Empresa portuguesa é acusada de copiar avião brasileiro; compare modelos

Ler resumo da notícia
A Desaer, empresa brasileira que está desenvolvendo o avião ATL-100 (veja detalhes da aeronave mais abaixo), acusa a EEA Aircraft and Maintenance SA, empresa portuguesa ligada ao CEIIA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento), de lançar um avião idêntico ao seu (veja posicionamentos logo abaixo).
Como agravante, os brasileiros tinham uma parceria com o grupo português para desenvolvimento do ATL-100, que acabou sendo descontinuado antes de ser anunciada a nova aeronave no país europeu, o LUS-222.
Cópia idêntica?
Em nota, a Desaer afirmou que o LUS-222 é idêntico ao ATL-100: Um avião bimotor turboélice não pressurizado para transporte de até 19 passageiros e alcance de cerca de 2.000 km.
Os brasileiros dizem em nota que "o anúncio dessa aeronave por parte do Ceiia foi feito após o envio de informações técnicas sigilosas pela Desaer ao CEIIA, durante parceria que, posteriormente, foi suspensa".
A empresa ainda informa que detém todos os direitos de fabricação sobre o ATL-100, que foi lançado em 2018 (veja mais aqui), e que o avião é registrado como um PED (Produto Estratégico de Defesa). Isso confere certas garantias ao produto, como evitar que outros países fabriquem o modelo sem autorizações.
Por que Portugal?
Em entrevista ao UOL em 2021, Evandro Fileno, fundador da Desaer, explicou a parceria com o Ceiia, empresa responsável por, entre outros, elaborar partes do avião militar KC-390 Millennium da Embraer.
Ele explicou que a ideia é fabricar o avião e voar em Portugal primeiro, pois havia incentivo financeiro do governo português. "O apoio que a gente não conseguiu aqui, a gente conseguiu lá", disse o engenheiro a época.
Isso também facilitaria a venda do avião para mercados europeus, já que o avião não teria autonomia para voar do Brasil até o continente cruzando o oceano.
Fim da parceria
A parceria foi definida em 2019 e a empresa brasileira ficaria com 70% dela, enquanto os portugueses ficariam com os outros 30%, segundo a Desaer. A empresa também relatou que forneceria toda propriedade intelectual e conhecimento de fabricação, além de pesquisas de mercado realizadas até aquele momento para o Ceiia.
Antes de concretizar o acordo, os brasileiros passaram a compartilhar informações de propriedade intelectual relevantes, mas o Ceiia não conseguiu levantar os recursos necessários, levando a Desar a revogar a assinatura do contrato em 2021.
A empresa também alega que havia uma cláusula de não-concorrência assinada em fevereiro de 2020, e que teria duração de cinco anos.
Em janeiro, a Desaer disse ter notificado as autoridades portuguesas sobre o uso pela Ceiia.
Portugueses rebatem
Em nota enviada ao UOL, o Ceiia rebate as acusações feitas pela Desaer. Entre elas, se destacam:
Sobre o compartilhamento de informações: O Ceiia alega que a Desaer compartilhou apenas questões conceituais e que não tinham como serem utilizadas no LUS-222.
Sobre o ATL-100 ter características únicas: Os portugueses negam essa afirmação, já que, entre outras questões, diversas características do avião estão seguindo as normativas europeias. Ainda, possuir porta traseira, ser bimotor, capacidade e até o formato da fuselagem seguem as normas norte-americanas e europeias para a fabricação de aeronaves do tipo.
A empresa ainda afirmou que "juntou-se ao projeto LUS-222, que já estava em curso desde 2020, depois de terminada legal e definitivamente a parceria com a Desaer. Entretanto, no mesmo posicionamento enviado, a empresa diz que "as partes decidiram, de comum acordo, cessar a parceria e seguirem o seu caminho e em 10 de novembro de 2021".
Na nota, a empresa de Portugal ainda reforça que "é falso que o CEiiA se tenha apropriado, para quaisquer efeitos e muito menos para serem utilizados no projeto LUS-222, de quaisquer elementos relacionados com o projeto ATL-100". Ela ainda questiona que, "passados três anos e quatro meses desde o momento em que a parceria foi encerrada, estranha-se que apenas agora a DESAER faça as alegações que sabe serem falsas, admitindo-se ser pelo facto do Programa LUS-222 ter hoje a parceria da Força Aérea Portuguesa, estar consolidado e com clientes identificados".
O Ceiia ainda conclui afirmando que está tomando as atitude "necessárias para acionar judicialmente a Desaer por danos patrimoniais e não patrimoniais".
Compare os modelos




Brasileira produzirá o LUS-222
A fabricante de estruturas aeronáuticas brasileira Akaer, sediada em São José dos Campos, foi escolhida para produzir partes do LUS-222.
A previsão é que a produção se inicie ainda no primeiro trimestre de 2025.
O UOL tenta contato com o Ceiia, EAA e AED Cluster Portugal (todos envolvidos no projeto), mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.