Mariana Grilli

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Opinião

Agência Espacial Brasileira quer ampliar uso de satélites para o agro

Quando era criança, o indiano Feroz Sheikh sonhava em ser astronauta. Formado em engenharia, o trabalho com astronomia não ficou tão distante assim. Líder global de agricultura digital da Syngenta, ele quer que os satélites identifiquem as propriedades do solo por meio de altíssima resolução. Para isso, Sheikh vem procurar parcerias no Brasil.

Ele está entre os palestrantes convidados para um workshop promovido pela Agência Espacial Brasileira, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. O evento busca integrar o setor espacial com indústrias de outros segmentos, e o agronegócio é um deles.

A detecção de anomalias no solo, o controle mais cirúrgico de pragas e doenças em áreas delimitadas e o ordenamento da terra são algumas das funções que aproximam o setor espacial do agro.

"Usando imagens de satélite, podemos fazer detecções a nível de pixel, basicamente em um grau muito alto de resolução, o que é único no mercado", diz o líder da Syngenta, em entrevista exclusiva ao UOL.

Nos Estados Unidos, a multinacional suíça atua, desde 2021, em parceria com a Planet Labs - principal fornecedor de dados de imagens de satélite e soluções geoespaciais do mundo. Nos dias 2 e 3 de abril, o workshop da AEB será uma oportunidade para a Syngenta estreitar laços com a indústria espacial no Brasil.

Outra dimensão que Feroz Sheikh enxerga na relação entre a indústria espacial e o agro é a importância de gerar imagens sobre o hemisfério Sul e a agricultura tropical.

"Há muitas novas constelações de satélites que estão sendo lançadas e novos planos de negócios sendo criados, mas muitos deles estão focados no hemisfério norte. Se formos capazes de priorizar alguns dos lançamentos para cobrir o território brasileiro, isso será muito importante para impulsionar a transformação na agricultura", diz.

Leila Fonseca, coordenadora de Estudos Estratégicos e Novos Negócios da AEB, explica que o órgão tem se dedicado a ações para o desenvolvimento de tecnologias espaciais que podem ser aplicadas a diversas áreas, incluindo o desenvolvimento de uma constelação de pequenos satélites.

"[A constelação de satélites] Contribuirá significativamente para a ordenação territorial e o mapeamento do uso da terra, além de outras aplicações", explica Leila Fonseca ao UOL.

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Essa aproximação com o agro oferece, dentro de um movimento chamado de NewSpace, um mercado emergente e inovador que aplica tecnologias espaciais para aprimorar desempenho e competitividade global.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) também está entre os palestrantes convidados do workshop. Leila comenta que a instituição tem apoiado o desenvolvimento industrial e a inovação, além de promover programas de modernização tecnológica e incentivar negócios emergentes.

Por atuar com programas de crédito para produtores rurais, cooperativas e agroindústrias, ela explica que o objetivo de convidar o BNDES é mostrar às empresas do setor espacial como esses programas são conduzidos a partir do acesso a dados de georreferenciamento.

"O objetivo do convite ao BNDES é permitir que as empresas do setor espacial compreendam e explorem como essas ações e programas são conduzidos e de que maneira poderiam ser ampliados para apoiar as indústrias espaciais nos diferentes setores estratégicos da economia nacional, incluindo novos negócios no setor do agronegócio", diz Leila.

Ela ainda cita a participação da Agrotools como caso concreto de sucesso no uso de inteligência geográfica aplicada à agricultura.

Existe, portanto, um ecossistema completo, envolvendo capital, soluções tecnológicas avançadas e atores governamentais e privados, no propósito comum de potencializar a tecnologia espacial. "O agronegócio, setor de maior relevância econômica do Brasil, é um dos principais beneficiados com essa iniciativa", afirma a coordenadora da AEB.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.