Latam sobre fusão de Azul e Gol: 'Não pode eliminar vontade de competir'
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O presidente-executivo (CEO) da Latam, Jerome Cadier, comentou como vê a possível fusão entre suas concorrentes Azul e Gol. A fala foi feita ontem durante o Fórum Panrotas 2025 e marcou a primeira vez que os presidentes das três empresas discutiram juntos, publicamente, a movimentação das companhias desde a divulgação, em janeiro, do memorando de entendimento para firmar o negócio.
Para Cadier, a fusão não pode impedir que o mercado seja competitivo e que haja concorrência entre as empresas do setor. "Eu não acho que Congonhas seja o problema na discussão de uma eventual fusão. Por mais que exista uma concentração de mercado ali, a divisão vai continuar entre 60% [para uma] e 40% [para outra], eventualmente. Acredito que, em algumas outras cidades, pode chegar a ter 90% de concentração de uma única empresa, e esse é um problema", disse o executivo.
Sobre essa questão, Cadier explicou que a predominância desproporcional de apenas um grupo econômico em um aeroporto prejudicaria a empresa minoritária. Como exemplo, citou que, em um local onde uma empresa opera apenas um voo diariamente frente a cinco da concorrência, os clientes tendem a escolher aquela que oferece mais voos. Isso seria explicado por questões como facilidade para alterar horários, reacomodação em outro voo em caso de cancelamento ou atraso, entre outras situações.
"Temos de fazer com que haja equilíbrio na concorrência. Um exemplo bobo: ninguém quer ver uma luta de boxe onde tem um peso-pesado lutando contra um peso-pena, pois não tem graça. A luta não existe. Para isso, você divide em categorias de acordo com o peso e, aí, a luta fica interessante. Agora, ao colocar um lutador de 110 kg com um de 50 kg, você já sabe o que vai acontecer. Não tem nem graça assistir", exemplificou o CEO da Latam.
Mesmo assim, Cadier não se mostrou contrário à união das empresas. "Existem condições em que essa fusão pode ser positiva, sim, para o Brasil. Eu não falei que poderia ser negativa. Sempre vai depender das medidas de mitigação para cada um dos casos. Confio muito no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão de defesa da concorrência e ligado ao Ministério da Justiça), que provou ter um corpo técnico muito forte e que vai olhar para o Brasil para garantir que o cliente tenha alternativas", afirmou Cadier, ao lado dos presidentes da Gol e Azul.
Qual é o incentivo de quem tem 10% de competir com quem está com 90%? [...] O que você quer é que elas compitam. O que você quer é criar uma concorrência. É isso que é importante. O que não pode é eliminar a vontade de concorrer
Jerome Cadier, CEO da Latam
Há espaço para todas

Abhi Shah, presidente da Azul, não descartou que haverá medidas de mitigação para evitar que a concorrência entre as empresas seja afetada. "Concordo com o Jerome [Cadier, CEO da Latam]. Haverá medidas de mitigação. Não iniciamos ainda essa conversa, mas já estamos esperando isso. Uma delas pode ser manter a nossa capacidade", afirmou Shah.
O executivo lembrou ainda que, quando a Azul chegou ao mercado, em 2008, voavam no Brasil cerca de 50 milhões de pessoas por ano. Hoje, essa marca passa de 100 milhões, enquanto a Azul transporta cerca de 34 milhões desse total. "[O aeroporto de] Campinas (SP) tinha 10 voos em 2008. Hoje são 180. Acredito muito que, colocando a nossa malha de voos junta, podemos crescer mais", disse o executivo, destacando a necessidade de expandir a quantidade de voos no Brasil.
Cresça a sua capacidade!
Abhi Shah, presidente da Azul
Competição com assento vazio

Celso Ferrer, CEO da Gol, também defendeu a realização de medidas de mitigação para evitar a quebra da concorrência. "Esse processo vai ter muitas etapas e vai levar um tempo. [...] Temos de provar que vai ser melhor para a sociedade, para os acionistas e para os colaboradores", afirmou Ferrer.
O executivo rebateu as acusações de que a fusão entre a Gol e a Azul não seria benéfica para o setor. "O setor aéreo compete, muitas vezes, contra o nosso próprio assento vazio. O preço está muito mais ligado à maneira como você coloca a sua oferta do que à quantidade de empresas", disse o CEO da Gol.
Ferrer defendeu ainda a união das empresas, que ficará sob o comando do grupo Abra, formado hoje pela Avianca (Colômbia), Gol (Brasil) e Wamos (Espanha). Dessa forma, as empresas ganham mais poder para ter acesso a crédito mais barato, financiar suas operações e se tornam mais fortes para negociar aviões e motores, por exemplo, por preços melhores, além de reduzir o prazo de entrega devido ao volume das aquisições.
Consolidação é comum
Em outro painel durante o Fórum Panrotas 2025, Joe Mohan, diretor comercial do grupo Abra, falou sobre a concentração de mercado de empresas aéreas. "Essas movimentações são mais financeiras [do que operacionais]. O que posso dizer é que, quando você observa mercados mais maduros fora da América Latina, vê um movimento de consolidação acontecendo há algum tempo", disse o executivo.
São casos de grupos como:
- Air France-KLM, que controla as empresas Air France, KLM Royal Dutch Airlines e Transavia;
- IAG (International Airlines Group), que controla as empresas British Airways, Iberia, Vueling, Aer Lingus, Level, IAG Loyalty e IAG Cargo;
- Lufthansa Group, que controla as empresas Lufthansa (e seus parceiros regionais), Eurowings, Discover Airlines, Swiss, Edelweiss Air, Austrian Airlines, Brussels Airlines, ITA Airways e Lufthansa Cargo.
"Podemos tornar qualquer empresa aérea na região mais eficiente, diminuir seus custos e entregar um produto melhor com uma tarifa mais baixa", afirmou Mohan.