Aumento de rotas e voos: Por que aéreas fazem ofensiva rumo à Argentina?

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Nos últimos meses, a conexão entre o Brasil e a Argentina vem ganhando diversos reforços das companhias aéreas. Não apenas na quantidade de voos, mas de destinos oferecidos entre os dois países.
Para além das companhias aéreas mais tradicionais, empresas low cost também estão abocanhando uma fatia desse mercado, que tem apresentado um crescimento ano a ano.
Mais procurado em 2025
Entre janeiro e abril de 2025, as rotas entre Brasil e Argentina desbancaram a ligação com os EUA entre as mais procuradas. Foram 1,8 milhão de pessoas transportadas entre os países sul-americanos (em 2024, foram 1,36 milhão de passageiros no mesmo período) frente a 1,6 milhão de passageiros entre Brasil e os Estados Unidos (em 2024, foram 1,44 milhão de passageiros no mesmo período).
Esses número estão longe do recorde registrado em 2018, quando 4 milhões de passageiros viajaram entre Brasil e Argentina. Entretanto, no primeiro quadrimestre daquele ano, foram 1,6 milhão de pessoas viajando entre os dois países, menos do que no mesmo período de 2025.
Os dados são da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Principais empresas
O ranking das empresas que mais transportaram passageiros entre Brasil e Argentina (ida e volta) em 2025 é o seguinte:
- Gol: 573 mil passageiros transportados (32% de participação)
- Aerolíneas Argentinas: 507 mil passageiros transportados (28% de participação)
- Latam: 215 mil passageiros transportados (12% de participação)
- Flybondi: 202 mil passageiros transportados (11% de participação)
- JetSmart: 165 mil passageiros transportados (9% de participação)
- Demais empresas: 148 mil passageiros transportados (8% de participação)
Algumas empresas ainda fazem a conexão com a Argentina após uma escala no Brasil, como é o caso da Turkish, que desembarca uma parcela dos passageiros no Brasil e embarca outros para a Argentina.
Por que cresceu?
No primeiro trimestre de 2025, o Brasil recebeu 870 mil turistas argentinos, sendo que 613 mil chegaram ao país via aérea, um número 88% maior que o mesmo período de 2024. A entrada no território brasileiro foi feita em maior número pelo Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Bahia e Distrito Federal, na ordem.
Esse aumento é atribuído, principalmente, a fatores econômicos, como a desvalorização do real e a estabilidade do peso argentino em relação ao dólar. Com isso, o Brasil se tornou um destino mais acessível para os argentinos.
Ao mesmo tempo, o aumento da oferta de assentos, resultando em melhores preços para os passageiros, somado às estratégias promocionais das companhias aéreas também favoreceram a crescente demanda turística entre os dois países.
Segundo Ana Maria Vieira Fernandes, diretora da Faculdade de Turismo da PUC-Campinas, a conexão aérea entre Brasil e Argentina "já está fundamentada e consolidada há bastante tempo, a partir de uma combinação mesmo desses fatores que são estratégicos, econômicos, turísticos". Ela destaca que "Brasil e Argentina são os dois maiores emissores de turistas um para o outro aqui na América do Sul".
A professora aponta ainda que o crescimento recente do turismo é impulsionado por elementos como o câmbio e a facilidade de circulação. "[O turista está indo] para uma destinação que tem uma localização geográfica próxima, que tem uma língua que soa melhor no ouvido, que dê para o turista se virar melhor [...], e o brasileiro pode entrar na Argentina com somente o seu RG", afirma.
Ao mesmo tempo, Ana Maria destaca a expansão das companhias aéreas e o papel da concorrência. "Essa diversificação dos hubs também é superinteressante porque você vai descongestionando alguns aeroportos principais", afirma. "É importante que não se esqueça da governança, de planejamento territorial das malhas e também, sobretudo, da questão da sustentabilidade", alerta a professora, pensando no crescimento estruturado do serviço.
Entre os principais fatores apontados por Ana que justificam a alta na conectividade entre os dois países se destacam:
- Alta demanda turística bilateral consolidada
- Proximidade geográfica
- Câmbio favorável
- Facilidade de entrada apenas com RG (Pelos países fazerem parte do Mercosul)
- Língua mais próxima ao português, que gera conforto ao turista
- Atrativos culturais e gastronômicos de ambos os países
- Expansão das rotas e entrada de novas companhias aéreas
- Diversificação dos hubs regionais (como as cidades do nordeste, no Brasil, e de Córdoba e Rosário, na Argentina)
- Possibilidade de integração logística (transporte de cargas no mesmo voo de passageiros)
- Incentivos governamentais e acordos bilaterais
O que as empresas querem?
O UOL conversou com as principais empresas aéreas que fazem a conexão entre os dois países. Veja a seguir o posicionamento de cada uma.
Gol

A Gol opera atualmente o maior número de rotas entre Brasil e Argentina, mercado em que está presente há 20 anos. A empresa aposta na diversidade de destinos, no aumento de frequências e na manutenção da presença no Aeroparque, aeroporto central de Buenos Aires.
Segundo Rafael Araujo, diretor de Planejamento de Malha Aérea da Gol, a ligação entre os dois países é "historicamente atrativa, pelo fato de o país vizinho, culturalmente tão diverso, estar a pouca distância do Brasil e oferecer uma experiência de viagem diferente da que temos no nosso país".
"Por outro lado, a extensa costa brasileira, com praias paradisíacas, cachoeiras e natureza exuberante, é o grande foco dos argentinos que se destinam ao Brasil. Mas, além das praias, os argentinos têm explorado cada vez mais cenários diferentes, como as grandes capitais brasileiras: Rio de Janeiro (que concentra a maior procura), São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e, mais recentemente, Porto Alegre", afirma o executivo.
Araujo destaca ainda que os aeroportos de Guarulhos, Brasília e Galeão passaram a funcionar como hubs para argentinos que seguem viagem a destinos como Estados Unidos, Caribe e Colômbia.
"A Argentina é um dos primeiros destinos internacionais escolhidos pelos brasileiros, e a presença da Gol, com uma oferta generosa de voos e horários, é um fator determinante nessa escolha", diz. Ele também cita o programa de fidelidade Smiles Argentina como um diferencial para atrair passageiros locais.
Na Argentina, a Gol voa para Buenos Aires (Ezeiza e Aeroparque), Córdoba, Rosário, Mendoza e, sazonalmente, Bariloche. No Brasil, as partidas ocorrem de São Paulo (Guarulhos), Rio de Janeiro (Galeão), Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte (Confins), Salvador, Recife, Fortaleza, Natal, Maceió, João Pessoa, Porto Seguro e Florianópolis.
Em abril, foram 928 voos e 171 mil assentos ofertados. Em 2025, a empresa ampliou em 100% sua oferta de assentos em Buenos Aires e em 57% a malha Brasil-Argentina, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Latam

Hoje, a Latam opera três destinos entre Brasil e Argentina: para Buenos Aires (Ezeiza e Aeroparque) e Mendoza. No segundo semestre, a companhia deverá lançar quatro novas rotas: Guarulhos-Córdoba (diária), Guarulhos-Rosário (quatro semanais), Porto Alegre-Aeroparque (três semanais) e Florianópolis-Ezeiza (diária).
A empresa ainda irá operar voos sazonais para Bariloche, entre 23 de junho e 31 de agosto, chegando a oito rotas diretas entre os países.
A empresa é a mais antiga a fazer a ligação a partir do Brasil, com voos desde 2001. A empresa prevê aumentar de 43 para 74 voos semanais entre janeiro de 2025 e 2026, uma alta de 72%.
Segundo Aline Mafra, diretora de Vendas e Marketing da Latam Brasil, o diferencial da empresa está na conectividade e na experiência a bordo. A companhia liga mais de 50 aeroportos brasileiros a 75 na América do Sul. A empresa ainda aposta em conseguir a preferência dos clientes em meio a tanta concorrência inaugurando ainda neste ano uma nova sala VIP no aeroporto de Guarulhos, que deverá ser a maior da América Latina.
A empresa aponta desafios como câmbio, impostos e entrega de aeronaves para conseguir aumentar o número de passageiros internacionais. A empresa tem desde fevereiro uma acordo de codeshare com a Aerolíneas Argentinas, a segunda companhia que mais transporta passageiros entre os dois países.
Flybondi

Em nota, a Flybondi afirma ser a primeira low cost a conectar a Argentina e o Brasil, há seis anos. A empresa destaca que o Brasil é seu único mercado internacional e que a atuação nas rotas para Rio, São Paulo e Florianópolis consolidou seu diferencial de oferecer tarifas baixas.
A companhia também aposta em novas rotas na próxima temporada de verão. "Conectamos Buenos Aires com o nordeste brasileiro pela primeira vez. Maceió e Salvador têm alto potencial turístico e baixa conectividade, com tarifas muito altas. Aí, a Flybondi faz a diferença", diz a empresa.
A companhia ainda anunciou voos diretos de Córdoba para o Brasil, sem passar por Buenos Aires, algo inédito na história da companhia.
Segundo a aérea, a resposta dos passageiros "tem sido excelente" e se reflete nos altos níveis de ocupação. "Nosso objetivo é claro: continuar sendo uma opção de qualidade, acessível e confiável para quem quer viajar entre os dois países".
Azul

A Azul anunciou a realização de voos sazonais entre Campinas (Viracopos) e duas cidades argentinas, Bariloche e Mendoza, durante a alta temporada de inverno. As operações acontecem entre 17 de junho e 24 de agosto, com aeronaves Airbus A320.
Serão 90 voos de ida e volta para Bariloche e 60 para Mendoza. "Em 2024, nossa operação em Bariloche foi um sucesso, com ocupação acima de 90%. Neste ano, teremos mais voos, incluindo saídas de Belo Horizonte e Porto Alegre. E vamos estrear a rota para Mendoza, que tem grande potencial entre os brasileiros", afirma Vitor Silva, gerente geral de Malha, Planejamento Estratégico e Alianças da Azul.
A empresa afirma que Bariloche é um dos destinos favoritos dos brasileiros no inverno, com paisagens nevadas e estações de esqui. Já Mendoza, famosa pelas vinícolas e pela proximidade com a Cordilheira dos Andes, atrai turistas com foco na gastronomia e cultura.
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O UOL também pediu um posicionamento para a Aerolíneas Argentinas e para a JetSmart, mas as duas empresas não responderam até a publicação da reportagem.
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