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Engenheiro fatura R$ 100 mil com curativo feito para a própria mãe

Talita Boros

Do UOL, em Curitiba

16/10/2013 06h00

Após acompanhar por 10 anos as tentativas de cicatrização de diversas úlceras nas pernas da mãe, Vitória, o engenheiro florestal João Carlos Moreschi, 66, decidiu estudar uma forma de desenvolver um curativo que auxiliasse na secagem das feridas.

Em uma conversa com o médico que a atendia, Moreschi percebeu que a dificuldade de cicatrização era agravada pela falta de "respiro" dos curativos usados nas feridas. "Minha mãe já não andava mais. As feridas ficavam abertas e eram grandes", conta.

Com um investimento inicial de R$ 50 mil, Moreschi criou a Membracel, em 2000, e começou a produzir, em Curitiba (PR), o Membrana Regeneradora Porosa Membracel. Hoje, fatura R$ 100 mil por mês com o produto, que comercializa para hospitais.

Moreschi, que já trabalhou na área de microbiologia e celulose, começou a pesquisa para criar o curativo em 1992. O desenvolvimento da membrana porosa durou seis anos.

"Durante esse tempo, desenvolvemos o cultivo da celulose bacteriana, produto do curativo, com maior qualidade e menor custo possível", declara.

Após realizar todos os testes, as feridas da mãe foram cicatrizadas.

Moreschi, então, deu entrada no pedido de patente em 2000 e, três anos depois, conseguiu registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para venda e comercialização do curativo.

Usada especialmente para feridas crônicas e queimaduras, hoje a membrana é produzida em escala comercial na empresa, em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba.

"Ela funciona como uma barreira fisiológica. Isola a ferida de bactérias, mas, ao mesmo tempo, permite a passagem de líquidos, o que é comum em machucados", explica o pesquisador.

As vendas começaram em consultórios médicos e hospitais, mas agora a empresa se prepara para distribuir o curativo para farmácias.

"Somos uma empresa pequena, por isso começamos dessa forma. Fizemos um trabalho com os médicos, para que eles pudessem conhecer o produto e, então, passassem a utilizá-lo. Fazer propaganda na televisão, por exemplo, banaliza o produto. Não dá", afirma.

A expectativa é que o curativo esteja disponível em pelo menos 500 pontos de vendas pelo país até o fim deste ano.

Negócios em família

Hoje, a Membracel é comandada pelos filhos de Moreschi e atende mensalmente cerca de 3.000 pacientes tratados com a membrana. Segundo Thiago Moreschi, 30, atual diretor da empresa, nos últimos dois anos o negócio cresceu quase 300%.

"Passamos de um faturamento de R$ 15 mil para mais de R$ 100 mil por mês", diz. De acordo com ele, a fábrica tem condição de produzir 11.500 membranas grandes por mês.

Mercado tem demanda para novas tecnologias

O cirurgião plástico Luiz Henrique Calomeno, que trata de queimados no Hospital Evangélico de Curitiba, afirma que a eficácia do curativo poroso é muito positiva para queimaduras superficiais, principalmente de face e em crianças. "O benefício da membrana é que ela não necessita de trocas frequentes. Por exemplo, podemos fazer uma avaliação diária da ferida sem precisar abri-la", diz.

Segundo o médico Vitor Morais, fundador do EmpreenderSaúde, site de novos negócios em saúde, o mercado  tem muitas demandas por novas tecnologias. Para quem pretende investir na área de saúde, o especialista diz que o foco deve ser a inovação.

"Há espaço para produtos novos e 'antigos'. É possível oferecer um mesmo produto de maneiras totalmente diferentes, inclusive mais eficientes. É difícil vencer nessa área sem inovar em uma das três maneiras possíveis: produto, processo ou modelo de negócio", afirma o médico.

Multinacionais são principais concorrentes

Para enfrentar a concorrência, formada basicamente por multinacionais fabricantes de produtos para tratamento de feridas, a empresa paranaense apostou em um diferencial.

"O que já existia era um curativo para cada fase da cicatrização. Por exemplo, um para a infecção, usado no começo, que depois tinha que ser trocado diversas vezes por outros, até o recobrimento da pele. O nosso é um só tipo para todo o processo", explica o diretor da empresa.

De acordo com a Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios), o setor atingiu R$ 4,8 bilhões em produção no ano passado. Somente em 2012, foram investidos R$ 307 milhões na área de saúde.