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Reportagem

Avião da Latam bate cauda na pista em decolagem: o que é o tailstrike?

Um avião da Latam que partiu de Milão, na Itália, com destino a Guarulhos (SP), bateu a cauda ao decolar e precisou retornar ao aeroporto da cidade italiana nesta terça-feira (9).

A Latam informou por meio de nota que houve um "contato entre a parte traseira da aeronave e a pista" durante a decolagem, e que o desembarque "ocorreu normalmente em segurança e sem intercorrências". Veja a íntegra do posicionamento da Latam ao final da reportagem.

Mas o que é esse tipo de ocorrência, chamada de tailstrike, ou, batida de cauda?

Quando ocorre?

O tailstrike acontece em momentos em que o avião está próximo à pista. Ele pode ocorrer durante a decolagem, pouso ou arremetida.

Consiste, basicamente, em bater a parte de trás do avião no solo, quando a aeronave está com uma inclinação muito elevada, ou seja, o nariz está mais para cima do que o permitido naquele momento.

Acontece com frequência?

De acordo com a Iata (Associação Internacional do Transporte Aéreo), 9% de todos os acidentes envolvendo aeronaves entre 2013 e 2022 foram eventos de colisão da cauda com o solo. Desse total, 79% dos acidentes do tipo ocorreram durante o pouso ou a arremetida.

Entre as 250 empresas aéreas participantes do sistema de gerenciamento de dados da associação, foram reportados 24 tailstrikes em 2022, sendo que seis deles foram reportados como acidentes, ou seja, tiveram um certo grau de gravidade.

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Entre janeiro e outubro de 2023, foram 43 ocorrências do tipo.

Quais as consequências?

Dependendo da intensidade da batida, o voo não apresentará problema algum, não passando de um arranhão na fuselagem. Em situações mais extremas, a parte atingida pode sofrer danos severos.

Se isso ocorre, o avião pode até sair da pista ou perder o controle durante o voo. Por isso, é normal um avião pousar logo após detectar esse tipo de ocorrência, justamente para analisar a extensão dos danos.

Cauda de avião Airbus A320 da Alitalia em Milão após a cauda bater na pista em 2021: danos mínimos
Cauda de avião Airbus A320 da Alitalia em Milão após a cauda bater na pista em 2021: danos mínimos Imagem: Agência Nacional de Segurança de Voo da Itália

Em casos extremos, o tailstrike pode causar danos à estrutura do avião, levando-o a ficar fora de operação por longos períodos para manutenção.

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Caso os pilotos identifiquem que é possível continuar com o voo, haveria algumas restrições. Os manuais de alguns aviões recomendam que a aeronave não seja pressurizada por ser difícil avaliar se houve danos à fuselagem.

Ocorre que a parede interna da aeronave fica próxima ao local onde pode haver o contato com o solo, e se for danificada, impossibilita a pressurização da cabine de passageiros. Assim, não poderia ser ultrapassada a altitude de 3.048 metros (10 mil pés), onde é possível respirar sem pressurizar a aeronave e sem o uso de máscaras de oxigênio.

Quais as causas?

Segundo a Iata, os principais fatores contribuintes para esse tipo de ocorrência são:

  • Aproximação para o pouso instável
  • Aproximação para o pouso com velocidade e energia além do esperado
  • Ventos de través
  • Rajadas de vento
  • Turbulência
  • Erro na programação do computador de voo
  • Julgamento de pilotagem errado

Um exemplo relacionado à turbulência é o voo estar quase tocando o trem de pouso no solo e, por um vento forte, ele é jogado em direção à pista, causando a batida.

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Como evitar?

Esses fatores podem influenciar em uma ou mais fases do voo. Aqueles relacionados à turbulência costumam ser imprevisíveis e, em algumas situações, inevitáveis.

Mesmo assim, quando possível, uma resposta eficiente dos pilotos pode ajudar a sair ou evitar esse tipo de ocorrência.

Quanto aos fatores humanos, são realizados diversos treinamentos para garantir que as operações ocorram dentro dos padrões operacionais desejados.

Tail skid, equipamento utilizado para amortecer o impacto da cauda do avião no solo
Tail skid, equipamento utilizado para amortecer o impacto da cauda do avião no solo Imagem: Australian Transport Safety Bureau

Alguns aviões, inclusive, contam com um reforço estrutural na cauda para evitar danos nesse tipo de situação. Durante os testes de voo, esse tipo de situação é testada pelas fabricantes para compreender o que pode ocorrer com a aeronave.

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Posicionamento da Latam

Veja a íntegra da nota da Latam sobre o ocorrido na Itália:

"A LATAM informa que o voo LA8073 (Milão-Guarulhos) desta terça-feira (9/7) precisou retornar ao aeroporto de origem e ser cancelado após o registro de contato entre a parte traseira da aeronave e a pista durante a decolagem. O desembarque ocorreu normalmente em segurança e sem intercorrências. Toda a assistência necessária foi oferecida aos passageiros, que foram realocados em voos próprios e de outras companhias.

A LATAM lamenta os transtornos causados aos passageiros e reforça que todas as suas decisões visam garantir a segurança de todos."

Fontes: Iata e Enio Beal Jr., piloto de avião e integrante do grupo Proa Certa, um coletivo de profissionais da aviação que ajuda pilotos a se recolocarem no mercado.

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