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Pagou mas não levou: Os C-130 líbios retidos nos EUA desde os anos 1970

Desde o início da década de 1970, oito aviões C-130 Hercules encomendados pela Líbia estão estacionados nos Estados Unidos sem autorização para deixar o país. Embora possa parecer que a retenção foi feita devido a um suposto calote, eles foram pagos integralmente e produzidos pela empresa Lockheed Martin.

Hoje, entretanto, ficam expostos à deterioração. O verdadeiro motivo de as aeronaves estarem presas nos EUA até hoje sem poderem ser usadas se deve a um impasse político-diplomático.

As aeronaves são, oficialmente, propriedade Líbia, mas estão bloqueadas por sanções e embargos de exportação aplicados pelos EUA ao país.

A compra

Em meados de 1969, antes da ascensão de Muammar Gaddafi (1942-2011) ao poder, a Líbia contratou com a Lockheed Martin para a compra de oito aviões de transporte multimissão C-130 Hercules. As aeronaves foram fabricadas, pintadas com camuflagem desértica e ficaram prontas, mas sem trocarem de mãos, ficando nos EUA.

O valor do negócio à época foi estimado em US$ 70 milhões. Entretanto, logo após a compra, Gaddafi expropriou ativos de empresas americanas e fechou bases militares dos EUA na Líbia.

Como resposta, os EUA impuseram restrições de exportação de armamentos, interrompendo a entrega dos aviões.

Histórico entre os países

Durante a década de 1970, o governo dos EUA cancelou licenças militares e proibiu novas vendas de armas à Líbia. O Departamento de Estado orientou a Lockheed a realocar os C-130 para outro país, deixando claro que a decisão era irreversível.

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Em 1979, o governo dos EUA reconheceu que os aviões, embora pagos e em solo americano, estavam retidos sem licença de exportação. A Lockheed Martin manteve os aviões sob custódia, com os custos de armazenamento sendo arcados inicialmente pela Líbia. Com o passar do tempo e o agravamento das sanções, esse controle foi repassado aos EUA.

Onde estão?

Os oito Hércules estão armazenados ao ar livre na base da Lockheed ao lado da Dobbins Air Reserve Base, em Marietta, Geórgia. Eles eram mantidos inicialmente com revisões periódicas, mas hoje se deterioram por ação do tempo.

O governo dos EUA continua a gastar com Lockheed pelas taxas de estacionamento e guarda, mesmo sem voos ou uso operacional. Os aviões são propriedade oficial da Líbia, o que proíbe sua venda ou sucateamento sem liberar as devidas licenças.

Por que não são utilizados?

A principal razão para os aviões estarem parados até hoje é política. Os embargos militares norte-americanos à Líbia permanecem vigentes, sem autorização de exportação.

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Em 2005, o governo Bush autorizou uma isenção parcial das sanções para que os aviões fossem inspecionados, com possibilidade de futura reforma. No entanto, a licença de exportação nunca foi emitida, e as aeronaves seguiram retidas.

Essa briga, mesmo após a queda de Gaddafi, não parece ter um fim próximo. Enquanto isso, os EUA continuam responsáveis pela guarda dos oito cargueiros, sem qualquer perspectiva de que recebam destino definitivo.

Fontes: CIA, Departamento de Estado dos EUA, Jornal Marietta

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