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Novo dono da Itapemirim diz que quer pagar dívidas e recuperar confiança

O empresário brasiliense Galeb Baufaker Júnior com um avião da Itapemirim ao fundo - Divulgação/Galeb Baufaker Júnior
O empresário brasiliense Galeb Baufaker Júnior com um avião da Itapemirim ao fundo Imagem: Divulgação/Galeb Baufaker Júnior

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/04/2022 04h00

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A Itapemirim Transportes Aéreos teve uma trajetória meteórica no segundo semestre de 2021, não chegando a ficar seis meses em operação. Na semana passada, o presidente da empresa anunciou a venda da companhia e do Ita Bank para a Baifaker Consulting, uma fintech com nome fantasia Bcbank.

De propriedade do empresário Galeb Baufaker Júnior, a empresa de consultoria não deverá ser a dona definitiva da nova Itapemirim. Em entrevista ao UOL, Baufaker diz que ainda está criando um CNPJ específico para abrigar a companhia aérea, e que a atual empresa compradora da Itapemirim está em nome de sua ex-esposa.

O empresário ainda está concluindo o levantamento dos passivos e ativos da Itapemirim Transportes Aéreos e do Ita Bank, mas diz que os pagamentos e a transferência devem ser concretizados em breve.

Um dos grandes desafios que o novo dono deverá enfrentar, além das dívidas da companhia, é a recuperação da confiança na empresa, que ficou em situação delicada após parar repentinamente de voar em dezembro de 2021.

Negócio de R$ 400 milhões

Baufaker diz que ainda está terminando os trâmites do negócio, para o qual alega estar desembolsando cerca de R$ 400 milhões que serão oriundos de fundos creditórios e de investidores que preferem se manter anônimos.

Desse total, ele estima que R$ 180 milhões serão referentes ao pagamento de dívidas da empresa, como passivos trabalhista, tributário e com fornecedores. O restante (R$ 220 milhões) seria destinado ao investimento e a formar capital de giro para voltar a voar.

No negócio, Baufaker diz que Piva não receberá nenhum valor por se desfazer da companhia aérea. O objetivo é desmembrar as duas empresas do Grupo Itapemirim, que se encontra em recuperação judicial e cuja criação da aérea enquanto mantém dívidas bilionárias foi duramente questionada.

Com a consolidação do negócio, diz Baufaker, a Justiça deve ser informada dos trâmites e, posteriormente, as duas empresas devem deixar os olhares da recuperação judicial. Para isso, o empresário terá de devolver ao caixa do Grupo Itapemirim os mais de R$ 34 milhões em gastos relacionados à aérea, segundo dados da administradora judicial do Grupo Itapemirim divulgados em janeiro, o último balanço disponível.

Mesmo nome e mesma equipe

Baufaker diz que deverá manter o nome da empresa por enquanto, pois quer "salvar a marca". "Eu vi a oportunidade e o nome. O legado, se ele é bem construído, não acaba. Todos os problemas podem acontecer, mas é 'A Itapemirim'", diz se referindo à importância que o nome Itapemirim leva no mundo dos transportes de passageiros no Brasil.

O empresário, que assume não ter experiência no ramo da aviação, diz que manterá grande parte da direção da empresa, como o presidente Adalberto Bogsan, que assumiu a companhia no início de sua operação. "Quero bater sempre na tecla: A operação começou redonda e vai voltar redonda", diz Baufaker sobre como a empresa conseguiu voar inicialmente apesar dos problemas que enfrentou no caminho.

Questionado sobre manter grande parcela da mesma equipe que estava na empresa quando suas operações foram encerradas, ele reforçou sua confiança nos profissionais. "O que manteve a Itapemirim Transportes Aéreos funcionando até o momento da parada brusca foi a capacitação e qualidade dos seus profissionais", disse.

Retomada da confiança

O empresário diz estar confiante de que seu plano para retomar os voos em oito capitais em que a Itapemirim já operava com cinco aviões é plenamente viável. "Tendo a gestão correta, não tem como dar errado. Você só precisa cumprir com aquilo que você tem", diz Baufaker.

Hoje, o empresário ainda tem de lidar com um COA (Certificado de Operador Aéreo) que foi suspenso pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) após virem à tona supostas irregularidades na companhia.

Embora a Anac não tenha mais de analisar a capacidade financeira da empresa para liberar sua operação, atendo-se apenas à viabilidade técnica das futuras companhias, o baixo capital social da nova dona da Itapemirim (R$ 100 mil) pode ser uma barreira. Desde antes de a empresa parar de voar, diversos parlamentares questionaram como ela conseguiu autorização para operar com o capital social disponível, de R$ 380 mil à época.

Segundo Baufaker, o que vai resolver algum eventual problema da empresa não é esse dinheiro para começar a operar, mas sua capacidade de enfrentar as questões que possam surgir. "Se o Congresso achar que isso [um valor mínimo de capital social para iniciar uma empresa no Brasil] é pertinente, ele vai arrancar a perna de quem quer investir no país", diz o empresário.

O Sindicato Nacional dos Aeronautas, que representa comissários e pilotos, também se reuniu com o empresário para discutir o futuro dos trabalhadores, tanto os contratados quanto aqueles que se desvincularam da companhia. Ao fim da reunião, confirmada pelo sindicato e pelo empresário, foi firmado um acordo para que até o dia 3 de maio seja apresentada uma proposta para quitar as dívidas trabalhistas.

Planos para voltar a voar

Após conseguir contornar os problemas e, eventualmente, conquistar o direito de voltar a voar, a nova Itapemirim voltaria aos ares em cinco meses, segundo seu novo proprietário. O objetivo é operar cinco aviões do modelo A320 para oito capitais.

Baufaker descarta realizar guerra tarifária. "Não vamos baixar a passagem, porque isso não existe no mercado. Queremos reduzir nossa margem de lucro e aumentar o conforto do passageiro. Acho um absurdo entrar no avião e só tomar refrigerante e comer amendoim. A gente tem de ter carinho", diz o empresário.

As aeronaves deverão ser configuradas com o padrão de fábrica para transportar 174 passageiros, e não 162, como eram os aviões que operaram até dezembro pela empresa. Para isso, Baufaker diz estar negociando com as empresas de leasing (uma espécie de aluguel) para quitar as dívidas e retornar os aviões ao Brasil.

A Itapemirim também ganhou destaque por não cobrar pela marcação de assentos e despacho de bagagens, prática generalizada entre as maiores companhias aéreas. Baufaker descarta voltar a oferecer esses benefícios: "Faremos conforme o mercado, mas praticaremos valores bem menores do que as concorrentes".

Sobre o crescimento da empresa para os próximos anos, embora cite um estudo sobre a possibilidade de realizar voos internacionais em dois anos, o empresário afirma que irá ser mais cauteloso quanto à expansão. "Vamos manter o plano inicial [de operar em oito capitais com cinco aviões] e ver a reação do mercado com o que já temos. Tendo um balanço de aceitação ou rejeição é que vamos analisar a expansão", diz Baufaker.

Sobre a pressão que pode enfrentar da concorrência, o empresário afirma que isso não o incomoda, já que tentará oferecer um serviço diferenciado a bordo, como café da manhã, almoço ou jantar. Essa mesma promessa foi feita pelo antigo dono da companhia, Sidnei Piva, mas não chegou a ser posta em prática devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19.