Brasil é 'mercado do futuro', mas ainda assusta aéreas, diz JetSmart

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Com operações domésticas em quatro países e voos internacionais para oito destinos, a JetSmart é hoje uma das principais companhias aéreas ultra low-cost (ULCC) da América do Sul. Foi fundada em 2016 pelo fundo Indigo Partners, que já possui experiência nesse tipo de empresa em outros continentes, e tem uma frota de 49 aeronaves dos modelos Airbus A320 e A321.
Hoje já são mais 80 rotas operadas, com voos domésticos em Chile, Argentina, Peru e Colômbia, além de operações internacionais para o Brasil, Equador, Paraguai e Uruguai.
Conversei com o diretor-executivo da JetSmart, Estuardo Ortiz, em 2024 e na edição de 2025 do Woca (Wings of Change Americas), evento da Iata (International Air Transport Association, ou, Associação Internacional de Transportes Aéreos). Durante as entrevistas, o executivo comentou os planos de expansão no continente, os desafios de operar no Brasil e as dificuldades regulatórias que limitam o avanço do modelo de baixo custo na região.
Veja os principais pontos a seguir.
UOL: Você afirmou que as tarifas aeroportuárias do Brasil eram as melhores da região. Qual é a importância disso para uma low-cost?
Estuardo Ortiz: Quando você embarca em um voo internacional na América do Sul saindo do Brasil, você paga algo entre 12 a 15 dólares, enquanto em países como Argentina, Uruguai ou Colômbia esse valor pode chegar a 75 ou 80 dólares. Vendemos passagens a 100 dólares. As pessoas acabam pagando mais em taxas do que na tarifa aérea. Acho que um dos desafios para a conectividade na América do Sul é fazer em todos os países o que o Brasil já fez: baixar a tarifa de embarque.
Há planos de operar voos domésticos no Brasil ou expandir rotas internacionais?
Ortiz: Para nós, o Brasil continua sendo um mercado importante para o futuro. Agora estamos focando mais no desenvolvimento da Colômbia e da Argentina, mas claro, continuamos no Chile e no Peru, e, mais adiante, certamente veremos o Brasil como uma oportunidade para operações domésticas, mas não por enquanto.
Estamos apenas planejando iniciar operações para Recife a partir de Buenos Aires. Rio de Janeiro tem sido o foco principal para nós, com resultados muito bons. Estamos voando do Rio para Buenos Aires, Santiago do Chile, Montevidéu e vamos iniciar Córdoba, na Argentina, direto para o Rio.
Em 2023, a JetSmart encerrou a operação regular no aeroporto de Guarulhos. Por que essa decisão foi tomada?
Ortiz: Às vezes, quando surge uma oportunidade, precisamos aproveitá-la. Temos que focar agora, como companhia, em aumentar a escala e capacidade nos países em que já estamos.
Como a regulação brasileira afeta a operação da JetSmart?
Ortiz: Precisamos manter a capacidade de vender passagens separadas da bagagem. Tarifas sem bagagem são críticas para uma companhia de baixo custo. Há iniciativas no Congresso para tornar obrigatória a inclusão de bagagem nas tarifas, e como já dissemos antes, dependendo do mercado, entre 30% a 60% dos clientes não levam bagagem. Se for obrigatório incluir, isso significa que temos que aumentar as tarifas.
Que mudanças são necessárias nos marcos regulatórios para tornar o país mais atraente à JetSmart?
Ortiz: A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) tem feito um bom trabalho em simplificar regulações, introduzindo normas mais modernas. Mas o custo do combustível no Brasil é um problema.
Além disso, o custo com reclamações de clientes é não apenas muito alto, mas também muito imprevisível. Você não sabe qual será o custo. É muito discricionário, e 90% das reclamações jurídicas globais vêm do Brasil, mas o país representa menos de 1% do tráfego.
Existem mudanças estruturais que são críticas para tornar o mercado brasileiro mais atraente, mais sustentável, para ter um operador local escalável no país.
Essas ações judiciais, especialmente no Brasil, são uma ameaça às companhias aéreas?
Ortiz: Claro que já temos essas ações, porque voamos para o Brasil. [...] É muito imprevisível, você não sabe em que grau, quantas ou o tamanho delas, e isso é importante.
Por que a JetSmart apostou na América Latina?
Ortiz: Vimos uma oportunidade lá atrás, em 2016. A América do Sul é uma região grande, com cerca de 600 milhões de pessoas. Só um terço dessas viaja. Faz sentido oferecer um produto baseado em produtividade, com aviões novos, tarifas baixas. E o modelo funcionou. Ganhamos o prêmio Skytrax de melhor low-cost da América do Sul pela terceira vez.
Como está a taxa de ocupação dos voos?
Ortiz: Estamos registrando, de fato, os maiores fatores de ocupação da nossa história neste semestre.
Como ser competitivo em um mercado com tantos concorrentes?
Ortiz: Acreditamos que temos o menor custo do mercado. Continuamos sendo muito competitivos. Nossa proposta ao cliente tem sido muito bem-sucedida. [...] O modelo ULCC (Ultra Low Cost Carrier) e nosso 'Smart Model to Fly' funcionam e continuam atraindo clientes.
* O colunista viajou a Santiago a convite da JetSmart e a Bogotá a convite da Iata.
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