Nem Tudo que Vende, Vale!
Ler resumo da notícia
De acordo com o SEBRAE, o empreendedor identifica oportunidades, assume riscos e inova para gerar valor. Dominar habilidades técnicas, gestão, finanças e vendas é essencial para sobreviver e crescer.
Mas há um alicerce invisível que costuma ficar em segundo plano: a reputação. Clientes compram de quem confiam, parceiros se associam a quem respeitam e equipes se dedicam a quem inspira. Ao contrário da vitrine digital, reputação não se constrói com promessas, mas com atitudes — e seu ponto de partida é a ética, onde a maioria dos cursos de empreendedorismo chega ao fim.
Comecei a empreender aos 12 anos, fazendo unhas em vielas sem saber que aquilo tinha nome. Dez anos depois, vendia cosméticos de porta em porta. Mais tarde, assumi a diretoria de vendas de uma multinacional americana. Hoje, tenho minha própria empresa e compartilho meu conhecimento em palestras, cursos e treinamentos.
E foi nesse caminho cheio de metas, desafios e aprendizados que entendi: técnica atrai, mas é a ética que sustenta.
No início, é comum focar em aprender a vender, persuadir, fechar contratos. Mas cedo ou tarde, todo empreendedor se depara com algo mais delicado: as escolhas éticas que precisa fazer quando ninguém está olhando.
Por que ética importa mais do que nunca?
A confiança se tornou a nova moeda do mercado. Em tempos de redes sociais, avaliações públicas e comunidades hiperconectadas, uma falha de integridade pode afundar um negócio em horas. Eu já vi isso acontecer dezenas de vezes.
Clientes e parceiros querem saber quem está por trás do produto. Transparência, clareza e coerência são hoje diferenciais e, mais que isso, pré-requisitos. O mercado mudou muito, e que bom!
Os dilemas éticos mais comuns (e perigosos)
? Ofertas a qualquer custo: pressões emocionais, urgência forçada, escassez fabricada. Muitas vezes, a comunicação ignora os limites da pessoa do outro lado e fere mais do que convence.
? Promessas irreais: transformar qualquer um em milionário em 7 dias, mudar de vida sem esforço ou "viver de renda com o celular". Técnicas como essas já levaram pessoas a vender carros e fazer empréstimos para comprar programas milagrosos e saírem com dívidas e frustrações.
? Aliciamento disfarçado: no mercado digital, tem sido comum ver profissionais tentando atrair alunos de outras mentorias com mensagens "preocupadas", oferecendo descontos ou acesso exclusivo para quem mudar de lado. Isso não é só antiético é tóxico.
? Fofocas internas e vazamento de informações estratégicas: quando se usa o êxito de terceiros para desqualificar concorrentes ou quando membros da equipe expõem dados confidenciais em busca de vantagem competitiva.
Casos reais que acendem o alerta:
1. Byju's — de edtech bilionária à crise global
A Byju's, startup de educação indiana avaliada em mais de US$ 22 bilhões, virou notícia por práticas consideradas duvidosas: omissão de informações, promessas agressivas e má gestão financeira. No Brasil, professores PJ denunciaram falta de pagamento e alunos relataram cancelamentos sem justificativa. A empresa enfrenta hoje processos de insolvência e forte queda de credibilidade.
2. WhiteHat Jr — propaganda enganosa e personagens fictícios
Subsidiária da Byju's, foi acusada de criar personagens falsos e histórias inventadas para promover seus cursos de programação infantil. A repercussão negativa levou à remoção de anúncios e ações legais por publicidade enganosa.
3. Infoprodutos e o "efeito pitch visceral"
Diversas denúncias surgem em plataformas como o Reclame Aqui e fóruns públicos: cursos que prometem retorno financeiro sem base real, pitches emocionais que incentivam o endividamento e falta de suporte após a compra. Em muitos desses casos, o lucro foi priorizado acima da entrega e a reputação cobrou caro.
Como incorporar a ética no dia a dia?
Checklist de transparência:
1. Apresente com clareza os benefícios e as limitações do que você vende. Muito gente peca aqui, quer vender pra todo mundo e a qualquer custo.
2. Tenha políticas de devolução claras e justas, além de canais de suporte visíveis e acessíveis. Seja produto ou serviço, quanto mais fácil for para o cliente obter ajuda, melhor para você, alô reputação.
3. Revise seus scripts: seu produto é bom o suficiente para ser vendido sem apelar? Seja tão bom em entregar quanto é em prometer!
Crie cultura ética dentro da sua operação:
? Estabeleça um código de conduta para você e sua equipe, todos devem "falar a mesma língua".
? Estabeleça canais internos de denúncias e acolhimento para equipes a partir de cinco colaboradores. Organize esses mecanismos desde o início para garantir um crescimento sólido e responsável.
? Reconheça e premie atitudes éticas não só metas atingidas.
Em suma, técnica gera vendas. Ética, legados.
Pode parecer tentador usar de tudo para bater metas. Mas o verdadeiro sucesso não se mede apenas pelo faturamento, e sim pela solidez do que você constrói.
Empreender com inteligência e com caráter — é o que diferencia os líderes de longo prazo dos oportunistas de ocasião.
Para você, empreendedora ou empreendedor:
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.