O que está por trás do boom de salas VIPs nos aeroportos pelo país?

O crescimento do mercado premium é um dos fatores que podem explicar esse fato. Com crescimento na casa dos dois dígitos nos últimos anos, essa alta pode indicar que há um público disposto a pagar pelo serviço, o que é observado pelas filas e restrições impostas em algumas salas VIPs, como tempo máximo de permanência.

A segmentação dos serviços oferecidos pelas companhias aéreas também tende a explicar esse boom, em um momento em que elas buscam por diferenciação competitiva. Isso se reflete nos programas de fidelização dos clientes, onde alguns passageiros podem ter acesso às salas de companhias aéreas dependendo do status que tenham junto à empresa ou o tipo de bilhete.

No Brasil, a Azul possui uma sala VIP no aeroporto de Viracopos; Gol, em parceria com a Smiles, tem salas nos aeroportos de Guarulhos e do Galeão (RJ); já a Latam possui lounge em Guarulhos.

Aeroportos se diferenciam

Em momentos de pico, as áreas de embarque de diversos aeroportos ficam abarrotadas, e é comum encontrar apenas longos bancos, muitas vezes desconfortáveis. Com esse cenário, aeroportos podem se beneficiar das salas VIPs.

De acordo com Juan Sanchez, diretor comercial da Aena (que administra 17 aeroportos no Brasil, entre eles, o de Congonhas), as inaugurações desses espaços no aeroporto significam mais conveniência e serviços de alta qualidade, "transformando o tempo de espera em uma experiência diferenciada". O aeroporto deve inaugurar ainda em 2025 um novo lounge com 1.000 m² de área e um novo espaço para lojas com 800 m², "marcando uma expansão significativa na sala de embarque do terminal sobre um espaço anteriormente ocioso".

Em 2025, o aeroporto passou a contar com uma nova sala VIP de 1.095 m² e capacidade para receber mais de dois mil passageiros por dia, sendo 290 simultâneos. De acordo com Sanchez, esse novo espaço será operado pela Ambaar para o Bradesco, se tornando um dos maiores espaços do tipo no mundo.

Em Guarulhos, há salas VIP em todos os terminais, sendo as mais amplas no terminal 3, dedicado à operação de voos internacionais. Há tanto salas de bancos, quanto de companhias aéreas, quanto de empresas especializadas em oferecer esse tipo de serviço, incluindo grupos globais.

O aeroporto de São Luís (MA) conta com uma sala VIP, inaugurada apenas no final de 2024, por exemplo. Isso mostra que o mercado ainda possui espaço para crescer, ainda mais para fora dos grandes aeroportos centrais.

É diferencial mesmo?

Para o professor universitário e ex-secretário de Aviação Civil do governo federal Dario Rais, as salas VIP estão se tornando um item de avaliação do nível de serviço dos aeroportos, como assento conforto ou bagagem despachada sem custo são para as empresas aéreas.

Sobre a quantidade destas salas ligadas a bancos, Rais acredita que essa seja uma conjugação de um melhor nível de serviço associado ao banco e não ao aeroporto. "Tende a ser um fator de decisão de compra, mas de uma forma distinta de assento conforto ou bagagem porque o serviço é prestado por uma instituição financeira. Aí entra forma de pagamento, pontuação de cartão como elemento de avaliação", afirma o professor.

Rais ainda lembra que, em sua experiência, quando atuou estruturando uma concessionária aeroportuária, realizava pesquisas diretamente com os clientes e a questão das salas costumava aparecer. "A principal reclamação (já resolvida) no aeroporto de São José Rio Preto (SP) era tomada para celulares iPhone. A segunda maior queixa era a falta de uma sala VIP, que ainda estava em construção. Ribeirão Preto (SP) já tem. É um reflexo de Guarulhos e Congonhas: as pessoas querem repetir a mesma "experiência do passageiro" nos aeroportos regionais.

Ainda é possível observar que, onde há aeroportos próximos, como São Paulo (servido por Congonhas, Guarulhos e Viracopos, em Campinas), os passageiros podem estruturar suas viagens pensando nesse tipo de serviço. Quem tem acesso a algum tipo de sala pode escolher voar pelo aeroporto que melhor atenda a sua demanda, ponderando o preço e os horários das passagens, além do tempo de deslocamento até o local.

O que pensam as empresas?

Veja o que algumas das principais operadoras de salas VIP do país pensam

Visa Infinite Privilege Lounge

A Visa inaugurou em maio no aeroporto de Guarulhos Visa Infinite Privilege Lounge, com 165 m² e capacidade para até 38 pessoas. Apenas poderão usufruir do espaço os portadores do cartão Visa Infinite Privilege e com uma reserva de, pelo menos, 24 horas de antecedência.

No mesmo aeroporto, a operadora de cartões ainda conta com o Visa Infinite Lounge desde 2022. Ano passado, espaço foi ampliado para 700 m² e dobrou a capacidade, conseguindo atender até 200 viajantes.

Segundo a empresa, o local está alinhado com sua estratégia de diferenciação no segmento de alta renda. "Aqui no Brasil, dentro da nossa estratégia de marca e posicionamento do Visa Infinite, como cartão premium que oferece valor agregado ao portador, entendemos que seria importante ter uma sala proprietária", informou a empresa em nota.

Advantage

Com salas em diversos aeroportos e sem estar ligada a um banco ou companhia aérea, a operadora Advantage foi uma das que ampliou seu espaço no aeroporto de Congonhas. A empresa também está presente em aeroportos como os de Campo Grande, Foz do Iguaçu, Joinville, Maceió, Campina Grande, entre outros.

A empresa informa que sempre avaliam oportunidades e analisam mercados-chave em aeroportos com alta demanda e visibilidade para a presença da marca como estratégia de expansão.

Plaza Premium Group

O Plaza Premium Lounge possui seis salas no aeroporto de Guarulhos. Duas próprias, duas sob a marca Gol Smiles e mais duas da marca Visa Infinite, sendo a maior operadora do local em área útil. Globalmente, é uma das maiores operadoras de lounges VIPs em aeroportos do mundo, presente em 150 países e em 600 aeroportos.

De acordo com Fernanda Lemos, gerente-geral do Plaza Premium Group na América Latina, a operação de salas VIP próprias e em parceria passa por uma análise estratégica. "[...] Em lounges proprietários ou geridos por meio de parcerias estratégicas, nós estamos presentes nesses projetos desde a concepção (design), passando por sua construção e até a gestão e operação integral destes ambientes", afirma a executiva.