Mariana Londres

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PEC da autonomia financeira do BC é mais uma camada da crise com Lula

O aumento da temperatura após as críticas do presidente Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, contribuiu para o adiamento da análise da proposta que amplia a autonomia do Banco Central. Hoje, o BC tem autonomia operacional. Caso a proposta seja aprovada, passará a ter também autonomia financeira (com liberdade para gerir os próprios recursos).

O governo Lula é contrário à autonomia financeira, e a atuação de Roberto Campos Neto nos bastidores do Senado em apoio à PEC está entre os incômodos de Lula com o atual presidente do Banco Central.

No Senado, a expectativa era que a PEC 65/2023 começasse a ser analisada nesta semana na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). O governo articulou contra, e o debate foi adiado. Eu conversei com o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que foi o autor da proposta de autonomia operacional, aprovada em 2021, e agora é o relator da PEC da autonomia financeira.

Ele me disse que pretende protocolar um novo relatório, com pequenos ajustes, nesta quinta-feira (20). O senador espera ler o relatório na próxima semana, e quer ficar longe das polêmicas entre Lula e Roberto Campos Neto. A leitura do relatório na próxima quarta depende da anuência do presidente do colegiado, Davi Alcolumbre (UniãoAP).

"Com o relatório no sistema amanhã, os senadores terão tempo para apresentar emendas e eu estou disposto a ler o relatório na próxima quarta-feira", disse o senador.

O governo trabalha nos bastidores para empurrar a discussão para frente, de preferência após a indicação do novo presidente da autoridade monetária. As justificativas:

  • Dar autonomia financeira para o BC pode 'bagunçar' a estrutura da Esplanada, em momento em que vários servidores fazem reivindicações.
  • A mudança aumentaria o orçamento do BC dos atuais cerca de R$ 5 bilhões para até R$ 40 bilhões, o que na leitura de articuladores do governo é aumento de gasto. "Quem é responsável pelo fiscal quer ter liberdade fiscal total?", pergunta um líder durante o debate sobre a autonomia nesta semana no Senado.

Quem é contrário e quem é a favor da mudança?

A favor:

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  • Parte dos servidores do BC apoia a medida, por entender que o orçamento próprio trará mais liberdade para contratações e tocar projetos.
  • O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é favorável, mas não admite publicamente ter trabalhado pela PEC.

Contrários:

  • Parte dos servidores, que segundo o sindicato é majoritária, é contrária. Eles temem que as mudanças possam prejudicar os servidores, especialmente os aposentados.
  • O governo Lula é contrário à autonomia financeira.

O que é a autonomia financeira do BC?

Nesta coluna de janeiro, eu explico sobre a autonomia. Na época, havia pouca resistência dos senadores à PEC. Com o avanço das discussões, aumentaram as resistências.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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