Pollyana Félix

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Opinião

Crescer rápido sem estrutura é convite ao colapso

Mais de 15,7 milhões de brasileiros são hoje Microempreendedores Individuais (MEI), segundo dados da Receita Federal. Em 2021, o Sebrae apontou que 80% dos novos negócios no Brasil nasceram no modelo MEI e muitos deles vieram da necessidade: desemprego, corte de renda e tentativa de sobrevivência.

Eu sei bem como é.

Comecei fazendo unhas de porta em porta aos 12 anos. Com 16, entrei no regime CLT. Aos 22, me tornei diretora de vendas independente e precisei abrir meu CNPJ. Mas foi ao migrar para o mercado da educação empresarial, no pós-pandemia, vendendo mentorias e criando produtos digitais, que entendi, na prática, o que significa empreender sem proteção jurídica.

Meu primeiro produto digital explodiu em vendas, mas, quando fui registrar a marca, ela já tinha dono. Perdi o direito de usar o nome que eu mesma havia tornado relevante. E não pense que fui tentar registrar logo depois do sucesso: esse movimento aconteceu pelo menos um ano depois.

Vi colegas sendo processadas por não usarem termos de uso de imagem em eventos. E o pior: conheci gente tomando calote porque vendeu "na confiança". E vale dizer: o mesmo aconteceu comigo, em diferentes fases da minha trajetória. Seja fazendo unhas, vendendo brigadeiro, cosméticos ou nas minhas primeiras mentorias, aprendi, na pele, que o improviso cobra caro.

Negócio é negócio. E precisa ser tratado como tal.

Outra coisa: eu aprendi da pior forma que amizade não substitui contrato. Na hora do aperto, é o que está no papel que protege. E olha que eu já fui a pessoa que vivia reclamando da burocracia, dizendo que as pessoas precisavam confiar mais umas nas outras. Ledo engano.

Contrato é bobagem? Até o dia que você precisa dele.

Emitir nota fiscal, registrar marca, ter contrato e contabilidade não são detalhes: são blindagem. Segundo o Sebrae, um negócio mal estruturado juridicamente tem até 70% mais chance de enfrentar disputas, prejuízos ou ser impedido de escalar.

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Veja por que isso importa desde o primeiro cliente:

  • Nota fiscal permite acesso a crédito, benefícios previdenciários e grandes contratos. No passado, eu ficava chateada quando perdia um cliente porque ele exigia nota. Hoje, eu mesma só contrato quem emite. O mundo dá voltas e tem aprendizados que só chegam com o tempo. Mas o mais inteligente mesmo é entender antes, pra crescer com solidez e não por sobrevivência.

  • Contrato assinado protege prazos, entregas e evita calotes.

  • Marca registrada no INPI garante o uso exclusivo e evita apropriação indevida. Mas não é só isso: também revela visão estratégica. Se você está se empenhando para crescer, precisa pensar adiante. E se, no futuro, quiser vender sua marca ou explorar licenciamento? Sem registro, não há ativo formal. Quem quer escalar, precisa documentar. Não deixe pra depois o que protege seu nome hoje e potencializa seu valor amanhã.

  • Planejamento jurídico mínimo, como contrato de prestação de serviço, termo de uso, acordo de sócios, cláusulas de direito de imagem e adequação à LGPD, evita perdas, desgastes e bloqueios futuros. A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) regula o uso de informações pessoais de clientes e exige transparência no tratamento desses dados. Ignorar isso pode gerar multas e comprometer a reputação do seu negócio. É o tipo de estrutura que não aparece no feed, mas sustenta o crescimento.

Empreender já é difícil. Empreender sem estrutura é um risco dobrado!

Parafraseando ditos populares: é melhor (e mais barato), prevenir do que remediar.

O Sebrae oferece orientação gratuita, acesso a consultorias, planilhas e emissor de notas mas é preciso querer sair do improviso. Quem começa por necessidade não pode se dar ao luxo de perder o que construiu.

Sua ideia vale. Seu nome tem força. Seu trabalho merece proteção.

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Comece como puder, mas comece certo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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