Voepass pede recuperação judicial: Empresa já passou por isso antes e saiu

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A mais antiga companhia aérea brasileira em operação enfrenta novamente problemas graves. A Voepass, antigamente conhecida como Passaredo, entrou com um novo pedido de recuperação judicial, alegando dificuldades financeiras agravadas por um acidente aéreo ocorrido em 2024 e pela relação conturbada com a Latam Brasil, sua parceira em um acordo de codeshare.
Com dívidas que somam mais de R$ 200 milhões e com as operações suspensas, a empresa tenta evitar o colapso completo com esse novo pedido. A situação remete a um capítulo anterior da sua história, quando a então Passaredo pediu recuperação judicial em 2012.
À época, ela se reestruturou, trocou de frota e conseguiu dar a volta por cima. Dessa vez, entretanto, o desafio é ainda maior.
Nova recuperação judicial
O pedido foi protocolado no Tribunal de Justiça de São Paulo em 22 de abril de 2025, apenas um mês depois de a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspender todas as operações da empresa por questões de segurança. A medida extrema veio após um acompanhamento de perto das operações da empresa pela Anac em decorrência da queda de uma aeronave ATR 72 em agosto de 2024, que deixou 62 mortos, incluindo passageiros e tripulantes.
Segundo a própria Voepass, os efeitos do acidente foram devastadores. Quatro aeronaves precisaram ser retiradas de operação, o que impactou diretamente o acordo de codeshare com a Latam — principal fonte de receita da companhia nos últimos anos.
A companhia ainda afirma que a empresa parceira passou a, praticamente, controlar de maneira exagerada as ações da empresa devido à dependência dela. Ainda, acusa a Latam de ter atrasado repasses financeiros, o que agravou o rombo nas contas.
Com a operação interrompida, a receita foi a zero e a Voepass se viu obrigada a buscar proteção judicial contra credores para evitar a falência.
O primeiro pedido
O cenário atual guarda semelhanças com o vivido em 2012, quando a empresa — ainda sob o nome Passaredo Linhas Aéreas — também entrou em recuperação judicial. Naquela época, a crise não veio de um acidente, mas do próprio crescimento acelerado.
A Passaredo chegou ao início da década de 2010 operando cerca de 20 aeronaves, sendo parte delas jatos regionais Embraer ERJ 145, com capacidade para até 50 passageiros. Atendia a dezenas de destinos, principalmente no interior do Brasil, com foco em rotas regionais pouco exploradas por grandes companhias.
Essa expansão, entretanto, exigia capital constante para conseguir se sustentar, e as receitas não acompanharam o ritmo.
Sem caixa para renovar a frota ou manter a malha aérea, a empresa se viu encurralada por dívidas trabalhistas, bancárias e fiscais. Em outubro de 2012, entrou com pedido de recuperação judicial, com uma dívida estimada na época em R$ 150 milhões.
Um dos principais pilares do plano de reestruturação foi abandonar gradualmente os jatos da Embraer e padronizar a frota com aeronaves ATR 72, turboélices mais econômicas e com melhor desempenho em pistas curtas — perfeitos para os aeroportos regionais onde a companhia atuava.
A mudança não foi só estratégica, mas também simbólica: a Passaredo deixava de lado a ambição de disputar com os gigantes da aviação e abraçava de vez o papel de companhia regional.
Pedido aprovado
O plano de recuperação foi aprovado pelos credores em 2013 e previa o pagamento das dívidas em até 15 anos. A renegociação foi considerada bem-sucedida e deu novo fôlego à empresa, que passou a operar exclusivamente com aviões ATR, enxugou rotas deficitárias e concentrou esforços em cidades médias do interior do país.
Além da troca de frota, o plano incluiu a redução de custos administrativos, renegociação de contratos de leasing e busca por novos acordos comerciais. Um dos apoios decisivos veio de políticas públicas de incentivo à aviação regional, que viabilizaram a manutenção de voos em localidades menos acessíveis.
A Passaredo, aos poucos, conseguiu reequilibrar as contas e estabilizar sua operação, mesmo sem o glamour dos voos maiores.
Saída com sucesso
O processo de recuperação foi oficialmente encerrado em 2017, quando a Justiça entendeu que a empresa havia cumprido os compromissos assumidos. Com as finanças em ordem, a Passaredo voltou a crescer, ainda que de forma mais cautelosa.
Em 2019, comprou a MAP Linhas Aéreas, do Amazonas, em uma tentativa de ampliar presença no Norte e Nordeste. A operação foi significativa porque deu acesso à empresa a valiosos slots (autorizações de pousos e decolagens) no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o mais disputado do país.
No mesmo ano, adotou o nome Voepass Linhas Aéreas, como parte de uma estratégia de reposicionamento no mercado. Mas a MAP foi vendida à Gol pouco tempo depois. A Voepass manteve sua missão de ser uma ponte aérea entre cidades médias e os grandes centros do país.
Até o acidente de 2024, a empresa operava com cerca de 14 aeronaves ATR e atendia mais de 30 destinos, mantendo cerca de 700 empregos diretos.
Histórico
Fundada em 3 de julho de 1995, em Ribeirão Preto (SP), por José Luiz Felício Filho, a Passaredo nasceu como uma empresa familiar voltada à aviação regional. Começou com aviões EMB-120 Brasília e rapidamente ganhou espaço em cidades do interior paulista.
Durante os anos 1990 e início dos 2000, teve altos e baixos — inclusive com uma interrupção temporária das atividades em 2002. Retornou em 2004 com uma nova configuração e tentou operar voos charter com um Airbus A310, algo raro para uma empresa regional, mas a experiência durou pouco.
Ao longo de quase três décadas, voou para mais dezenas de destinos diferentes e operou diversos modelos de aviões, incluindo os jatos Embraer e os ATR, com os quais consolidou sua identidade nos últimos anos.
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