Todos a Bordo

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Reportagem

Como 'Waze' aéreo faz empresas economizarem combustível e barateia custos

Uma tecnologia que parece saída de um aplicativo de trânsito está mudando a maneira como as rotas aéreas são planejadas no Brasil. Em busca de voos mais curtos, consumo menor de combustível e redução de custos, a Azul Linhas Aéreas adotou um software que indica, em tempo real, as melhores oportunidades para encurtar trajetos durante o voo.

Isso porque as aerovias não são, necessariamente, o caminho mais curto entre dois aeroportos. Elas servem para desviar de obstáculos como morros, separar tráfego, evitar colisões entre aeronaves. E é justamente nesses desvios que o programa atua, para encontrar rotas mais curtas e, ainda assim, totalmente seguras.

Com a novidade, a companhia já projeta economizar quase R$ 29 milhões em 2025.

Encurtando distâncias

Batizado de OptiDirect, o sistema atua de forma semelhante ao Waze que muitos motoristas usam nas ruas. Só que, em vez de sugerir rotas alternativas para escapar do trânsito, ele aponta atalhos no ar para os pilotos.

A tecnologia analisa dados históricos de milhares de voos, identificando trechos onde há maior chance de liberação pelos controladores de voo para que o avião realize uma rota mais direta rumo ao destino. A cada voo, o software sugere possíveis encurtamentos, que podem ser aceitos ou não pelos pilotos, sempre com a segurança em primeiro lugar.

Ele é desenvolvido pela Sita (Sociedade Internacional de Telecomunicações Aeronáuticas), multinacional de propriedade das empresas do setor aéreo que opera serviços de tecnologia de informação para o ramo.

Como funciona?

O funcionamento é simples, mas exige coordenação. Antes, é preciso entender como funcionam as aerovias, que são os caminhos pelos quais os aviões voam.

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De maneira simplista, essas rotas possuem pontos fixos que devem ser seguidos pelas aeronaves, com o objetivo de melhorar o tráfego aéreo, desviar de obstáculos, ingressar em caminhos para descer aos aeroportos, entre outros.

Antes de decolar, os pilotos devem informar ao Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo, órgão ligado à Aeronáutica) quais desses caminhos irão seguir durante o voo. E é justamente aqui que o software atua.

Em tablets instalados nas cabines dos aviões, o sistema apresenta aos pilotos recomendações de encurtamento de rotas baseadas no histórico de trajetos já realizados entre pontos fixos de navegação aérea.

Essas indicações são geradas a partir de informações como trajetórias anteriores, planejamento de voo, bases de dados aeronáuticas e até previsão meteorológica. Cabe ao piloto analisar a proposta feita pelo software e pedir autorização ao controle de tráfego aéreo para efetuar a mudança.

Se for autorizado, o avião segue por um caminho mais curto até o destino. Se não, a aeronave continua pela rota original, sem qualquer prejuízo para a operação, já que as rotas já são otimizadas. Em nenhum momento o sistema impõe mudanças: trata-se apenas de uma sugestão baseada em estatística.

Economia de dois anos da ponte aérea

A Azul adotou esse sistema nos últimos meses e já obteve resultados expressivos. Em 2024, apenas otimizando as subidas e descidas, a companhia economizou 15,6 milhões de litros de combustível, volume suficiente para abastecer os aviões da empresa por dois anos para realização da ponte aérea Rio-São Paulo.

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Com o uso do OptiDirect também durante o cruzeiro, a previsão é de uma economia adicional de quase R$ 29 milhões em 2025. Essa redução de custos é significativa num setor onde o combustível pode representar até 40% das despesas operacionais de uma companhia aérea, abrindo espaço para baratear o custo das passagens (ou frear os aumentos).

Mais do que números, a economia representa uma contribuição concreta para metas ambientais do setor, reduzindo emissões de carbono em uma indústria que busca alcançar a neutralidade de carbono até 2050, ou seja, zerar o saldo de emissões nas próximas décadas.

Pequenos ganhos que fazem a diferença

Um dos grandes trunfos do sistema é justamente não buscar apenas grandes encurtamentos, difíceis de serem liberados devido à complexidade do tráfego aéreo, mas somar pequenos ganhos em quase todos os voos. A lógica é parecida com aquela usada por motoristas experientes: ganhar minutos aqui e ali, sem depender de uma grande rota alternativa.

O software prioriza sugestões com maior chance de aprovação pelo controle de tráfego aéreo, mesmo que a economia de combustível em cada caso seja modesta. A estratégia de volume "grão em grão" que, no fim, gera um impacto financeiro expressivo.

Para as tripulações, a operação continua segura e sob controle. A decisão de aceitar ou recusar cada sugestão é totalmente do piloto, e todas as recomendações respeitam os limites de espaço aéreo estabelecidos.

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Otimizando a subida e a descida

Além de encurtar rotas em cruzeiro, a Azul também investiu em projetos para reduzir o tempo e a distância nas fases de subida e descida, momentos em que o consumo de combustível é proporcionalmente maior.

Ao eliminar restrições desnecessárias de altitude ou permitir subidas mais diretas, o ganho é duplo: os aviões consomem menos e o tempo de voo diminui. Nas descidas, a otimização também gera ganhos, ainda que menores, ajudando a reduzir o desgaste dos motores e os custos de manutenção.

Ao mesmo tempo, a coleta contínua de dados pelo sistema também permitirá, no futuro, propor ajustes definitivos nas rotas junto ao Decea, incorporando os atalhos mais frequentes ao planejamento oficial.

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