma carta assinada pelo presidente da companhia nos EUA, Joe Erlinger, defendendo os preços mais altos dos hambúrgueres, devido aos aumentos históricos nos custos da cadeia de suprimentos.

"O preço médio de um Big Mac nos EUA foi de US$ 4,39 em 2019. Apesar de uma pandemia global e aumentos históricos nos custos da cadeia de suprimentos, salários e outras pressões inflacionárias nos anos que se seguiram, o custo médio agora é de US$ 5,29. Isso é um aumento de 21%", explica a nota do primeiro semestre.

Por enquanto, ainda não se sabe se outros aumentos estão previstos pela rede de restaurantes. Assim como não é possível cravar que a carne bovina aqui no Brasil apresente queda no último trimestre do ano, já que a emergência climática pega a todos de surpresa. Prato cheio para os vegetarianos e o movimento 'segunda sem carne'.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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