3º maior mercado em crescimento, aviação no Brasil perde com alta do dólar
O Brasil é o terceiro mercado que mais cresce no setor de aviação no mundo, atrás apenas da Índia e da China. Entretanto, mesmo que as empresas sejam muito boas em gerir seus custos, enfrentarão problemas se o real continuar sendo desvalorizado ante o dólar.
A afirmação é de Willie Walsh, diretor-geral da Iata (International Air Transport Association, ou, Associação Internacional de Transportes Aéreos), feita durante evento com jornalistas nesta quarta-feira na sede da organização em Genebra (Suíça).
'Não importa o quão brilhante você seja'
Para o executivo, a desvalorização do real é um dos maiores problemas que as empresas aéreas no Brasil enfrentam, particularmente aquelas que operam no mercado doméstico. "Se elas têm uma base de custo em dólar e depois uma base de receita em moeda local, quando você tem tanta volatilidade na taxa de câmbio, não importa o quão brilhante você seja, você simplesmente não consegue controlar isso. E esse tem sido um dos maiores problemas com os quais a indústria tem de lidar", afirmou Walsh, que ainda disse que as empresas nacionais estão fazendo um bom trabalho em administrar suas finanças.
O diretor-geral da Iata continua: "Para ser justo, houve muitas, muitas companhias aéreas brasileiras boas. Mas, quando olho para trás ao longo dos anos, um dos maiores impactos que o Brasil tende a enfrentar é a desvalorização da moeda em relação ao dólar. E, você sabe, você não pode controlar o fato de que sua base de custos é em grande parte dólar".
Nesse mercado, as aeronaves são pagas em dólares, e a manutenção (em muitos casos), também. É uma situação em que a maior parte da base de custos está em dólares americanos, mas as receitas não são geradas nessa moeda, mas, em real.
"Com exceção das transportadoras dos EUA, quase todas as companhias aéreas do mundo estão com pouco dólar. Elas estão sempre expostas ao risco cambial associado a um fortalecimento ou a um dólar americano forte", diz Walsh.
O executivo também aponta que a média do crescimento do mercado doméstico brasileiro foi de 7,6% ao ano entre 2000 e 2023, enquanto na China e na Índia foi de 11,2%. Como comparação, no mesmo período, o setor doméstico nos EUA crescia 1,8% ao ano, e a Europa em torno de 4%.
Isso demonstra a oportunidade que existe no Brasil.
Willie Walsh
Reestruturação das empresas
As empresas aéreas brasileiras têm enfrentado crises nos últimos anos. Latam passou por um processo de Chapter 11 nos EUA, similar à recuperação judicial no Brasil. Gol apresentou recentemente seu plano de reestruturação, e Azul passou por uma negociação intensa com seus credores que teve os primeiros resultados divulgados nos últimos meses.
Mesmo sob a chance de a Gol ser comprada pela Azul, Walsh acredita que isso não impedirá a concorrência no setor no Brasil. "[O Brasil] é um grande mercado, e acho que sempre há espaço para, mesmo que haja consolidação, isso não significa que não haverá mais companhias aéreas querendo entrar", diz o executivo.
* O colunista viajou a Genebra a convite da Iata
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