Novo assento adaptável promete revolucionar viagens de cadeirantes em avião
A experiência de pessoas com deficiência em voos é uma questão mundial. A mobilidade reduzida, somada ao pouco espaço nos aviões, apresenta um desafio para quem usa cadeira de rodas.
Um novo assento para aeronaves promete quebrar paradigmas, permitindo que pessoas com cadeiras de rodas entrem e se acomodem em aviões sem precisar de assistência, aumentando a acessibilidade.
Novidade
A Delta Flight Products, subsidiária da Delta Air Lines que desenvolve produtos para interiores de aviões, em parceria com a britânica Air4All, apresentou em junho um protótipo de assento que permite que cadeirantes voem sem necessidade de adaptações complexas.
Essas poltronas permitem que o viajante use sua própria cadeira de rodas, eliminando a necessidade de cadeiras especiais para o transporte até o assento.
Quando não estão em uso, podem acomodar passageiros sem qualquer necessidade de mudança. Se necessário, as espumas são removidas e o assento é dobrado em direção ao encosto, permitindo que a cadeira de rodas seja acoplada com facilidade.
Além disso, está em desenvolvimento um modelo de banheiro mais acessível para cadeirantes. Atualmente, apenas aviões de corredor duplo possuem alguns banheiros com paredes removíveis, possibilitando a entrada de cadeiras de rodas. Contudo, é necessário considerar não só o espaço, mas também a altura dos objetos e a disposição da pia, visando facilitar o uso em áreas confinadas.
Todo o processo de certificação para uso em aviões pode levar anos. Além de testes com os assentos em voos reais, é necessário avaliar a resistência dos materiais a chamas e impactos, como turbulências, além da viabilidade econômica para as companhias aéreas.
Por que será um diferencial?
Atualmente, cadeirantes dependem majoritariamente do auxílio das equipes das companhias aéreas, explica Clauver Castilho, diretor do SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas).
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Quero receberNos aeroportos, a cadeira de rodas pessoal do passageiro é despachada, e ele é transferido para uma cadeira de rodas específica para se locomover até a porta do avião.
Existem três tipos de cadeiras, de acordo com a resolução 280 da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que regulamenta o atendimento a passageiros com necessidade de assistência especial:
- WCHR - Cadeira de rodas - R (rampa): Para passageiros que podem subir e descer escadas e caminhar até o assento, mas precisam de cadeira de rodas para distâncias maiores, como nas pontes de embarque.
- WCHS - Cadeira de rodas - S (degraus): Para passageiros que não podem subir ou descer escadas, mas conseguem se locomover sozinhos até o assento.
- WCHC - Cadeira de rodas - C (cabine): Para passageiros que não conseguem se locomover sozinhos, inclusive até o assento. Essas cadeiras são mais estreitas para passarem pelos corredores do avião.
Castilho acrescenta que também há uma cadeira de rodas portátil, usada a bordo para auxiliar passageiros na locomoção, por exemplo, para ir ao banheiro. Nesses casos, os comissários são responsáveis por montar a cadeira e auxiliar o passageiro.
Regulamentação está próxima
A FAA (Federal Aviation Administration), entidade que regula o setor nos EUA, está trabalhando para certificar esse tipo de assento em breve. Embora não comente sobre processos em andamento, a FAA informou ao UOL que pretende definir os critérios de segurança para esse tipo de assento até o final de 2025.
Um dos critérios é o sistema de fixação da cadeira de rodas. Por enquanto, será usado um sistema similar ao da indústria automotiva, que impede o deslocamento durante o voo.
Atualmente, nenhuma companhia aérea tem esse sistema em operação, mas algumas já solicitaram autorização para implementar soluções que aumentem a acessibilidade (a FAA não divulgou quais).
A FAA também destacou que o sistema de travas com cintos pode oferecer segurança e ser conveniente.
Atleta paralímpica fala da experiência
Tayana Medeiros, atleta paralímpica de halterofilismo, relata que, quando viaja por conta própria, depende mais de ajuda. A brasileira, que foi ouro nos Jogos Paralímpicos de Paris e quebrou o recorde ao levantar 156 kg na categoria até 86 kg, diz que o processo de embarque pode ser complicado.
"Requer um pouco mais de atenção das pessoas. Eu, como consigo me locomover um pouco, a experiência de ir da porta do avião até o assento é um pouco melhor", diz Medeiros.
Ela defende uma melhor capacitação dos profissionais para auxiliar no embarque e desembarque de cadeirantes. "Se houvesse pessoas mais bem preparadas para ajudar, tanto com o passar da nossa cadeira de rodas para a poltrona do avião, quanto assentos mais confortáveis para acomodar os cadeirantes, seria muito melhor", diz a halterofilista.
Ao conhecer o projeto do novo assento, Medeiros se mostrou otimista. "Acho que seria mais confortável, até mesmo para quem tem deficiências mais severas", conclui a atleta.
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