Mariana Grilli

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Reportagem

Tarifaço e Brics levam ministérios de Brasil e China a se encontrarem

Está prevista para esta semana a visita de membros do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China ao Brasil, para uma agenda com o ministro brasileiro Carlos Fávaro e outros representantes do governo federal. O cerne do encontro é a guerra tarifária imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Além disso, o contexto também é de que a agenda bilateral aconteça dias antes da reunião ministerial do Grupo de Trabalho de Agricultura dos Brics, a ser realizada no dia 17 de abril, em Brasília. O Brics é um agrupamento composto por onze países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

O Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) não respondeu ao pedido de entrevista do UOL. Uma fonte ouvida próxima à secretaria de Relações Internacionais da pasta afirmou que existe uma instrução do Ministério das Relações Exteriores para Fávaro e outros membros do governo não se pronunciarem sobre a guerra tarifária.

O Itamaraty quer evitar ao máximo qualquer desgaste com parceiros comerciais. Mesmo assim, na última sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a "Lei da Reciprocidade", que permite a retaliação comercial a países que impuserem sanções unilaterais ao Brasil.

Charles Tang, chairman da Câmara de Comércio Brasil-China, avalia que "Lula está fazendo papel de durão e o MRE fazendo o papel de bonzinho". "Essa é uma estratégia de negociação", disse ao UOL, em uma ligação que fez diretamente da China, onde acompanha outros assuntos, devido ao 'tarifaço'.

Nascido em Xangai (China) e criado nos Estados Unidos, Tang sempre atuou com negociações comerciais. Para ele, é natural que o governo brasileiro tenha este tipo de postura, para colocar condições nas regras de comercialização.

"Sem comprar dos Estados Unidos por conta dessa guerra tarifária, a China precisa comprar mais do Brasil, tanto produtos agropecuários quanto minérios. Então, este encontro [dos ministérios] certamente será para tratar de novos volumes de diferentes produtos", ele afirma.

Tang conta que não virá ao Brasil esta semana, pois está no país de origem para a organização da Feira de Cantão. Esta é a maior feira multissetorial do mundo, com cerca de 35 mil expositores interessados em importação e exportação. Diante da guerra comercial, ele diz, a feira ganhou ainda mais força para as negociações chinesas.

Quando pergunto para ele se há produtos agropecuários em exposição, ele afirma que com certeza e lembra que o governo chinês é muito preocupado com a segurança alimentar da população. Por isso, a articulação com outros parceiros no lugar dos Estados Unidos se fortalece a cada dia que passa.

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De acordo com informações da agência de notícias Bloomberg, o país asiático fez uma compra de cerca de 2,4 milhões de toneladas de soja na semana passada, com entrega prevista para julho.

A fonte próxima ao Mapa sinalizou que os embarques devem aumentar com as reuniões previstas para esta semana, levando a China a ser responsável por 80% da exportação de soja - atualmente, é de 75%.

Procurada para saber a expectativa de novos volumes, a COFCO Internacional - trading de grãos chinesa atuante no Brasil - disse não comentar cenários políticos.

Outra expectativa sobre ampliação de mercado é para o DDG, subproduto do etanol utilizado para alimentação animal. Segundo Guilherme Nolasco, presidente da Unem (União Nacional do Etanol de Milho), Oriente Médio e Ásia são responsáveis por 20% das exportações do DDG, e nesta conta não está a China.

"Trabalhamos nessa manutenção da agenda internacional, rumo a conquistar o mercado chinês. Isso não aconteceu no passado, mas acredito que estejamos maduros para atendê-los agora", disse Nolasco.

No começo do mês, o ministro Fávaro havia sinalizado que abrir o mercado de DDG para a China é "um grande objetivo", inclusive por ser uma alternativa ao milho commodity já exportado.

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Diversos setores do agro, portanto, esperam ansiosamente os próximos passos que sairão desta reunião ministerial entre Brasil e China, além da reunião do Grupo de Trabalho da Agricultura do Brics também sinalizar mais rearranjo no comércio global.

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