Opinião

6 motivos que levam os brasileiros a não estudarem sobre investimentos

Por que quase 70% das pessoas que não investem, nem sequer demonstram interesse em aprender mais sobre o tema? Se é tão comum buscarmos informações sobre as coisas, por que investimentos ainda parecem tão distantes?

São várias camadas e não precisamos nos aprofundar muito para entender que esse dado, por si só, já revela muito sobre o cenário da educação financeira no Brasil — e ainda mais sobre como nos relacionamos com o dinheiro, o "desconhecido" e, acima de tudo, com o nosso futuro.

De acordo com o mais recente Raio X do Investidor, estudo realizado pela Anbima e Datafolha, apenas 32% das pessoas que não investem e não pretendem começar em 2025 buscam informações sobre produtos de investimento. É tentador dizer que a ausência de busca é puramente falta de interesse, mas quando analisamos de perto os hábitos, os comportamentos e os padrões mentais que regem nossas decisões financeiras, percebemos que há questões profundas por trás dessa aparente desinformação. Elenquei algumas que ajudam a explicar esse cenário.

Conhecimento por finanças não é algo natural

Primeiro, é preciso entender que o conhecimento sobre finanças não é neutro. Ele carrega uma bagagem emocional imensa: vergonha, frustração, medo de errar, sensação de incapacidade. Muitos de nós crescemos em ambientes onde falar de dinheiro era tabu, sinônimo de problema ou discussão.

Existe uma barreira emocional invisível

Esse tabu cria uma barreira emocional que vai além da lógica. Muitas pessoas evitam aprender sobre investimentos porque, no fundo, isso significaria encarar a própria história com o dinheiro e, para muita gente, isso ainda vem carregado de culpa, comparação ou sensação de fracasso.

Quem vive no limite não consegue pensar no futuro

Chamamos isso de "viés da escassez". Quando vivemos no limite - ou com a percepção de que vivemos no limite - nosso cérebro entra em um modo de sobrevivência. Nesse estado, pensar no longo prazo parece um luxo inatingível. Aprender sobre CDB, Tesouro Direto ou fundos imobiliários soa tão distante quanto aprender sobre viagens espaciais. A prioridade imediata é pagar o boleto do mês, não imaginar um patrimônio para daqui a 20 anos.

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Linguagem que afasta ainda mais

Muitos materiais ainda falam sobre produtos complexos, rentabilidades e estratégias como se o público tivesse uma base sólida - o que sabemos que, infelizmente, ainda não é o caso da maioria. Quando alguém que nunca investiu escuta termos como "risco x retorno", "liquidez diária" ou "diversificação de portfólio", o instinto é recuar. E, quando não entendemos, evitamos. Quando evitamos, não avançamos.

Procrastinação financeira

Outro ponto importante é o comportamento de procrastinação financeira. Temos a tendência de adiar decisões que exigem esforço cognitivo e emocional, especialmente quando não vemos benefícios imediatos. Aprender a investir dá trabalho, e sem uma recompensa visível no curto prazo, a motivação vai embora rapidamente.

Falta de representatividade e confiança

Muitas pessoas olham para o universo dos investimentos e não se enxergam ali. A linguagem, o perfil dos especialistas, a forma como os conteúdos são apresentados - tudo isso, muitas vezes, passa a mensagem implícita de que "isso não é para você". E, quando não nos sentimos pertencentes a um espaço, raramente nos sentimos encorajados a explorá-lo.

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Diante disso, o nosso papel como educadores, comunicadores e instituições financeiras é ir além da oferta de produtos. É entender os medos, acolher as dúvidas, simplificar sem diminuir, e sobretudo — mostrar que aprender sobre investimentos é um ato de autocuidado e empoderamento. Não importa se ainda não é possível investir agora. O conhecimento adquirido hoje é o que vai tornar a escolha possível amanhã.

Precisamos, urgentemente, mudar a pergunta que fazemos às pessoas. Em vez de "por que você ainda não investe?", talvez o mais eficaz seja perguntar: "o que te impede de aprender sobre isso hoje, mesmo que você ainda não possa investir?". A resposta sincera a essa pergunta pode ser o primeiro passo para quebrar um ciclo de exclusão financeira que atravessa gerações.

Opinião

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