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Mariana Londres

REPORTAGEM

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Carro elétrico ajuda ambiente, mas bateria exige mineração, e é um problema

Projeto de mineração na Serra do Curral (MG)  - Bernardo Dias/Câmara Municipal de Belo Horizonte
Projeto de mineração na Serra do Curral (MG) Imagem: Bernardo Dias/Câmara Municipal de Belo Horizonte

Do UOL, em Brasília

10/10/2022 04h00

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Passados sete anos do desastre ambiental de Mariana e três de Brumadinho, o setor da mineração pretende transformar as cicatrizes em uma nova etapa, a da mineração sustentável. Atividade de alto impacto ambiental e social, e ao mesmo fundamental em um cenário de transição energética e, portanto, alta demanda por baterias (tanto para veículos quanto para parques eólicos), a mineração brasileira investe na agenda ESG, tanto por parte do governo quanto da iniciativa privada.

Especialista no setor, o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Bruno Milanez tem uma visão crítica da forma como se minera o Brasil e é cético quanto à mineração sustentável. "Dentro da academia há quem considere a mineração sustentável uma contradição em termos, há uma série de críticas. O setor tem feito avanços [para reduzir impactos], mas o próprio setor reconhece que é impossível fazer mineração sem impacto ambiental. Há grupos que falam em mineração responsável e não sustentável, que pode ser algo mais realista", explica.

Pela parte do governo, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, tem falado em eventos sobre o programa de estímulo a empreendimentos de mineração sustentável, o Empreendedor Verde, que inclui o combate à mineração ilegal, e é inspirado na mineração da Austrália e principalmente do Canadá.

O Canadá caminha na direção ESG após também ter sofrido um desastre ambiental, mas ainda enfrenta problemas em relação ao impacto da mineração.

A iniciativa privada também concentra os seus esforços na mineração sustentável. O Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) lançou no dia 30 de setembro uma consulta pública para receber contribuições ao processo de adaptação e tradução dos oito protocolos do TSE (Towards Sustainable Mining). Os protocolos foram desenvolvidos pela Mining Association of Canada (o Ibram do Canadá) como um parâmetro internacional de gestão para a avaliação dos impactos e das medidas socioambientais dos empreendimentos. No Brasil, o Ibram adotou o TSM em 2019. Além de ter traduzido os protocolos, o instituto vai contratar uma consultoria para adequá-los à realidade brasileira.

Transição energética: Para Bruno Milanez, o debate da sustentabilidade na mineração não pode estar apartado da discussão sobre a quantidade de energia que se consome e da eficiência energética.

"Não existe um cenário de não minerar, e na transição energética estamos falando da maior necessidade de lítio, silício, nióbio, terras raras, tudo isso para alimentar bateria e parque eólico. Precisamos questionar o pressuposto de que estamos esperando que a mineração se intensifique. Eu inverteria a lógica. Se a mineração causa tanto impacto, o que eu tenho que mudar para precisar da menor quantidade de minério possível? Não vou desacreditar a emergência climática, que é um debate urgente, mas junto com ele, o debate da transição não pode prescindir de um debate sobre a quantidade de energia que se consome e da eficiência energética. Você fazer a transição energética com todo mundo andando de carro elétrico é uma falácia, pois nem tem minério suficiente para fazer essa transição. A tecnologia por si só não irá resolver".