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Demitido de montadora cansa de procurar emprego e usa poupança em franquia

Evandro Nunes é dono de um quiosque da NYS Collection em Santo André - Divulgação
Evandro Nunes é dono de um quiosque da NYS Collection em Santo André Imagem: Divulgação

Larissa Coldibeli

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/10/2015 06h00

Prestes a completar 50 anos, Evandro Moreira Nunes perdeu o emprego de coordenador de projetos em uma montadora do ABC, na qual passou os últimos 20 anos da carreira. A dificuldade de encontrar uma nova colocação o levou a empreender. Desde junho, é dono de um quiosque da franquia NYS Collection, de óculos de sol e grau, em um shopping em Santo André, onde mora. 

Nunes é um dos muitos casos de pessoas que empreendem por necessidade em meio à crise. Foi justamente na faixa etária de Nunes, de 25 a 49 anos, que a taxa de desocupação cresceu mais em um ano, com alta de 65% em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado, nas principais regiões metropolitanas do país.

“Em dois meses, mandei quase mil currículos por sites de empregos, mas vi que seria difícil me recolocar, por causa da crise econômica, da minha idade e da minha faixa salarial. Fiz algumas entrevistas em que me ofereciam menos da metade do salário que eu ganhava e não aceitei. Conversei com a família e resolvi partir para o negócio próprio”, diz.

Empreendedor usou 55% da poupança 

Ele afirma que começou a pesquisar redes de franquias no site da ABF (Associação Brasileira de Franchising), por serem negócios com modelos definidos. Entrou em contato com marcas de alimentação, cosméticos, vestuário e acessórios. Chegou a ter as negociações avançadas com uma rede de alimentação, mas desistiu por causa do alto preço do aluguel do ponto comercial.

Até que, poucos dias depois do primeiro contato, recebeu uma resposta da NYS. “Eles diziam que tinham negociado um ponto em um shopping que fica a 15 minutos de carro da minha casa e fui conhecer. Achei interessante porque é uma marca nova, tem poucas lojas do ramo especializadas em produto popular e estava dentro da minha expectativa financeira.” 

Segundo a NYS, o investimento inicial para uma unidade é de R$ 148,5 mil (inclusos custos de instalação + taxa de franquia + capital de giro). O faturamento médio mensal é de R$ 40 mil, com lucratividade de 15% (R$ 6.000). O retorno do investimento é a partir de 20 meses. Os produtos da marca custam de R$ 175 a R$ 360. Ele diz que usou cerca de 55% da sua poupança para abrir o negócio.

Dono de negócio era cliente dos concorrentes

Nunes diz que tinha conhecido a marca durante uma viagem à Orlando, nos EUA, no começo do ano, mas também pesquisou a origem do negócio na internet. Ele se passou por cliente em outra unidade para conhecer o atendimento e procurou franqueados da rede. Conseguiu falar com apenas um, que tem três unidades na região de Campinas. Também assistiu ao vídeo de um franqueado apresentado pela franqueadora.

A pesquisa sobre o local onde ia se instalar e a concorrência não foi grande. “O shopping tem 18 anos, conheço desde o lançamento, frequentava sempre. Já conhecia os concorrentes que tinha lá porque eu era cliente deles. Vi o potencial pelo preço, pois sabia que os concorrentes praticavam valores mais altos”, diz.

Trabalho é mais árduo do que antigo emprego

Como dono do próprio negócio, Nunes diz que hoje trabalha mais do que antes, por causa dos finais de semana sem folga. A vantagem é a liberdade para fazer pausas durante a tarde, por exemplo. O rendimento ainda está longe de seu salário antigo, mas ele acredita no potencial do negócio quando a crise econômica passar. Sua principal dificuldade até agora é lidar com os funcionários.

Entre o primeiro contato com a empresa e a assinatura do contrato passou cerca de um mês. “Quanto mais dados você pega, principalmente financeiros, mais medo você cria. Não gosto de focar nos detalhes porque cria barreira. Apesar do frio na barriga, tomei a decisão de abrir o negócio rapidamente porque não queria ficar parado”, declara.

Investir em franquia não é comprar emprego, diz especialista

Luis Stockler, da consultoria BaStockler, diz que quem encara o empreendedorismo como uma alternativa ao desemprego pode se frustrar. “Se a pessoa acha que, com uma franquia, está comprando um emprego, ela está errada. É preciso entender que os rendimentos vão ser variáveis, que vai trabalhar mais do que quando era empregado e vai correr riscos. Se errar, ela paga a conta com o dinheiro do próprio bolso.”

Ele diz que o ideal é pesquisar vários tipos de empresas e conhecê-las profundamente, comparando os planos de negócio. Não se deixar levar pelo impulso ou pelo desespero do desemprego e de ficar parado em casa pode ajudar a evitar ciladas.

“Às vezes, é melhor aplicar o dinheiro no banco até ter a certeza de que achou a melhor opção ou até aceitar um emprego que pague menos, só para não ficar parado enquanto o dinheiro rende, do que arriscar a poupança de uma vida com um negócio que não conheceu a fundo”, declara.

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