Acidente com 787 na Índia é o primeiro com fatalidades do modelo; conheça
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Nesta quinta-feira (12), um Boeing 787 da Air India que decolou de Ahmedabad (Índia) com destino a Londres (Inglaterra) caiu logo após a decolagem, pegando fogo em seguida. As informações ainda são parciais, mas, até o momento, 30 corpos já foram retirados dos escombros, segundo equipes de resgate.
Essa é a primeira tragédia envolvendo o modelo, o mais novo do segmento de aviação comercial da Boeing em operação. Até então, nenhuma ocorrência com o 787 teve fatalidades envolvidas.
Em nota, a empresa relatou estar coletando mais informações sobre acidente. "Estamos em contato com a Air India sobre o voo 171 e prontos para oferecer nosso apoio. Nossos pensamentos estão com os passageiros, a tripulação, os socorristas e todos os afetados", informou a empresa em nota.
Conheça o modelo e outros problemas que a aeronave já se envolveu.
Histórico
O 787 foi lançado em 2004, mas só entrou em operação em 2011, dois anos após realizar o seu primeiro voo. A aeronave é montada na fábrica da Boeing em Everett, no estado de Washington (EUA).
O avião de corredor duplo é montado com peças de 135 locais espalhados pelo mundo, e ele possui diversas tecnologias novas em seu corpo. Sua principal missão é realizar voos de longa distância com alta capacidade, se tornando um dos preferidos para operações intercontinentais no mercado.
São três variantes do modelo: O 787-8, versão mais disseminada, o 787-9 e o 787-10, o maior da família. A capacidade de cada um vai de 248 passageiros a até 336 passageiros.
Novas tecnologias
Uma das tecnologias mais inovadoras na fabricação do 787 são os materiais compostos, que representam 53% do total da aeronave. Sua fuselagem, por exemplo, é feita de fibra de carbono, material mais leve e resistente que o alumínio, utilizado em outros aviões do mesmo tipo.
Assim, o avião fica mais leve e economiza combustível. Junto a isso, os motores escolhidos para equipar o modelo emitem 25% menos gás carbônico que outros similares.
Os motores também são mais silenciosos, segundo a fabricante, o que diminui a poluição sonora e torna a viagem dentro da cabine de passageiros mais silenciosa. Essa redução no ruído se deve, principalmente, ao desenho da saída de ar do motor. Em formato ondulado, ela dispersa melhor as partículas de ar, e foi apelidada de "capa do Batman" ou "roupa dos Flintstones", devido à sua semelhança com os adereços desses personagens.
Outro ponto que o avião desenvolveu para melhorar a experiência de voo foi manter a umidade dentro da cabine maior, chegando a 15% frente a 4% de outras aeronaves em geral, já que não há o uso de materiais tão suscetíveis à corrosão. Isso melhora a sensação de conforto a bordo, principalmente em voos com maior duração.
O material composto da fuselagem também aguenta melhor a diferença de pressão entre o lado de dentro e o de fora da aeronave. Com isso, o interior da cabine reproduz a pressão atmosférica de um local a uma altitude de 1.800 metros, frente a 2.400 metros de outros aviões. Como resultado, o passageiro sente-se mais confortável devido à sensação de estar um pouco mais próximo do nível do mar.
As janelas são maiores que a de outros aviões similares, com 46,7 centímetros de altura por 27,2 de largura, e não contam com cortinas (ou persianas) tradicionais. Cada janela tem um controle individual eletrônico para ser escurecida ou clareada conforme a vontade do passageiro.
Isso se torna útil em momentos em que o passageiro quer manter a visão do lado de fora, mas a claridade é muito alta, funcionando como óculos escuros. Em voos noturnos, por exemplo, quando o dia nasce e um passageiro esqueceu sua janela "aberta", os comissários podem escurecer cada uma individualmente, evitando que o clarão acorde as pessoas a bordo.
Sistemas elétricos
Outra grande inovação do 787 é a utilização ampla de sistemas elétricos no lugar de sistemas pneumáticos, ou seja, aqueles movidos a ar. A partida do motor, por exemplo, é feita com um sistema elétrico, o que agiliza o acionamento e consome menos combustível, poluindo menos e gerando menos custos.
O ar-condicionado também é elétrico no 787, deixando de funcionar com o ar do motor. Essa melhora na potência é similar a um carro, onde o ar-condicionado tira um pouco da potência do motor quando está em funcionamento.
O modelo ainda conta com um sistema de auxílio à pilotagem chamado HUD (Head up Display, ou, monitor de alerta, em tradução livre) de fábrica. Ele ajuda os pilotos a voarem projetando as informações mais importantes bem à frente de suas cabeças, e não apenas nas telas logo abaixo nos painéis do avião.
Problemas envolvendo o 787
Durante seu desenvolvimento, o 787 passou por algumas polêmicas. Em 2021, a Boeing suspendeu as entregas do modelo após a descoberta de que peças de titânio de fornecedores não estariam de acordo com os padrões exigidos pela fabricante.
Em 2013, a frota da aeronave foi impedida de voar no mundo todo devido a problemas em suas baterias. Em janeiro daquele ano, um 787-8 da Japan Airlines que havia pousado no Aeroporto Internacional de Boston Logan, nos Estados Unidos pegou fogo. Funcionários responsáveis pela limpeza detectaram fumaça no avião, e as equipes de manutenção, ao abrirem o compartimento da bateria, encontraram as chamas.
O avião foi liberado para voar naquele mesmo ano, mas, meses depois outro 787, desta vez, da Ethiopian Airlines, pegou fogo no aeroporto de Heathrow, em Londres (Inglaterra), mas a causa apontada como mais provável seria um curto-circuito.
Já em 2021, a empresa havia descoberto folgas na montagem de uma parte do modelo, o que poderia levar a um desgaste antecipado do avião, que já tem mais de mil unidades entregues. A Boeing iniciou uma série de inspeções nos aviões entregues para detectar quais tinham esse problema e realizar os reparos.
Alguns dos problemas foram detectados antes mesmo de os aviões voarem, como no caso da qualidade das peças feitas de titânio e eles não representam um risco imediato à segurança de voo. Todos os voos com o modelo só foram liberados após a concordância dos órgãos regulatórios, que precisaram atestar que os problemas foram sanados ou que não ofereciam riscos.
Testes exaustivos
A Boeing mantém aviões já montados em sua fábrica para realizar testes práticos. Um dos 787 de testes já passou por mais de 165 mil ciclos de pousos e decolagens simulados, com máquinas que forçam o avião para forças mais de 150% além do que eles foram projetados.
O ciclo de vida do avião é de cerca de 44 mil pousos e decolagens ao todo durante toda sua vida útil. Ou seja, já foram feitos testes quatro vezes mais do que um avião enfrentaria em uma situação real ao longo da sua vida
Entre alguns dos testes, as asas são puxadas em diversos sentidos, vários metros para cima e para baixo, para saber qual será o seu comportamento. Também existe um teste tradicionalmente feito com a asa, onde ela é forçada até se romper, para saber, na prática, o quanto ela aguenta.
Ao mesmo tempo, o corpo do avião é pressurizado e despressurizado inúmeras vezes para testar se não haverá nenhum estresse dos materiais ou se a fuselagem não se rompe devido a algum desgaste. Os testes foram avaliados pela FAA, segundo a fabricante e, após todos esses ciclos, não foram encontradas falhas decorrentes de fadiga nos materiais da fuselagem do 787.
Em 2024, visitei as fábricas da Boeing nos EUA. Uma das principais preocupações da empresa foi mostrar como mudou seus procedimentos de segurança, principalmente após problemas envolvendo o Boeing 737 Max.
Veja mais aqui.
Ficha Técnica
Modelo: Boeing 787
Capacidade (duas classes): 248 passageiros (787-8), 296 passageiros (787-9) ou 336 passageiros (787-10)
Altura: 17 metros
Envergadura (distância de ponta a ponta das asas): 60 metros
Comprimento: 57 metros (787-8), 63 metros (787-9) ou 68 metros (787-10)
Distância máxima de voo: 13.530 km (787-8), 13.950 km (787-9) e 11.750 km (787-10)
Peso máximo de decolagem: 254 toneladas (787-10)
Velocidade: cerca de 1.000 km/h
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